A ANTIGUIDADE NOS
QUADRINHOS: O USO DOS 300 DE ESPARTA DE FRANK MILLER NO ENSINO DE HISTÓRIA
Na
atualidade, devido aos avanços científicos e tecnológicos, uma gama de
conhecimentos e possibilidades de compreensão surge. “As mudanças culturais
provocadas pelos meios audiovisuais e pelos computadores são inevitáveis, pois
geram sujeitos com novas habilidades e diferentes capacidades de entender o
mundo" (BITTENCOURT, 2011, p. 108.). Nessa
perspectiva, o profissional de História – que também está inserido nesse
contexto de mudanças culturais e avalanches de informações – deve apropriar-se
desses meios como ferramenta pedagógica. Um dos meios que mais podem ser
proveitosos para o ensino de História são as histórias em quadrinhos. Para José
Maria Neto:
“a
literatura em geral, e os quadrinhos em especial, emergem como poderosos
elementos para o aprendizado desta História, pois estão repletas de
inquietações, servem às comemorações e rememorações da realidade, propiciam
novas estratégias de ensino e a produção do conhecimento histórico sob a capa
da espontaneidade.” (SOUZA NETO, 2016, p. 131).
Partindo
dessa perspectiva, os quadrinhos, apesar de partirem do campo ficcional, trazem
consigo um leque de possibilidades de interpretações sobre o passado retratado
e abrem espaço para as mais variadas discussões em sala, dependendo da
finalidade que o profissional de História dará para essa ferramenta e do interesse
do mesmo e dos alunos (WERGUEIRO,
2005, p. 22). Dentro da perspectiva
educacional brasileira, Paulo Ramos, em seu livro “A leitura dos quadrinhos”,
mostra a relação entre quadrinhos e educação:
“a presença
deles [os quadrinhos] nas provas de vestibular, a sua inclusão no PCN
(Parâmetro Curricular Brasileiro) e a distribuição de obras ao ensino
fundamental (por meio do Programa Nacional Biblioteca na Escola) levaram
obrigatoriamente a linguagem dos quadrinhos para dentro da escola e para a
realidade pedagógica do professor.” (RAMOS,
2014, p. 13)
Uma vez
que os quadrinhos fazem parte do universo cotidiano dos educandos, é necessário
que o professor busque entender os fundamentos da linguagem dos quadrinhos e
preparar-se metodológica e teoricamente para a utilização dos mesmos em sua
vivência profissional. Em outras palavras, “ler quadrinhos é ler sua linguagem.
Dominá-la, mesmo que em seus conceitos mais básicos, é condição para a plena
compreensão da história e para a aplicação dos quadrinhos em sala de aula e em
pesquisas.” (RAMOS, 2014, p. 30)
A partir
da apropriação dos procedimentos teórico-metodológicos adequados pelo professor
de História Antiga, os quadrinhos, segundo Túlio Vilela, tornam-se “mais um
recurso pedagógico que pode trazer bons resultados se bem empregados” (VILELA, 2005, p. 106).
Não
obstante, assim como qualquer fonte histórica, as obras ficcionais são fruto de
seu tempo, ou seja, possuem um contexto de criação que deve ser levado em
consideração. Como já afirma Paulo Ramos, “quem produz a obra tem uma intenção
ao escrevê-la” (RAMOS,
2014, p. 19). Em concordância com Ramos,
Túlio Vilela enfatiza que “toda obra de ficção histórica fornece mais
informações a respeito da época em que foi criada do que sobre a época em que é
ambientada” (VILELA,
2005, p. 109). Nesse sentido, o professor
de História Antiga deve estar atento ao uso dos quadrinhos em sala de aula. É ele
quem deve mediar a leitura dos quadrinhos, chamando atenção às imprecisões
históricas contidas nas obras, por exemplo. Como bem salientou José Maria Neto,
apesar de haverem imprecisões em determinadas obras, “ao invés de provocar a
rejeição da obra na sala de aula, elas devem, pelo contrário, servir ao
aprendizado” (SOUZA NETO,
2016, p. 134). Porém, a intervenção do
professor é imprescindível no momento do aprendizado, tomando os “erros” como
ponto de partida para “informações historicamente corretas” (VILELA, 2005, p. 121) e discussões, contribuindo de forma positiva para
construção do conhecimento histórico.
