ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS USOS PÚBLICOS DA HISTÓRIA ANTIGA E SUAS REPERCUSSÕES
A história está em todo o lugar e ela é
interpretada por públicos distintos, com ideologias díspares, a todo o momento.
No Brasil, é evidente que essa afirmação é verdadeira e ela é o resultado de uma
relação que vem se acentuando cada vez mais, a ponto de ser percebida como uma
preocupação urgente aos pesquisadores das universidades e aos professores da
Educação Básica.
E por quê? Nos últimos anos, foi possível atentar que
a História (e aqui entendo como “histórias” as mais diversas versões sobre o passado,
e não apenas a ciência História) tornou-se muito popular e importante ao
cenário político brasileiro. Por exemplo, no mês de agosto de 2018, o então presidenciável,
Jair Bolsonaro, disse em entrevista ao programa Roda Viva que os portugueses nunca haviam pisado na África, isto é,
que a escravidão negra era de responsabilidade dos próprios africanos. Ainda
completou mais adiante em sua fala: “eu não acredito em dívida histórica, pois
nunca escravizei ninguém”.
Da mesma forma, os seus eleitores também recorreram
ao passado como uma forma eficaz de fazer política e sustentar o voto em seu
candidato. Assim, associaram o nazismo ao comunismo (o mesmo regime que jurou
aniquilar), o comunismo e socialismo foram confundidos entre si, mas também com
direitos humanos básicos, além da negação da experiência ditatorial no Brasil.
Não é à toa que, em
setembro de 2018, o jornal O Globo publicou
a matéria: Versões absurdas de fatos
históricos ganham força e alarmam especialistas. Nela, denunciou um
movimento denominado como fake history,
o qual, por alguma estranha coincidência, compreende justamente as versões
sobre os fatos que acabamos de lembrar, dentre outras ainda piores, a exemplo de
gente negando o holocausto.
Fig. 1
Nós, os historiadores profissionais, chamamos este
tipo de reflexão de História Pública. Uma História que vem sendo contada por meio
de instrumentos digitais e impressos.
De acordo com Cerri (2006, p. 3-19) existem duas teorias para o surgimento da História
Pública: a primeira é norte-americana e a segunda é alemã, a primeira diz
respeito ao contexto da crise econômica da década de 1970, já, a segunda condiz
com o debate público a respeito da negação do holocausto na década de 1980.
Vejamos:
Nos Estados Unidos da década de 1970, o cenário era
de crise econômica e falta de oportunidade de empregos para os historiadores
recém-formados, principalmente os especialistas em História Regional ou Local (o
que nos faz lembrar os nossos dias atuais). Foi justamente tal necessidade de
encontrar outros campos de atuação, como museus, rádios e jornais, que surgiu a
figura do historiador público.
Quanto à Alemanha, o quadro é um pouco mais delicado.
Nesse contexto, a História Pública foi cunhada por Jürgen Habermas para
discutir o nazismo e o holocausto na querela
dos historiadores, um movimento composto por intensos debates nos meios
digitais, em que alguns historiógrafos, conhecidos como “negacionistas”, denegavam
ou relativizavam o holocausto. E, por outro lado, havia os que defendiam que a
experiência em questão não só deveria ser entendida como um “acontecimento real”,
mas também como um evento que precisaria ser sempre lembrado para que nunca mais
viesse acontecer novamente.
Ainda de acordo com Cerri, durante os primeiros
anos da História Pública, os historiadores das universidades demonstraram
preconceito com a modalidade, opondo claramente em suas publicações o que chamavam
de “A” História acadêmica x “a” história pública. Hoje este preconceito vem
sendo abandonado pela academia, uma vez que os programas passaram a pensar em
História Pública como o estudo dos espaços onde as pessoas mais se informam
sobre História, como os jornais e as grandes mídias. E por quê? Porque esses
veículos são representantes de interesses privados, portanto, não são narrativas
isentas, mas produtores de um saber histórico intencional e muito eficaz.
Aliás, é preciso reconhecer que, no mundo das mídias, o saber histórico modifica
a opinião pública, o que, por sua vez, ocorre na esfera pública.
Fig. 2
Falaremos brevemente de três exemplos de História
Pública aqui no Brasil: A História Pública na TV, A História Pública na
Internet e, por último, A História Pública nos “guias politicamente incorretos”.
Começaremos com a História Pública na TV. Na
comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, em 2000, houve distribuição
de relógios em todas as capitais. Esta atitude aparentemente trivial, aos olhos
da História pública, pode ser vista da seguinte maneira: para nossas mídias, a
cronologia europeia da nação é a que vale, afinal, comemorar os 500 anos de um
território ocupado séculos antes nada mais é do que reforçar a nossa identidade
como colônia. Ademais, durante as transmissões foi possível notar que o nosso “descobrimento”
nada mais era do que uma festa particular da TV Globo, elaborada com uma
caravela malfeita e repleta de autoridades e famosos, mas com os índios, os
negros e os movimentos sociais privados da entrada. Novamente, através do prisma
da História Pública, até mesmo uma simples festa pode ser lida como um ato político
que mexe com as nossas emoções, além de revelar o “currículo oculto” da nossa
nação: um projeto fracassado das elites, uma festa exclusiva, na qual os
subalternos estão permanentemente excluídos.
