A HISTÓRIA NA ERA
GOOGLE: O PAPEL DO HISTORIADOR PÚBLICO DIGITAL FRENTE ÀS ARMADILHAS
REVISIONISTAS
#Ciberhistória
De
acordo com Serge Noiret (2015), o advento da internet dissolveu a visível
distinção entre história acadêmica e as práticas públicas em relação ao
passado, oferecendo o acesso à documentação histórica e a comunicação nas
formas de “ego-narrações” referentes ao passado. A Web 2.0 permitiu uma maior
interação entre a narrativa histórica e os leitores, aonde esses ganham a
possibilidade de participar dessa construção por meio de comentários, sugestões
e, até mesmo, correções. Para o autor,
“A
‘história digital’ (digital history),
que disciplina a relação entre as tecnologias de rede e a disciplina história,
por meio das plataformas sociais e das mídias sociais, contribuiu, assim, para
abrir a um público maior, e também de forma participativa, à “alta cultura” e,
nos melhores casos, com a mediação de historiadores profissionais, os
historiadores públicos” (NOIRET, 2014: 34).
A
partir desta segunda geração (Web 2.0), devemos observar a história como algo
mais “vivo” e “público”, compreendendo que os integrantes desses mares
participam de forma autônoma, ativa e interativa. Tais percepções nos remetem
ao fazer da História da década de 1980, pautado numa narrativa linear e
vertical.
Em torno do que se convencionou chamar de uma historiografia
digital, Lucchesi (2014) desenvolveu em seu trabalho dissertativo, ‘Digital History e Storiografia Digitale:
estudo comparado sobre a escrita da história no tempo presente (2001-2011)’,
um estudo comparativo entre a história digital estadunidense e a italiana,
buscando identificar as semelhanças e as diferenças entre as correntes de
pensamento historiográficas que se debruçam sobre a relação entre história e
internet. Seu trabalho foi fundamental para abrir um leque de possibilidades e
questionamentos para se pensar a importância dos historiadores na análise dos
dados produzidos e/ou transportados pelos oceanos digitais, evidenciando a necessidade
de reflexão sobre o papel exercido por estes sujeitos.
A autora localizou pontos de anuência e discordância entre as
correntes, todavia, ambas percebem que a oficina histórica sofre profundas
transformações na era digital. Nos EUA, as preocupações giram em torno da
conservação e manipulação da documentação digital, dos aspectos metodológicos e
estéticos ligados a escrita digital e do compartilhamento do conhecimento
histórico na web. Já na Itália,
discute-se questões ligadas a aceleração do tempo, ao estabelecimento de
critérios de verificabilidade documental e a “desterritorialização” das
narrativas históricas. Mesmo focando em questões diferentes, ambas as propostas
se colocam frente as problemáticas surgidas no ambiente virtual. Aqui,
assumiremos uma tentativa de conciliar ambas as propostas no processo de
interpretação dos dados, elemento indispensável para a oficina da história.
Lucchesi (2014), não assumiu essa posição conciliadora, mas apontou
possibilidades de anuência.
Para Carlo Ginzburg (2010), historiador italiano, estamos
vivendo a Era Google, ou tão somente a Era Ciber, de uma: cibersociedade, cibercidadania,
ciberlinguagem, cibercrime, ciberbullyng,
ciberconteúdo. De acordo com ele, o
Google, e consequentemente a internet, funciona como um poderoso instrumento de
pesquisa histórica, mas também de cancelamento dela, ao passo que o mundo
virtual provoca uma dimensão anti-histórica a vida humana, dissolvendo o
passado e fragilizando os conceitos de presente e futuro.
O
ponto apresentado pelo historiador italiano tem certo sentido, mas precisa ser
visto com cautela. Afirmar que o digital dissolve a relação com o tempo é negar
a própria existente da rede no tempo, ao passo que também reduz a capacidade de
reinvenção do ser humano, agarrando-se em verdades preestabelecidas que
determinam a maneira exata do sujeito lidar com o chronos. Desde o surgimento da humanidade a noção de tempo vem
sofrendo transformações. O Rizoma estabelece novas relações entre os sujeitos e
os saberes, cuja fluidez e multiplicidade soam estranhos aos olhos daqueles,
cuja visão de mundo prevalece o cartesianismo (DELEUZE; GUITTARI, 1995). O modo
como as pessoas sentem varia em decorrência com a visão de mundo, esta, por sua
vez, vinculada a fatores sociais, culturais, econômicos, políticos etc. Por
tanto, é válido a percepção de que este oceano virtual acabe por transformar os
sujeitos que nele mergulham, todavia, isto não provocaria o fim da história, apenas
a transformação dos sentidos sobre ela.