Conforme
discutido anteriormente, as histórias em quadrinhos possuem um potencial
pedagógico ímpar se bem utilizado pelo professor de História, fornecendo ao
professor que lida com a leitura dos quadrinhos “amplas oportunidades de
envolvimento com seus alunos” (SOUZA
NETO, 2016, p. 135). Quadrinhos
que buscam representar a Antiguidade – construtores, portanto, de uma cultura
histórica – servem ao propósito da aprendizagem sobre o período representado.
Ademais, quadrinhos que dialogam com as fontes clássicas expandem as discussões
em sala de aula. Nesse grupo, destaca-se a Graphic Novel ‘Os 300 de Esparta’,
de Frank Miller.
Lançado
em 1998, em 5 edições pela Dark Horse Comics, o quadrinho retrata o episódio da
Batalha das Termópilas (480 a.C.) durante as Guerras Médicas, entre gregos e
persas. No universo criado por Frank Miller, os guerreiros espartanos são representados
como bravos guerreiros, corajosos e defensores da liberdade, lutando contra um
inimigo – neste caso, os persas – que veio para subjugar a Hélade e os helenos.
Segundo
André Reinke, diversas cenas contidas na obra de Miller “remetem diretamente às
informações contidas na ‘História’ de
Heródoto” (REINKE, 2013, p. 14).
Considerado o “pai” da História, Heródoto foi o primeiro a se preocupar em
registrar os eventos históricos através do olhar investigativo, para que os
acontecimentos humanos não se percam na linha da História (HERÓDOTO,
livro I, introdução)
A
narrativa de Heródoto, especificamente no relato sobre a Batalha das
Termópilas, demonstra uma perspectiva heroica e mítica dos gregos defendendo a
Hélade contra o inimigo persa – discurso este apontado por André Leitão:
“Contudo, o discurso a quem chamamos de ‘pai da História’ é um tanto quanto
subjectivo (...) e profundamente enraizado no místico, no sagrado e no divino,
o que retira por vezes alguma credibilidade ao seu testemunho” (LEITÃO,
2010, p. 208).
Deve-se
enfatizar, porém, que a proposta aqui não é discutir a questão da
verossimilhança da obra de Heródoto como verdade histórica, mas estabelecer
comparações com a obra ficcional de Frank Miller – que se apropriou do evento
registrado pela fonte historiográfica, dos vestígios históricos e das
informações relacionadas à cultura grega para construir a narrativa de sua obra
– e trabalhar algumas dessas comparações – e imprecisões, em alguns momentos – como
ferramenta de abertura para a discussão e construção do conhecimento histórico
em sala de aula.
É
importante destacar que Frank Miller, apesar de ter feito uma pesquisa histórica
– até certo ponto – para construir sua narrativa, não possui o compromisso que
o historiador de ofício tem. Miller é um quadrinista, voltado para um “mercado
ávido por novidades no qual a imaginação tem a primazia”
(REINKE, 2013, p. 30). Ao
contrário do meio ficcional, “a historiografia tem a incessante busca da
verdade do que houve, prerrogativa que ela não pode deixar, ao custo de perder
sua função” (LIMA, 2006, p. 21 apud REINKE, 2013, p. 32). André Reinke defenderá, porém, que o autor é
considerado um historiador do ethos
antigo: Assim como Heródoto, atua como pesquisador de fontes históricas e parte
de uma operação historiográfica para construir sua narrativa. Entretanto,
Heródoto e Miller não pertencem à História enquanto instituição, que segue
moldes e técnicas preestabelecidas. Sobre esta afirmação, Reinke complementa:
“O
quadrinista realizou uma tarefa de historiador em ‘Os 300 de Esparta’; se
comportou como um historiador antigo, quando ainda não havia uma instituição –
a História enquanto academia – e pares aos quais se reportar e com os quais
constróis a historiografia a partir de regras, técnicas e atitude intelectual.”
