Ana Cristina Rodrigues Furtado

A REPRESENTAÇÃO SOBRE A VIDA E A MORTE DE SÔNIA ANGEL JONES NO DOCUMENTÁRIO SÔNIA MORTA VIVA


Esse trabalho tem como objetivo refletir sobre as várias representações feitas sobre a vida e a morte de Sônia Angel Jones, a qual, durante o regime militar brasileiro foi militante política. Essas representações da morte e vida de Sônia foram construídas a partir do testemunho de familiares, amigos e ex-companheiros de militância política no documentário Sônia Morta Viva (Sergio Waismann, 1985). Produzido por iniciativa de seu pai João Luiz de Moraes, para não deixar que a história de sua filha caísse do esquecimento.
Sônia Maria Lopes Angel Jones nasceu em novembro de 1946, em Santiago do Boqueirão – RS. Teve uma infância e uma adolescência como à de muitos outros naquele período, gostava de ler, estudar, namorava, saia com amigos, ia às praias e as festas. Casou-se com Stuart Edgar Angel Jones em agosto de 1968, mesmo ano em que ela entrou para o Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR-8, mesma organização que seu esposo era militante. Em maio de 1969 foi presa por conta das manifestações da Praça Tiradentes, levada ao Dops, do Rio de Janeiro e depois para o Presídio São Judas Tadeu. Passou quatro meses presa, continuou sendo investigada e perseguida, após ser liberada. Em 1970 foi para o exílio em Paris – França, de lá foi para o Chile. Ao chegar nesse País ela soube da morte de seu esposo Stuart Angel e resolveu voltar para o Brasil, mas agora como militante da Ação Libertadora Nacional – ALN, e não mais do MR-8.
Em 1973 voltou para o Brasil clandestinamente com o codinome Esmeralda Siqueira de Aguiar, foi morar em um apartamento alugado em São Paulo com um companheiro de luta política. Ambos foram presos no Canal 1 em Santos – SP, a versão oficial que saiu no ano de 1973 nos jornais O Globo e na Folha de São Paulo, é que ela e seu companheiro de militância política havia entrando em conflito com órgãos de segurança do bairro e morreram num tiroteio. Mas, um tempo depois sua família ficou sabendo sobre a outra versão da morte de Sônia Angel. Ela foi presa e levada para o Doi-Codi, do I Exército, após muitas torturas nesse órgão, ela foi levada para o Doi-Codi do II Exército localizado em São Paulo, mais torturas foram realizadas inclusive com a retirada de seus seios e estupro, e por fim lhe deram um tiro.
Testemunhos sobre a vida e a morte de Sônia Angel Jones
“Um grupo de Jovens intelectuais armados com revolveres velhos, mal equipados dedicaram-se a enfrentar um dos exércitos mais bem equipados e montados do continente, o exército brasileiro. A Sônia e o seu companheiro foram duas pessoas dizimadas nesse processo, outros foram torturados, outros foram para o exílio, e na realidade sobraram apenas alguns para contar a história, talvez nem sobrassem os melhores. Todos os erros que havia naquela década, o erro de sair para luta de armas na mão contra a ditadura militar foi o erro mais fascinante, e Sônia mergulhou nesse erro” (Fernando Gabeira, Sônia Morta Viva, 1985).
Esse é um depoimento de uma das testemunhas que deram seus testemunhos para compor a narrativa vídeobiografica do documentário Sônia Morta Viva (Sergio Waismann, 1985). Fernando Gabeira foi integrante do MR-8, foi preso e exilado, e lutou contra a ditadura militar no Brasil. Ao falar de Sônia e Stuart, relaciona a história deles há de tantos outros companheiros de luta política, inclusive a sua, ou seja, ele fala da história de um grupo, e das escolhas que esse grupo de jovens fizeram. Escolhas essas, que anos depois ele coloca como um erro, mas deixa claro que foi um “erro fascinante”.
O documentário tem em torno de 50 minutos de duração, a biografada é chamada de Sônia Angel no filme, possui18 testemunhas, entre elas estão seus pais, Cléa de Moraes (professora) e João Luiz de Moraes (tenente-coronel), seu tio-avô Paulo César Lopes da Costa, César Benjamim que era militante do MR-8, Alex Polari que era da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR, Celso Pimenta, Oséas de Oliveira, Carlos Eduardo Fayal – ALN, Carlos Eugênio Sarmento – ALN, Maria Clara Mariane, Zilda Xavier Pereira – ALN. Possui um narrador off que é o Carlos Vereza, o qual, só aparece nos últimos minutos para fazer uma fala sobre Sônia e Stuart. As imagens são coloridas, e em vários momentos são colocados trechos de filmes antigos sobre acontecimentos da época. Outro elemento importante é que o contexto histórico, político e social vai sendo abordado de acordo com a idade de Sônia Angel Jones, e em alguns momentos relacionam ao que ocorriam em outros países. Essa produção foi realizada a partir da iniciativa do pai de Sônia Angel Jones.