O
pesquisador observa que o hábito de não preservação dos dados virtuais
contribuiria para um processo de apagamento da história. Mas, em qual momento
da história não houve o processo de destruição documental? Tal preocupação
permeia, o discurso de praticamente todos os historiadores que trabalham com o
universo digital. É um problema real, para o qual não existe ainda uma solução.
No
que corresponde a cultura material, diante de tal situação imaginária, sabemos,
por uma questão de lógica, que em poucos anos não haveria espaço sequer para
andar pelas ruas. No universo virtual a situação não é tão diferente. A
grandiosidade desse oceano provoca a falsa percepção de infinidade,
prejudicando a noção espacial da maioria dos sujeitos que veem a internet como
uma bolsa mágica aonde é possível guardar tudo, sem nunca encher. É preciso
estabelecer critérios de preservação, garantindo a sobrevivência de uma parte
da documentação e determinando aquilo que deve ser guardado, cabendo esta
tarefa aos historiadores e aos outros profissionais que lidam com a memória.
Dilton
Maynard (2011), historiador brasileiro, também se preocupa com a problemática
da “dissolução do passado”. Para ele, as possíveis manipulações da história que
podem ser feitas na internet colocariam em risco o próprio passado. De fato, as
águas digitais possibilitam e alavancam as tentativas de revisionismos e
negacionismos históricos, já que o alcance dessas produções, antes restritas a
pequenos grupos na era analógica, atingem públicos cada vez maiores graças a
mundialização do ciberespaço. De acordo com o autor:
“Em
inversões interpretativas, os algozes são vítimas, qualquer tipo de
documentação que evidencie tortura, prisão, assassinatos e a racionalização das
mortes em campos de concentração e câmaras de gás é descartada como
‘falsificação’ [...] Em meio a apropriações simbólicas e batalhas de memória,
estes portais são exemplos de ferramentas eletrônicas dedicadas a promover uma
leitura intolerante da história sob pretensa pátina de luta por liberdade de
expressão” (MAYNARD, 2011:45).
O
foco de análise do historiador é o surgimento de comunidades neonazistas e
neofascistas no ciberespaço. Tomaremos essa proposta como exemplo para analisar
brevemente uma série de eventos que, por serem recentes, ainda carecem de
estudos mais aprofundados. Iremos esboçar algumas considerações sobre a
atribuição da etiqueta “esquerda” para o movimento nazista por usuários de rede
mundial de computadores no Brasil.
#Nazismo #esquerda
Desde
o começo desse século, é possível observar o “renascimento” de movimentos
políticos de extrema-direita (LÖWY, 2015), cujos pensamentos alinham-se a
ideias racistas, xenófobas, machistas, homofóbicas e conservadoras. Tais ideias
se espalham pela rede mundial de computadores, ganhando proporções gigantescas,
burlando as autoridades policiais (MAYNARD, 2011) e ganhando cada vez mais
adeptos.
A
hipertextualidade é utilizada por estes sujeitos para direcionarem seus
usuários para outros endereços de conteúdo semelhante, criando uma lógica
argumentativa, cujas bases de “prova” do que é dito se encontram nessa
referencialidade. Por conta do princípio “democratizador” da web, os viajantes dos oceanos digitais
acabam por desembarcar em ilhas de conteúdo duvidoso, mas que respondem aos
anseios de grande parte da população por apresentar um conteúdo simples e
baseado em senso comum e apelo moralizante.
No
Brasil, um clima de guerra ideológica foi instaurado desde 2013, quando uma
série de manifestações aconteceram, colocando sob dúvida a capacidade de
governabilidade da presidenta Dilma Rousseff. A maior parte desses eventos
foram organizados e divulgados pelas redes sociais, evidenciando um poder até
então desconhecido (COIMBRA & ABREU, 2018). Milhões de pessoas foram as
ruas bradar palavras de ordem, contra a corrupção, a desigualdade social, o
preço da passagem dos transportes públicos etc. Baseado em um “apartidarismo”,
a maior parte dos manifestantes se negavam a erguer qualquer bandeira política.