(REINKE, 2013, p. 33)
A
pesquisa de Frank Miller em Heródoto torna-se perceptível em toda a sua obra.
Para retratar as Guerras Médicas – e a Batalha das Termópilas – Miller
utiliza-se das informações contidas na ‘História’, alterando, por vezes, a
ordem dos fatos – gerando imprecisões – para atender aos propósitos de sua
narrativa. Exemplo dessa mudança os fatos é quando o Rei Leônidas atira os
emissários de Xerxes em um poço.
Fig. 1
(MILLER, 2015)
De acordo
com a narrativa de Heródoto, o fato é que tal episódio não ocorreu no contexto
na 2ª Guerra Médica, empreendida por Xerxes, mas por seu pai, Dario, na 1ª
guerra:
“Xerxes
não havia mandado arautos a Atenas nem a Esparta para pedir a vassalagem da
terra e da água pela seguinte razão: quando Dareios os tinha mandado anteriormente
como o mesmo objetivo, os atenienses os haviam lançado ao Báratron e os
espartanos a um poço, dizendo as arautos para tirarem de lá a terra e a água a
ser levadas ao rei; (HERÓDOTO, livro VII, 133)
Analisando a imagem, nota-se que até o
discurso de Leônidas se assemelha com o do relato de Heródoto. A “terra e a
água” referida pelos espartanos da 1ª Guerra Médica aparece na fala de
Leônidas. Frank Miller, além de colocar as falas e os discursos de Heródoto na
boca de seus personagens, faz uma alteração consciente do fato ocorrido “para
caber na sua proposta de apresentar os espartanos como indiferentes às
convenções que os outros povos prezavam” (REINKE, 2013, p. 35). A
proposta de Frank Miller é mostrar os espartanos como valentes e bravos
guerreiros. Uma cena que demonstra tal bravura é quando o hoplita Stelios
replica uma ameaça vinda de um comandante persa:
Fig. 2
(MILLER, 2015)
O que se
deve levar em consideração é que a fala imponente de Stelios não é atribuída a
ele, mas a Diecenes, segundo a narrativa de Heródoto:
“Os
lacedemônios e os téspios se comportaram com coragem igual, mas segundo se diz
um homem sobrepujou todos os outros em bravura – o espartano Diecenes –, que de
acordo com esses relatos teria se pronunciado as palavras mencionadas a seguir
antes de entrar em combate com os medos: ouvindo um dos traquínios dizer que,
quando os bárbaros disparavam os arcos, o sol era ocultado pela enorme
quantidade de suas flechas – tão grande era o seu número – ele, sem se
perturbar e sem dar a menor importância à imensidão das tropas medas, teria
dito que a notícia trazida pelo estrangeiro de Traquis era excelente, pois se
os medos escondiam o sol os helenos iriam combatê-los à sombra, e não ao sol.
Além dessas palavras citam-se outras análogas do lacedemônio Diecenes, que
perenizam a sua memória.” (HERÓDOTO, livro VII, 226)
Apesar
disso, Miller, assim como sua fonte, ressalta a determinação e a bravura dos
guerreiros espartanos frente ao inimigo, embora faça uma manipulação consciente
dos discursos dos personagens.
Partindo
do que fora discutido em parte sobre a alteração dos fatos por Miller, tais
alterações e imprecisões podem servir como questionamentos e abrindo debates em
sala de aula, como por exemplo a representação dos espartanos como guerreiros
indiferentes. No quadrinho, os espartanos não se importam com a morte dos
emissários. Em contrapartida, os espartanos de Heródoto consideram a morte dos
mensageiros “algo indigno e que seria alvo de castigo pelos deuses”
(REINKE, 2013, p. 36).
“Após o
incidente supra-mencionado [a morte dos emissários], os espartanos não
conseguiam obter presságios favoráveis quando ofereciam sacrifícios. (...)