Os pais de Sônia Angel começaram uma busca que durou muito tempo, pelos restos mortais da filha, após o seu desaparecimento, os quais só foram encontrados e identificados no cemitério Dom Bosco em Perus, no ano de 1991. Nessa trajetória de busca pelos restos mortais de sua filha, fizeram com que seu pai entrasse para o grupo Tortura Nunca Mais, o qual se tornou o primeiro presidente. Assim, seus pais enveredaram por um caminho que envolveu não somente as suas lutas e dores, mas também, as dores de outras famílias que havia perdidos seus filhos e entes queridos no período da ditadura militar. A memória e o esquecimento foram elementos essenciais para essa luta, que tem como objetivo denunciar, buscar e obter informações, e mais que isso, almejam através dos testemunhos, que as histórias de perda e de luta não sejam esquecidas e sejam reconhecidas.  
Durantes toda a narrativa vamos percebendo quais são as “representações” que se busca construir a respeito da biografada, e nesse caso eles tentam através do documentário Sônia Morta Viva (Sergio Waismann, 1985) denunciar a forma como Sônia Angel Jones morreu, e mostrar que na época saiu primeiro a versão oficial que é mostrada logo no início do documentário, e no final Carlos Vereza deixa de ser o narrador off e aparece nas imagens fazendo uma reflexão sobre a segunda versão da morte da biografada e também da Stuart Angel.
Carlos Vereza faz a abertura do documentário como narrador off, e ao mesmo tempo da sua fala vai passando imagens do jornal com a lista de nomes de pessoas que haviam sido mortas pelos agentes da repressão, e um áudio de suspense. Ele lê o atestado de óbito de Sônia Angel Jones:
“Em cinco de dezembro de 1973, este vigésimo sub-distrito, Jardim - América, comarca da capital de São Paulo, cartório, foi dito que no dia trinta de novembro de 1973, às quinze horas faleceu Esmeralda Siqueira de Aguiar, do sexo feminino, cor branca, com 26 anos, solteira, natural do Estado da Guanabara, filha de Renato Aguiar e de Lúcia de Lima Aguiar, como causa de morte e doença, hemorragia interna por ferimento de projétil de arma de fogo, ignorada as demais declarações, atestado de óbito firmado pelo doutor Eury Chibata” (Sônia Morta Viva, 1985).
Depois dessa fala de abertura, que narra à versão oficial da morte de Sônia Angel Jones, a narrativa nos lança para a infância da biografada, depois para a juventude, e isso se dar através de fotografias e das falas de seus pais. Em seguida começa a ser colocados os depoimentos de amigos e companheiros de militância política, e eles falam desde os momentos que a conheceram, a luta dentro das organizações, as posições de Sônia, suas escolhas, seu casamento, sua prisão, exílio, à volta para o Brasil, dentre outros elementos.
Há também depoimentos como os de Oséas de Oliveira, cobrador de ônibus e de Celso Pimenta, motorista do ônibus, profissões que exerciam no ano de 1973, período em que Sônia foi presa. Ela estava com um companheiro de luta política, e se encontrava dentro do ônibus quando foi presa. Essas duas testemunhas narram os acontecimentos que presenciaram sobre a prisão dela e do companheiro. Eles tentam construir uma “representação” sobre o acontecimento e sobre a maneira como ela reagiu no momento da prisão.
Oséas de Oliveira diz:
“Ela não deu um grito, ela só só via a expressão de raiva na no rosto dela. Não, não ela não chegou a reagir, que ela ela dois caras pegou pulou em cima dela, como um tigre ferido mesmo, inclusive eu não sabia que tinha uma algema de pé, deixaram ela no outro Galax que tava mais na frente, num banco de trás e sentaram dois homens atrás dela” (Sônia Morta Viva, 1985).  
Celso Pimenta diz:
“Nesse mesmo instante eu olhei pra dentro da agência, parado na porta da agência eu vi uma luta corporal, e mais uma violenta luta corporal, era mais ou menos quatro ou cinco brigando com um só, e justamente era esse rapaz que desceu do ônibus pra comprar passagem, quando eu olhei assim eles tavam passando carregado, carregado por uns três lá todo ensanguentado, num dava nem pra ver o rosto dele mais, tava todo ensanguentado, e puseram num outro carro” (Sônia Morta Viva, 1985). 