O grupo anarquista internacional Anonymous,
reivindicou para si a organização das manifestações. Em pouco tempo as
manifestações acabaram, mas as críticas não.
Em
2014, a presidenta se reelegeu em meio a uma das mais apertadas eleições
presidenciais. O clima de divisão política se intensificou e viu-se emergir nas
redes sociais páginas conservadoras, autointituladas de direita, que se
apropriaram das críticas apresentadas nas manifestações para iniciar um
processo de descrença do atual governo, culpabilizando o Partido dos
Trabalhadores (PT) por todos os problemas enfrentados pelo país. Por oferecer
respostas simples, com propostas de solução de mesmo modo, esses grupos
acabaram por atrair cada vez mais brasileiros (DEODATO & SOUSA, 2018).
Mesmo
após o Impeachment da presidenta
Dilma em 2016, o discurso de ódio tomou proporções cada vez maiores. As fakenews surgiram como uma ferramenta de
grande impacto para divulgação de notícias falsas pela web, sendo amplamente utilizadas por estes grupos. É consenso entre
os historiadores pelo mundo, independente de orientação política, que o Nazismo
foi um movimento de extrema-direita, inexistindo discussões em torno desse
fato. No Brasil, a situação se tornou tão complexa que até mesmo a embaixada
alemã resolveu explicar o porquê da posição dos historiadores.
Um
vídeo fora publicado na página do Facebook
da embaixada, aonde era exposto um resumo sobre esse trecho da história
alemã e como ela era ensinada por lá. A publicação se transformou em um campo
de batalha, aonde muitos brasileiros afirmavam que tanto os historiadores
quanto a embaixada estavam errados sobre o assunto. Na figura abaixo podemos
observar a captura de tela de um comentário revisionista na publicação da
embaixada:
FIGURA 1- COMENTÁRIO ENQUADRANDO O NAZISMO COMO UM
MOVIMENTO DE ESQUERDA
A
repercussão do caso chegou a ser retratada pela imprensa internacional, a
exemplo do The Washington Post, aonde
o tom de sarcasmo é amplamente utilizado para se referir aos revisionistas
brasileiros. A matéria analisa alguns desses comentários, explicando
historicamente os equívocos apresentados. Dentre os questionamentos oferecidos
à página localizamos inclusive um comentário que nega a existência do
holocausto, estabelecendo um elo discursivo entre essas falas e às páginas de
extrema-direita estudadas por Maynard (2011).
Uma
história sem historiadores toma conta das redes sociais, dos sites, blogs, enfim, da internet (LUCCHESI, 2014). Há
um processo de descrença e desaprovação do ofício do historiador, assim como
uma tentativa de apagar o passado, ou pelo menos parte dele. Tais
acontecimentos põe em evidência a necessidade de atuação do historiador como um
intermediador do processo de construção do conhecimento histórico no oceano
digital. Seu ofício precisa ser respeitado também nos espaços virtuais. Ao
historiador desse novo século o uso da ciberlinguagem pode ser uma ferramenta
importante para debater sobre essa onda de conservadorismo e de negacionismo.
Para enfrentar esse inimigo é preciso fazer uso das mesmas ferramentas,
distanciando-se no que concerne a ausência de criticidade documental. É preciso
seduzir os usuários por meio de uma história de base acadêmica, mas que também
se organiza por meio de hipertextos, possuindo uma linguagem que atinja a todos
os públicos.
Exemplo
dessa apropriação, o Café História se
configura como o maior site de
História Pública Digital do país. Seu maior objetivo é estabelecimento de um
diálogo entre a comunidade acadêmica e o grande público, oferecendo um conteúdo
dinâmico, atrativo e interconectado. O hipertexto e a hipermídia prevalecem, em
um jogo visual que distribui os vários hiperlinks
de maneira inteligente, atraindo o clique dos visitantes, historiadores ou não.
A existência de endereços virtuais com propostas semelhantes ao Café História, colocam em evidência a
preocupação dos historiadores perante as novas demandas, fortalecendo, desse
modo, a identidade desses sujeitos e o seu oficio.