Aflitos e desolados com essa situação, os lacedemônios se reuniram em numerosas
assembleias e fizeram uma proclamação através de um arauto para saber se algum
de seus concidadãos se dispunha a morrer por Esparta; Spertias, filho de
Anéristos, e Búlis, filho de Nicôlaos, (...) ofereceram-se para ir à presença
de Xérxes a fim de sofrer a punição pelo assassínio dos arautos de Dareios
cometido em Esparta. Os espartanos mandaram-nos em seguida aos medos para ser
mortos.” (HERÓDOTO, livro VII, 134)
Não
somente a representação dos espartanos, mas também a dos persas surge como um
elemento de discussão em sala. Como bem pontuou José Maria Neto, a
representação dos gregos como heróis e defensores da liberdade e os persas como
bárbaros horrendos surge como posição excelente para a discussão histórica e,
“amparado nela, o profissional de História tem à disposição um amplo leque de
possibilidades para abordar o conteúdo” (SOUZA NETO, 2016, p. 136). O retrato dos persas nos ‘300 de Esparta’ está
longe de ser uma representação própria de Miller. O quadrinista traduz em imagens e palavras o
que está em voga desde a Antiguidade: o Oriente sendo visto como oposto,
bárbaro e horrendo, em oposição a um Ocidente livre, detentor da liberdade e da
justiça. Para François Hartog, “as guerras médicas serviram como certamente de
catalizador para a oposição entre gregos e bárbaros”
(HARTOG, 2003, p. 101-102) e tal oposição não se extinguiu:
“o
Ocidente se constitui como espaço em oposição polêmica ao Oriente, à Ásia, e
tem buscado naquelas que considera suas raízes primárias, a Grécia, a expressão
mais recuada deste choque, onde encontrou a descrição da liberdade, da
participação política, da individualidade e da autonomia, em contraposição aos
asiáticos dominados e subservientes.” (SOUZA NETO, 2016, p. 136)
A cena do
avanço persa frente ao exército espartano mostra explicitamente essa “tradução”
em imagens e palavras à respeito dos persas:
Fig. 3
(MILLER, 2015)
“Feras do
deserto” e “bárbaros uivando” são suficientes para demonstrar essa oposição. Os
persas são homens escravizados (Cf HERÓDOTO, livro VII, 53 e 56) e escravizadores, de pele escura e feições
disformes, enquanto os espartanos são mostrados como homens de barba cerrada,
longos cabelos e faces duras e longilíneas. As cem nações caindo sobre os
espartanos – aludindo às informações de Heródoto (Cf HERÓDOTO, Livro VII, 62-80)– revelam
também uma possível louvação aos gregos, como discute Leitão:
“Esta hiperbolização
do número de combatentes persas (...) pode (...), e talvez até com maior
probabilidade, traduzir uma estratégia de enaltecimento daqueles que virão a
ser derrotados (os helenos) – ao pôr toda sua ênfase nos cinco milhões de
bárbaros que combatem contra um pequeno punhado de homens, Heródoto consegue
provocar, nos seus leitores, uma identificação com a parte mais fraca, e
tornará verdadeiramente grandiloquente a derrota helênica, catapultando os
vencidos para a glória.”
(LEITÃO, 2010, p. 219)
Assim
como Heródoto, Frank Miller também se propõe em causar impacto ao leitor. “Cem
nações caem sobre nós” produz uma sensação de grande perigo. Outras sensações
também são desencadeadas ao longo da obra através dos aspectos visuais. Em
outras palavras, a síntese de sensações “se torna ainda mais operacional nos
quadrinhos pela possibilidade do autor trazer imagens sobrepostas por palavras
que instigam a interpretação do leitor por meio de diversos recursos visuais
que produzem sensações e interpretações por parte do leitor” (REINKE, 2013, p. 17). Complementando a questão dos elementos estéticos
em relação às emoções e interpretações, nos quadrinhos, Scott McCloud discute:
“Muitas
experiências humanas podem ser retratadas em quadrinhos através de palavras e
figuras. (...) Em quadrinhos, as palavras e imagens são como parceiros de dança
(...), quando cada parceiro assume seu papel, e se apoiam mutualmente, os
quadrinhos podem se equiparar a qualquer uma das formas de arte da qual extrai
seu potencial.”