Esse dois depoimentos nos levam á pensar como a narrativa ao mesmo tempo em que vai mostrando momentos da vida de Sônia e construindo um perfil sobre a biografada, relaciona a sua história a de tantas outras pessoas que viveram experiências ao seu lado. Mostra também, a busca da família em revelar e denunciar os crimes cometidos contra a vida de Sônia, tenta colocar á baixo a versão oficial sobre a morte dela, e é também uma forma de trabalhar o luto, logo podemos pensar a vídeobiografia como lugar de luto e ressentimentos.
Sônia Meneses no trabalho ‘Luto, identidade e reparação: vídeobiografias de desaparecidos na ditadura militar brasileira e o testemunho no tempo presente’ (2014), ela analisa algumas vídeobirografias, refletindo sobre elementos como a “memória impedida”, o luto, a “memória narrada” e a “memória obrigada” a partir de filmes, e um desses filmes é Sônia Morta Viva. Ela diz que:
“Para os familiares, reverter o discurso da criminalização era também reconstruir as lembranças de Sônia numa chave positiva; nesses termos, a preparação do documentário é um trabalho duplo de memória, uma vez que coloca em evidência tanto anseios individuais – como a busca pelo corpo, a elucidação da morte, a superação das dores – quanto o trabalho por uma política de memória que visa uma abrangência maior que o círculo familiar” (2014: 142).
Assim narrar foi à forma encontrada não só pelos pais de Sônia, mas também, pelos amigos companheiros de militância, tio, conhecidos, dentre outros, para desconstruir o discurso de criminalização que havia se criado sobre a biografada e sobre tantos outros que tinha entrado na militância política. Dessa maneira, as lembranças e os testemunhos serviram como elo para reconstruir e representar de maneira positiva a história de Sônia. A autora coloca a vídeobiografia feita sobre a trajetória de vida de Sônia como um “trabalho duplo de memória” e percebemos esse trabalho à medida que se entrelaçam as histórias de vida de tantos sujeitos com a de Sônia, ao mesmo tempo em que esse documentário vai ter efeito para além da família de Sônia, a sua narrativa realiza um trabalho que envolve a “memória política”, a memória de outras famílias, tudo isso relacionado à história de um País.
Ao tentarem representar a trajetória de vida de Sônia, propuseram-se a falar de sua morte e como ela havia se dado, e isso ratifica na narrativa a visão positiva que escolheram passar da biografada. Falar da morte é algo complexo, e meche com emoções, com sentimentos recalcados, silenciados, camuflados. Mas pode ser também uma maneira de apaziguar a dor, trabalhar o luto e os ressentimentos. É nesse sentido que colocamos a vídeobiografia como lugar de representação, mas também, como lugar de luto e de lembranças.
A narrativa inicia falando da morte, e termina falando da morte de Sônia. Seu tio-avô Paulo César Lopes da Costa, dar um depoimento sobre a segunda versão da morte de Sônia, e denuncia a tortura, a prisão e o assassinato. Logo, além de desconstruir a versão oficial, contestando-a e colocando-a como falsa, a família da biografada reafirma através da narrativa vídeobiográfica a versão que tem como a verdadeira. Paulo César, ao falar da segunda versão da morte da sobrinha-neta, deixa transparecer que esse ainda não era um assunto fácil para falar, as emoções e os sentimentos de tristeza, de revolta contra os causadores da morte de Sônia, e as dores, são percebidas através da voz meio casada e compassada dele.
Assim ele narra:
“Face às verdadeiras causas da morte de minha sobrinha neta Sônia Maria, procurei o meu sobrinho Coronel Calos Alberto Alves da Costa que fora comandante do DOI-CODI em Brasília, para conhecer a verdades dos fatos. Então ele me narrou o seguinte, que os fatos narraram anunciados eram todos falsos, que ele tivera com o coronel colega de turma em São Paulo e que esse disse que Sônia Maria foi requisitada de Santos para o Rio, para acertar contas com o DOI-CODI do Rio, chegando ao Rio foi torturada durante 48 horas, culminando com o dil com a diltutora, dentro do são de um objeto contundente, cassetete da PM, os órgão genitais, até causar hemorragia interna, saciada esses instintos bestiais, eles remete removeram pra São Paulo, quase moribunda, até chegando em São Paulo foi e aplicado o tiro de misericórdia. Aí nos soubemos a verdadeira versão terrível do falecimento de minha sobrinha neta, por esses covardes” (Sônia Morta Viva, 1985).