A
hipertextualidade provoca uma série de mudanças na maneira de investigar, ler e
sentir as experiências do passado, que respiram no presente por meio da
interação de um público participativo na construção da narrativa. O ambiente
virtual acaba por provocar alterações sensoriais na relação do homem com o
tempo, processo isso que implica a necessidade da presença do historiador
público com o objetivo de garantir que o grande público não padeça perante o
presentismo, o anacronismo ou o revisionismo.
Estudar
o tempo presente é perceber que esse espaço está inserido entre o passado e o
acontecimento recente. Ao construir uma história sobre as antigas civilizações
ocidentais, o historiador não deixa de lado a contemporaneidade, mesmo que
inconscientemente, uma vez que lança mão do olhar do presente, de suas
indagações, motivações e ferramentas, para escrever o passado. “ O homem não se
lembra do passado, ele o reconstrói sempre... Ele parte do presente – e é por
intermédio dele, sempre, que ele conhece, que ele interpreta o passado” (FEBVRE
apud DOSSE, 2012:8). O tempo presente
é um conceito
“[...]
que remete em sua acepção extensiva ao que é do passado e nos é ainda
contemporâneo, ou ainda, apresenta um sentido para nós do contemporâneo não
contemporâneo. A noção de “tempo presente” se torna nesse contexto um meio de
revisitação do passado e de suas possíveis certezas, como também as possíveis
incertezas. A distância temporal que nos separa do passado se transforma,
porque até então considerada uma desvantagem, ela se transforma em uma
sedimentação de camadas sucessivas de sentido que expandem o seu alcance graças
a maior profundidade” (DOSSE, 2012:11-12).
Um
dos grandes desafios dos historiadores públicos digitais e do tempo presente,
gira em torno dos arquivos recentes, ainda não hierarquizados e sistematizados.
A poeira dos arquivos físicos não corresponde à realidade do mundo virtual,
inflacionado pelo gigantesco oceano de informações e por um público presente na
construção destes espaços de memória. Escrevemos uma história que está sob
constante vigilância de testemunhas que podem questionar qualquer narrativa
histórica que eles não reconheçam, ou ainda de um encontro com uma nova
fonte\dado que mude o rumo da narrativa já produzida.
Por
isso, diante das transformações culturais possibilitadas pelo rápido avanço
tecnológico, faz-se necessário o surgimento de uma nova geração de
historiadores, os “historiadores públicos digitais”. Esses profissionais
assumem a tarefa de enquadrar cientificamente o trabalho de coleta de dados e a
gestão de novos tipos de documentos digitais, catalogando, filtrando,
organizando e interpretando dados do passado e de suas memórias. O historiador
público digital deve, neste formato, oferecer-se como intermediário nas
relações entre o grande público, a memória e a história na rede. De acordo com
Noiret:
“O
historiador público deve poder fazer mediação com as formas públicas de
conhecimento do passado que a rede oferece, contribuindo na primeira pessoa à
narrativa do passado em meios virtuais. Construir uma história pública digital
que seja capaz de fazer frente e de mediar de modo critico a manifestação
incessante das memórias privadas – e das memórias embalsamadas – é certamente
um papel profissional estimado ao trabalho do ‘publichistorian’ ” (NOIRET, 2015:40).
A
Era Ciber possibilita a construção de saberes baseados na participação dos
diversos sujeitos sociais, contribuindo para um conhecimento mais democrático.
A informação é produzida pelo público e para o público, necessitando de um direcionamento
oferecido por aqueles que possuem uma base acadêmica. A criticidade documental
representa, para o campo da história, uma guinada para o aperfeiçoamento do
conhecimento público, dando vozes a memórias e histórias individuais que
estavam destinadas a o silêncio do desconhecimento. Parte-se de um rigor
metodológico que atende as especificidades de uma história construída a várias
mãos (literalmente).
Conclusão
Observa-se
a necessidade de atualização do oficio do historiador para se adaptar as novas
realidades comunicacionais e sociais, reinserindo o saber produzido por este grupo
em um universo que contemple a multiplicidade, valorizando as experiências
individuais e direcionando a construção de uma História Pública Digital. Os
negacionismos e os revisionismos, aliados ao anacronismo, oferecem um risco
eminente para a preservação e difusão do saber histórico cientifico, pautado em
regras próprias da área de saber. Desse modo, cabe aos historiadores do século
XXI duas tarefas demasiadamente difíceis: a de lidar com o excesso de
informações característico do ciberespaço e a de transformar esses documentos
em uma narrativa palpável, transpassada pelas regras científicas e ao mesmo
tempo atrativa para o grande público.