(MCCLOUD, 2005. p. 152 e 156)
A
proposta do uso das histórias em quadrinhos como ferramenta pedagógica vem ao
encontro dos diálogos estabelecidos ao longo das últimas décadas entre os
vários campos da historiografia, e que se cristalizam no plano comum do Ensino
da História: atravessa
transversalmente os conhecimentos (da Antiguidade à Contemporaneidade, através
da imagem e das histórias em quadrinhos) no intuito de provocar a reflexão e o
debate nos futuros professores de História e nos alunos da rede de ensino
básico, estimulando-os à reflexão enquanto sujeitos no mundo e atentos
ao seu papel como produtores de conhecimento, formadores de pessoas e cidadãos conscientes
em seu meio.
Referências
Márcio Vitor Santos
é Mestrando
em História pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Rural de
Pernambuco (PGH - UFRPE), graduado em Licenciatura em
História pela UPE e é membro do Leitorado Antiguo.
O trabalho teve
orientação do Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto.
BITTENCOURT, Circe M. F.
Ensino de História: fundamentos e
métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
HARTOG, François. Os antigos, o passado e o presente.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003.
HERÓDOTO.
História. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1985.
MCCLOUD, Scott. Desvendando
os quadrinhos. São Paulo: M. Books, 2005.
MILLER,
Frank. Os 300 de Esparta. 4. ed. São Paulo: Devir, 2015.
LEITÃO, André O. As Termópilas
(480 a.C), entre o mito e a realidade: perspectivas. In: SANTOS, António R.
dos; VARANDAS, José (org.). A guerra na
Antiguidade III. Portugal: Caleidoscópio, 2010.
RAMOS,
Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: contexto, 2014.
REINKE,
André D. Isto é Esparta!: a operação
historiográfica na construção ficcional dos quadrinhos Os 300 de Esparta de Frank Miller. 2013. 67 f. Monografia
(graduação em Licenciatura em História). Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2013.
SOUZA NETO, José Maria Gomes de. ENSINO DA HISTÓRIA ANTIGA E ARTE
SEQUENCIAL: ESBOÇOS INTRODUTÓRIOS. In: BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli;
CREMA, Everton (orgs). Para um novo
amanhã: visões sobre aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da
Vitória: Edição LAPHIS/Sobre Ontens, 2016, p. 130-141.
VILELA, Túlio. Os
quadrinhos na aula de História. In: RAMA, Angela et
al. Como
usar os quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005.
WALDOMIRO,
Vergueiro. Uso das HQs no ensino. In: RAMA,
Angela et al. Como
usar os quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005.
Quero parabenizar o autor pelo trabalho realizado, pela proposta de um possível trabalho em sala de aula, buscando novas metodologias e a aproximação dos alunos com a leitura de HQ's, quem tem muitos a nos oferecer. No entanto senti falta de uma apresentação de como seria viável a aplicação de tal metodologia.Com isso pergunto, você enquanto professor já aplicou essa metodologia em sala de aula e quais foram suas maiores dificuldades?
ResponderExcluiratt
Danslei Miranda dos Santos.
Olá, Danslei.
ExcluirDesde já, agradeço aos elogios e pontuações.
Do ponto de vista metodológico, o uso dos quadrinhos requer, antes de mais nada, contextualização e alinhamento com o conteúdo que está sendo abordado em sala no momento.
No caso dos 300 de Esparta, que retrata a Batalha das Termópilas, é interessante que o professor aborde o assunto - as Guerras Médicas - previamente com os alunos, buscando familiariza-los. A partir dessa contextualização, o quadrinho (ou algumas imagens específicas, dependendo da proposta de trabalho como o mesmo) é levado para a sala de aula e através do cruzamento com as fontes da Antiguidade (o Histórias de Heródoto, por exemplo), os debates sobre alteridade, costumes e representações são muito bem vindos, contribuindo assim para a construção do conhecimento histórico e do indivíduo como sujeito histórico.