Essa é a segunda versão sobre a morte de Sônia, a qual nos leva a conhecer a forma a qual foi morta, e quais as torturas, que foi submetida. Assim, a morte de Sônia é “representada” de duas maneiras, na primeira ela é colocada com o codinome Esmeralda Siqueira de Aguiar, nome que usava para viver na clandestinidade, ela é tida como aquela que pegava em armas, e havia sido morta em um tiroteio com a polícia. A segunda versão coloca Sônia como aquela que foi presa, torturada, e morta sob condições brutais, ou seja, assassinada.
Nos últimos minutos da narrativa, Carlos Vereza aparece nas imagens em pé, para fazer uma última fala. Ele diz:
“Falar desses dois não tem o menor sentido usar a expressão reabilitação de Sônia e de Stuart, eu tenho a esperança de que Sônia e Stuart que deram suas vidas pela democracia, pela liberdade no Brasil, algum dia que não seja um dia muito remoto, um dia muito afastado dos nossos dias presentes, que eles possam ser resgatados, que suas memórias, que suas biografias sejam conhecidas de todo o povo brasileiro, como de todos irmãos de todos os patriotas que foram sacrificados, torturados e desaparecidos, não num processo de revanche como habilmente o poder dominante tenta confundir a opinião pública. Porque os corpos os mortos que estão pairando acima das nossas cabeças, eles já não nos pertencem mais, eles pertencem à própria justiça da natureza, a própria dialética do movimento das coisas, que exige justiça que exige que esses fatos não fiquem debaixo do tapete do arbítrio, debaixo do hábil acordo que as elites do Brasil sempre fazem” (Sônia Morta Viva, 1985).  
Ele ressalta no seu depoimento a importância que a memória possui para que os crimes, as prisões, as mortes, os desaparecimentos não sejam esquecidos e não fiquem impunes. E mais uma vez a narrativa relaciona a vida de Sônia a de outros militantes políticos, a exemplo de seu esposo Stuart. Ele clama por justiça, por um não esquecimento de tantas histórias, por um reconhecimento da sociedade dessas histórias de luta e dor, e a memória entra como principal elemento desse reconhecimento.
E ele continua:
“Nós queremos justiça, justiça histórica, porque não é mais um crime comum não é um crime político é genocídio, foram pessoas que não foram mortas em combate, foram pessoas que foram assassinadas, desprotegidas sem direito de defesa em selas, jogadas ao mar, são pessoas que foram sufocadas com o gás carbônico. [...] esses mortos pairam acima de nossas cabeças estão vigilantes, porque eles exigem em nome da memória no Brasil, essa memória tão pouca exercitada, essa memória tão esquecida, eles exigem não um revanchismo, mas que estes crimes não fiquem impunes” (Sônia Morta Viva, 1985).
No seu discurso entrelaçam-se uma “memória política”, com a “memória histórica”, ao mesmo tempo em que se utiliza desses tipos de memória para denunciar os crimes cometidos pelos torturadores. E ao denunciar, clama por justiça que coloca como histórica, mas que também, não deixa de ser política. Ele coloca essas mortes de militantes políticos como um genocídio, configurando-se no assassinato e aniquilamento de grupos humanos, que nesse caso foram grupos de militantes políticos. E faz uma crítica a sociedade brasileira que pouco exercita a memória política e histórica relacionada a essas histórias e a esses tipos de crimes.
As testemunhas que dão seus depoimentos para o documentário Sônia Morta Viva (Sergio Waismann, 1985) tentam “representar” a vida, mas também, os acontecimentos que levaram a morte de Sônia, o que nos leva entender o significado do título da produção. Tentam “representar” sua trajetória de vida a partir de momentos que vivenciaram e compartilharam juntos, da mesma forma que seus pais por não acreditarem na versão oficial de sua morte tentaram e foram em busca de novos elementos que comprovassem que essa versão não era verídica e a morte dela não havia se dado daquela maneira.
Todos esses depoimentos do documentário fazem esse exercício de memória, buscam construir “representações” sobre Sônia, mas também, sobre suas vidas nos momentos que vivenciaram experiências ao lado dela. O trabalho de memória foi à forma encontrada não apenas pela família de Sônia, mas, por tantas outras que perderam parentes no período da repressão, que tiveram familiares presos, torturados e desaparecidos. Recorrer à memória se tornou uma forma de luta, de busca por justiça e por reparação do passado. Foi também a maneira que encontraram para denunciar, para não esquecer, para lembrar, e para deixar para as gerações futuras histórias que precisam ser lembradas.