Referências
Thiago Acácio Raposo, nascido e criado em
Campina Grande - cidade do interior paraibano -, atua como professor de
História na rede pública estadual e na rede privada. Possui graduação em
História pela Universidade Estadual da Paraíba e é aluno da Pós-Graduação em
História pela Universidade Federal de Campina Grande.
COIMBRA, C. M. B.; ABREU, A. M. 1968 in France – 2013 in
Brazil: Happenings-Resistances. Revista
Direito e Práxis, v. 9, n. 2, p. 1100-1121, 2018.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia.
Vol. 1, São Paulo, Editora 34, 1995.
DOSSE, F. História do tempo presente e historiografia -
historyofthepresent time andhistoriography. Tempo e Argumento, v. 4, n. 1, p. 05-22, 2012.
Facebook da embaixada alemã no Brasil. Como
se ensina história na Alemanha. In: https://www.facebook.com/EmbaixadaAlemanha/videos/1658739200897794,
2019
GINZBURG, C. História na
Era Google. 2010. In: https://www.youtube.com/watch?time_continue=57&v=wSSHNqAbd7E,
2018.
LÖWY, M. Conservadorismo e extrema-direita na Europa e no
Brasil. Revista Serviço Social e
Sociedade, n. 124, 2015.
LUCCHESI, A. Digital
history e storiografiadigitale: estudo comparado sobre a escrita da história no
tempo presente (2001-2011). 2014. Tese de Doutorado. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
MAYNARD, D. C. S. Escritos sobre história e internet. Rio de Janeiro: FAPITEC/ Luminárias,
2011.
NOACK, R. In divisive Brazilian election,
even Nazis are up for debate. In: https://www.washingtonpost.com/world/2018/09/21/divisive-brazilian-election-even-nazis-are-up-debate/?noredirect=on&utm_term=.a3375d0d26cc,
2019.
NOIRET,
S. História Pública Digital│ Digital Public History. Liinc em Revista, v. 11, n. 1, 2015.
NOIRET, S. Internationalizing
public history. Public History Weekly, v. 2, n. 34, Sept. 2014.
Corrigindo algumas passagens, acabei mandando a versão errada para o vento:
ResponderExcluir[Sétimo paragrafo] O ponto apresentado pelo historiador italiano tem certo sentido, mas precisa ser visto com cautela. Afirmar que o digital dissolve a relação com o tempo é negar a própria existência da rede no tempo, ao passo que também reduz a capacidade de reinvenção do ser humano, agarrando-se em verdades preestabelecidas que determinam a maneira exata do sujeito lidar com o chronos.[...]
[Nono paragrafo] No que corresponde a cultura material, diante da situação imaginária de preservação de tudo, sabemos, por uma questão de lógica, que em poucos anos não haveria espaço sequer para andar pelas ruas. No universo virtual a situação não é tão diferente. A grandiosidade desse oceano provoca a falsa percepção de infinidade, prejudicando a noção espacial da maioria dos sujeitos que veem a internet como uma bolsa mágica aonde é possível guardar tudo, sem nunca encher. É preciso estabelecer critérios de preservação, garantindo a sobrevivência de uma parte da documentação e determinando aquilo que deve ser guardado.
Prezado Thiago, sua proposta é muito interessante. Quero te fazer uma pergunta: o revisionismo não atinge somente a história contemporânea/do tempo presente; antes, se espalha por todo tecido historiográfico (os africanos escravizados contribuíram para a escravidão, a civilização sempre foi branca, a narrativa bíblica é factual, e assim por diante. Há como refletirmos sobre esses temas não atuais?
ResponderExcluirOlá, bom dia. Agradeço sua leitura e sua pergunta.