Uma dificuldade encontrada ao longo do planejamento foi a distribuição do quadrinho, sendo esta resolvida através da digitalização do mesmo e sua exibição com recursos audiovisuais (datashow)
Abraços.
Márcio Vitor Santos
Parabéns pelo trabalho Márcio, adorei sua abordagem. No entanto queria saber mais detalhadamente como você levou esse temática para a sala de aula?
ResponderExcluirAna Maria Lucia do Nascimento
Olá, Ana Maria.
ExcluirPois bem, como um leitor ávido de quadrinhos, percebo que esses materiais possuem grande potencial em sala de aula, dependendo, obviamente, do preparo e do domínio da ferramenta pelo professor.
Os quadrinhos fazem parte do cotidiano dos alunos, seja pela internet ou edições físicas. Em tempos de boom de filmes de super-heróis baseados em quadrinhos, os alunos se tornam mais próximos das HQs. Portanto, o consumo desse tipo de material inclui-se na rotina dos mesmos.
Visto isso, o uso dos quadrinhos em sala de aula torna-se um atrativo, pois os alunos conhecem - mesmo que em níveis básicos - esse tipo de mídia. Consequentemente, demonstram interesse em aprender História através dos quadrinhos.
Abraços.
Márcio Vitor Santos
Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho, também busco pensar a aplicação de histórias em quadrinhos em sala de aula como uma ferramenta que traga a História para uma realidade mais próxima e tangível ao aluno por meio da identificação. Gostaria que se me pudesse, respondesse como você concebe/conceberia uma aula utilizando-se da HQ dos 300 de Esparta, poderia ser uma explicação bem técnica apenas demonstrando como você dividiria os momentos da aula no tocante ao conteúdo em que você englobaria a fonte e também se você vê como possível ou viável a adesão do filme homônimo dirigido por Zack Snyder como uma fonte secundária, onde poderiam ser traçados paralelos de semelhanças e diferenças para com a fonte primária, isto é a HQ de Miller.
ResponderExcluirAtt.
João Matheus Ramos
Olá, João.
ExcluirMuito obrigado pelas parabenizações.
Pois bem, estruturando como plano de aula, o uso dos 300 de Esparta ficaria assim:
1ª aula: Exposição e contextualização das Guerras Médicas;
2ª aula: Debates introdutórios sobre alteridades e representações;
3ª e 4ª aula: Uso da HQ (requer contextualização prévia sobre a obra em si) para fins de análise das imagens e textos associadas às fontes da Antiguidade (História de Heródoto, por exemplo)
Dependendo da proposta de trabalho e dos temas a serem discutidos pelo professor, o uso da HQ se abre como uma excelente possibilidade de aprendizado sobre o evento histórico em questão.
O filme do Zack Snyder também pode ser utilizado. Contudo, da forma como você elaborou seu questionamento, sua ideia é fazer a comparação entre HQ e filme... É uma possibilidade, mas devido ao pouco tempo que nós, professores de História, detemos em sala, talvez fique inviável estabelecer tal comparação.
Uma alternativa para o uso do filme do Snyder é substitui-lo pela HQ, tratando-o como a fonte primária e contextualizando-o em seu momento e lugar de produção, uma vez que, para Marc Ferro, os filmes funcionam como uma contra-análise das sociedades que os produziram.
Márcio Vitor Santos
Ah sim, achei muito interessante essa proposta de plano de aula, atendeu com clareza o que eu desejava saber, parabéns. Quanto ao filme, sendo assim, talvez valha mais a pena utilizá-lo apenas como uma citação ou recomendação mesmo, já que de fato o tempo, ou a falta deste, é uma das variáveis mais complexas com as quais o professor tem de lidar em seu dia-a-dia. Muito obrigado pela resposta.
ExcluirAtt.
João Matheus Ramos