Referências
Ana Cristina Rodrigues Furtado é graduada em História pela Universidade Regional do Cariri – Urca, Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.

ARNS, Dom Paulo Evaristo. Brasil: Nunca Mais. 9 ed. Petropólis: Vozes, 1985.
MENESES, Sônia. Luto, identidade e reparação: vídeobiografias de desaparecidos na ditadura militar brasileira e o testemunho no tempo presente. In: Revista de História Oral, v. 17, n. 1, p. 135-161, jan./jun. 2014. Disponível em: http://revista.historiaoral.org.br/index.php?journal=rho&page=article&op=view&path%5B%5D=334.
MORAES, João Luiz de, AHMED, Aziz. O Calvário de Sônia Angel – Uma história de terror nos porões da ditadura. Rio de Janeiro: Gráfica Mec Editora Ltda, 1994.
Sônia Morta Viva. Direção: Sergio Waismann. Brasil, 1985.

6 comentários:

  1. Prezada Ana Cristina, do ponto de vista metodológico, faltou colocar nas referências a sua fonte principal, a ficha técnica do seu documentário. A sua bibliografia é toda contextual, quais os seus referenciais teórico-metodológicos?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde José Maria! Vou começar partindo dos referenciais teórico-metodológicos, para realizar esse trabalho, o qual faz parte da minha dissertação de mestrado intitulada "O narrar e o contar-se: a trajetória de vida de mulheres que foram militantes políticas no período da ditadura militar no Brasil", trabalho com o conceito de "vídeobiografia" sobre o qual Sônia Meneses diz: são narrativas – permeadas de jogos de memória e esquecimento – produzidas com fins de tornar visível, por meio de imagens e testemunhos, a história de personagens cujas trajetórias estão ligadas a eventos importantes para grupos ou gerações. Podem ter formatos variados, desde documentários, curtas, até vídeos para televisão. Têm como característica o testemunho e a evocação de memórias traumáticas sobre acontecimentos ou fenômenos sociais (2014: 136). Essas vídeobiografias podem nos ajudar a pensar as várias dimensões da memória e do esquecimento, como também, a perceber as construções narrativas elaboradas pelas testemunhas, e como esses testemunhos são importantes para uma perpetuação de tantas histórias. Logo esse conceito nos ajuda a pensar essa fonte em seus aspectos teórico e metodológicos. O conceito de "representação" foi pensado a partir de Chartier e de "testemunho" de Beatriz Sarlo.
      Para realizarmos a análise do documentário fizemos primeiro a descrição da fonte com suas falas, imagens, trilha sonora, dentre outros elementos.
      Segue a ficha técnica e as referências citadas.
      CHARTIER, Roger. A História Cultural entre Práticas e Representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro, RJ: Editora Bertrand Brasil, 1990.
      SARLO, Beatriz. Tempo Passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução Rosa Freire d’Aguiar – São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte,: UFMG, 2007.

      FICHA TÉCNICA
      Ano: 1985
      Duração: 00:50:00
      Dirigido por: Sergio Waismann
      Idioma: Português
      Narrador Ausente: Carlos Vereza
      Armazém Memória: Vidioteca Virtual Brasil Nunca Mais, http://blip.tv/videotecabnm/sonia-morta-viva-4518606. Acessado dia 07/08/2013, as 3h da tarde.
      Sinopse: Trajetória da militante revolucionária Sônia Moraes Angel Jones narrada por seus familiares e amigos.