ExcluirEntão, como você mesmo disse, o revisionismo está presente, arrisco dizer, em todos os temas abordados pela história. Os deveres éticos de nossa profissão se atualizam a todo momento e, por isso, se faz mais do que necessário a atuação dos profissionais capacitados no ciberespaço. Não importa qual temática esteja sendo "revista", é preciso combater essa prática que reduz a importância de nosso oficio. Tomo por base a premissa de que toda história é contemporânea para refletir sobre essa onda revisionista. Por exemplo, aqueles que atribuem a figura de Zumbi uma feição escravocrata e perversa, o fazem com o objetivo de minar as bases ideológicas do atual Movimento Negro. É preciso nos posicionarmos frente a qualquer tentativa de negacionismo. Nossa fala se faz importante nas salas de aulas, nos textos acadêmicos, entre nossos pares... mas também, nas redes sociais. Aos poucos, o historiador da era analógica cederá lugar para o da era digital, se atualizando perante as novas demandas sociais e culturais.
Thiago Acácio Raposo
Olá Thiago. Teu tema é bem interessante. A partir de teu texto podemos notar que as pessoas não acadêmicas também analisam as conjunturas políticas a partir de seus pontos de vistas e conhecimentos construídos que por vezes estão bem longe da "veracidade histórica" (como essa ideia de que nazismo é de esquerda só por que tinha no nome do partido a palavra "socialista"). Minha pergunta é a seguinte: como podemos trabalhar todo esse material (re)produzido nas redes sociais enquanto fontes históricas? Michell Alves de Almeida Ricarte
ResponderExcluirOlá Michell, bom dia. Agradeço sua leitura e contribuição.
ExcluirEntão, assim como toda e qualquer fonte histórica, os arquivos digitais precisam ser analisados de maneira crítica. Diante desse posicionamento, o historiador buscará nos vestígios disponíveis os indícios de confiabilidade documental. Se o documento for "confiável", segue o processo de analise crítica. Se não, segue o processo de analise crítica sobre a falsificação. Dependendo da linha teórica seguida pelo pesquisador, outros caminhos podem se desdobrar.
Ainda não existem, que eu saiba, orientações metodológicas bem definidas para o trato da documentação digital. Os historiadores que se debruçam sobre o mundo virtual se apropriam das metodologias elaboradas para o mundo analógico, fazendo, evidentemente, as devidas adaptações. Espero ter te ajudado!
Obrigado pela tua atenção :)
ExcluirPrezado Thiago, bastante interessante seu trabalho.
ResponderExcluirPrincipalmente quando pensamos no contexto político e social que estamos vivendo no Brasil e a influência das redes sociais. Gostaria de saber os critérios que você acredita que devem ser utilizados pelos historiadores e os profissionais que lidam com a memória no momento de selecionar o que deve ser preservado.
Olá, boa tarde. Então, você me fez uma pergunta imensamente difícil. Todos os dias me faço a mesma pergunta e, sinceramente, não obtenho a resposta para tal.
ExcluirLamento.
Thiago Acácio Raposo
Adorei o texto, Thiago, parabéns! Deixo aqui a sugestão não só para você, mas para os colegas historiadores que passarem por esta seção o canal no youtube Tese Onze, no qual uma ótima pesquisadora faz essa ponte, que às vezes parece inimaginável, entre a academia e a sociedade.
ResponderExcluirEnquanto historiadores públicos e digitais todos temos essa responsabilidade, mas pra mim fica o questionamento, e queria saber sua opinião, quais estratégias PRÁTICAS podemos tomar pra orientarmos nossos educandos sobre essas atitudes revisionistas e como tornar a história feita por historiadores mais interessante? São tempos sombrios e creio que as visões de todos são engrandecedoras.
Kaio Matheus da Silva Gama
Olá, boa noite. Obrigado por suas palavras.
ExcluirEntão, acredito que a maneira mais eficiente de chamar a atenção de nossos discentes seja através do uso das tecnologias em sala de aula. Tal contato se apresenta de maneira mais tranquila na rede privada. Nas escolas públicas, esse contato se torna mais difícil, mas não impossível. Em uma das escolas públicas que trabalho, usar a internet é praticamente impossível, por conta da falta material. Nesse caso, imprimo diversas matérias de blogs revisionistas e levo para a sala. Mando eles compararem as informações com as que estão no livro didático e peço a opinião deles sobre qual seria a narrativa mais confiável. Após a fala deles, reforço a ideia de cientificidade e criticidade presente nos manuais didáticos, de modo a construir uma linha argumentativa de valorização do conhecimento produzido pelos profissionais.
Sobre a atratividade, acredito que a maneira mais adequada parta da premissa do uso da ciberlinguagem, aonde o hipertexto predomina. É preciso adaptar nossa fala para atingir um público mais amplo.