      COLABORAÇÃO
      ERIC NEPOMUCENO

      NARRAÇÃO
      CARLOS VEREZA

      PRODUÇÃO
      KÁTIA MACEDO

      CAMERA
      GUSTAVO HADBA

      COORDENAÇÃO MUSICAL
      EDUARDO SOUTO NETO

      EDITOR DE VT
      CLAUDIO DE MORAES

      EDIÇÃO
      ELIZABETH RITTO

      ROTEIRO
      GERALDO CARNEIRO

      DIREÇÃO
      SERGIO WAISMANN

      Agradeço pelas colocações!
      Ana Cristina Rodrigues Furtado

      Excluir
    2. Interessantíssima sua base teórica. Você conhece Sabina Loriga? Ela possui trabalhos interessantes com o uso da escrita de si.

      Excluir
  2. Cara Ana Cristina, parabenizo o seu texto acerca das representações vídeo biográficas da morte e da vida de Sônia Angel Jones. Essa mulher que foi brutalmente assinada nos porões da ditadura aparece (quase) sempre como sombra do seu esposo, ou mesmo da família dele, o Stuart Angel Jones. No entanto, o assunto acerca da militância feminina no período da ditadura militar começa a aparecer com efervescência nas últimas décadas, e o seu trabalho nos traz isso. Diante disso, quais seriam as considerações acerca das questões de gênero, num espaço de lutas políticas eminentemente masculino, durante os anos de chumbo? Como Sônia poderia ser considerada para essa discussão?

    Ass.: Noemia Dayana de Oliveira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Noemia! Obrigada pelas considerações!
      Na minha dissertação de mestrado trabalhei com cinco mulheres que foram militantes políticas no período da ditadura militar no Brasil. A história de Sônia Angel chegou até a mim através desse documentário.
      Pensar a luta dessas mulheres durante a ditadura militar nos leva a refletir sobre um movimento que adentrou o Brasil na década de 1960, conhecido como feminismo, período também em que foi consumado o golpe civil-militar. Esse não foi um momento fácil para divulgar as ideias feministas, levando em conta que antes mesmo da ditadura já possuíamos uma sociedade de cunho conservador no qual o “machismo” e o “patriarcado” estavam presentes na vida social e coletiva. No contexto da ditadura, as manifestações e divulgações de novas ideias se tornaram mais difíceis.
      Segundo Alice Costa “Com o golpe militar de 1964 no Brasil, e posteriormente em vários outros países latino-americanos, os movimentos de mulheres, juntamente com os demais movimentos populares, foram silenciados e massacrados”. (2005: 4). A partir de 1970 surge à segunda onda feminista, com a emergência de problemáticas e discussões sobre gênero. Esse (re) surgimento do movimento nasceu em meio a um regime ditatorial de cunho autoritário e repressor, e a partir da luta de mulheres que foram contra e resistiram à ditadura militar.
      Mas suas lutas foram muito além dessas, se depararam com uma Igreja progressista, com organizações de esquerda e partidos políticos que tinham como lideranças homens e eram dominados por eles, tiveram que enfrentar um Estado conservador, uma sociedade patriarcal e dentro das próprias organizações de esquerda tiveram que lutar contra o sexismo, logo as discriminações eram muitas, e “ser mulher” e mudar as suas relações dentro da sociedade não era uma tarefa fácil e nem simples.
      Pensar esse contexto político, social e histórico em que viviam é importante para entendermos alguns dos motivos de suas lutas e os seus significados, e por quais causas e direitos elas reivindicavam. Logo, Sônia e essas outras quatro mulheres, as quais, analiso momentos de suas histórias, mudaram a partir de suas escolhas as suas vidas, nenhuma delas quis seguir o mesmo caminho de mães, tias e de amigas, buscaram novos caminhos, lutaram por outras subjetividades e as construíram através de suas vivências e experiências. Foram a partir das suas escolhas e de tantas outras mulheres que pudemos enxergar outros meios para viver, fazer e existir.

      REFERÊNCIAS
      BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução: Renato Aguiar. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
      COSTA, Ana Alice Alcantara. O Movimento Feminista no Brasil: Dinâmicas de uma Intervenção Política. Texto escrito durante o estágio de pós-doutorado no Instituto Universitário de Estudios de laMujer da Universidade Autônoma de Madrid, publicado em 2005.

      Ass: Ana Cristina Rodrigues Furtado

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.