A História Pública na Internet é a que hoje mais preocupa
os especialistas. Para se ter uma ideia, a Wikipédia é o quinto website mais
acessado do mundo e grande parte dos nossos estudantes já utilizaram a
plataforma com fins acadêmicos. O que é mais evidente ainda nas escolas! Não é
nosso intuito aqui debater o conteúdo dos artigos, afinal, existem bons e maus
verbetes em qualquer enciclopédia. Nosso foco na Wikipédia reside no fim da
noção de autoria, e, um país em que a maior parte dos eleitores brasileiros provaram
se informar por meio da internet, a não autoria representou uma desculpa para a
não utilização de autoridades para sustentar um argumento. Mas isso é tão grave
assim? Acreditamos que duas imagens respondem à pergunta:
Fig. 3
Fig. 4
Por fim, A
História Pública nos “guias politicamente incorretos”. É inegável o interesse
em livros de História nos últimos anos e a publicação de Narloch é o principal
exemplo desse despertar. De uma forma geral, avaliando as obras do jornalista,
como historiadores, podemos apontar alguns problemas metodológicos, como a
leitura que faz das fontes sem nenhuma crítica. Mas essa aqui não é o nosso
interesse. Aos olhos da História Pública, essas “leituras erradas”, por assim
dizer, são vistas como “propaganda de
preconceitos”. Para Narloch, os índios eram preguiçosos, bêbados e hostis.
Ademais, não houve genocídio indígena, mas apenas a miscigenação, ou seja, eles
“sumiram” porque tiveram o seu sangue diluído com o do europeu e o africano. Quanto
aos negros, o autor afirma categoricamente que Zumbi era
um assassino e, portanto, não é um homem digno de louvor por parte do movimento
negro. E mais, os escravos foram os verdadeiros escravistas e se conformaram
com a escravidão, e por isso, deveriam reconhecer que abolicionismo é uma
dádiva dos brancos, no caso, dos ingleses.
Não é preciso dizer que este tipo de versões públicas
do passado têm consequências políticas:
Fig. 5
Fig. 6
Enfim, é evidente que a História tem um uso
público. Este uso é empregado geralmente para justificar decisões graves, como
golpes de Estado, nacionalismos exacerbados, fascismo, guerras e crimes contra
a humanidade. Pode ainda servir para dividir o ônus da culpa, converter opressores
em vítimas, criminalizar revoluções, movimentos e as visões de mundo de
esquerda, por isso, é preciso ao historiador moderno estar apto a ajudar as
pessoas a compreender as mais diversas narrativas históricas em nosso cotidiano,
principalmente objetivando evitar o fascismo. Os historiadores da história
pública têm como referências básicas a defesa da democracia, dos direitos
humanos e dos direitos civis. Eles não podem deixar de incorporar temas da
pseudo-história e das teorias conspiratórias às suas pesquisas e cursos, pois esquecimento e a desqualificação do
passado são estratégias liberais para atomizar ainda mais o cidadão. Afinal, o
presente não se explica a partir de sim mesmo.
Visto isso, nossa missão é
rumar em direção ao estudo da História Antiga Pública, em especial, como o
cinema e a TV se apropriaram de uma imagem idealizada de Roma durante muito
tempo, fundamentando, assim, “preconceitos históricos”.
Breve história
da História Antiga
Georges
Duby, em Un nominaliste bien tempere,
afirma que “cada época constrói,
mentalmente, sua própria representação do passado, sua própria Roma e sua
própria Atenas”.
De acordo com Guarinello em Uma Morfologia
da História: As Formas da História Antiga, isso ocorre, em partes, porque a História
científica é composta por campos autônomos, ou seja, fôrmas, como a Antiga e a
Medieval, com metodologias, generalizações e modelos próprios que, por sua vez,
a diferem das outras maneiras de se contar o passado.
Os primeiros autores a fazerem uma História Antiga científica viveram nos
séculos XVIII e XIX. O primeiro foi Edward Gibbon, seguido de Theodor Mommsen e
de George Grote. Homens que estavam interessados em uma História feita por homens,
aqueles que haviam atuado no centro do Estado, seja na política ou nos
exércitos. O século XIX também foi o cenário dos nacionalismos, da
centralização dos governos nas mãos de uma elite que pretendia guiar às nações
rumo à civilização, esta entendida, em partes, pela manutenção dos valores atribuídos
por eles à Antiguidade Clássica, como a simetria, a ordem e a “branquitude” de
seus monumentos. Basta atentarmos para o Fórum Romano de Becchetti:
Fig. 7
Na segunda metade do século XIX e no início do
XX a História Antiga encontrou-se com a antropologia, a economia e a sociologia
para compreender as origens da cidade ocidental. A antropologia é notada na
obra A cidade antiga, de Fustel de Coulanges, a economia nos escritos de
Karl Marx sobre as Formas que precedem a exploração capitalista e, finalmente,
a sociologia dA Cidade, tal como vista por Max Weber. Na mesma época, também
houve a influência dos debates imperialistas que passaram a ver os conceitos de
helenização e romanização como missões civilizacionais. É o que notamos nA
romanização da Bretanha romana, de Francis Haverfield, e na História
da Gália, de Camille Julian. A romanização foi um tema recorrente nas
produções artísticas a respeito de Roma e ela serviu por muito tempo para
justificar a superioridade dos romanos em relação aos bárbaros, assim como a
dos europeus em relação ao mundo. Os não romanos, assim, passaram a ser animais
selvagens que atacavam a “pureza” da civilização. É o que notamos no quadro O
saque de Roma pelos bárbaros em 410, de Joseph-Noël Sylvestre (1890).
Fig. 8
A segunda metade do século XX ficou marcada
pelo debate entre os modernistas e os primitivistas. Os primeiros acreditaram
que as sociedades antigas eram muito semelhantes às nossas e os segundos defendiam
o oposto. Os modernistas foram fortemente influenciados pelas ideias de Marx e da
História econômica e buscavam estudar o conflito de classes ou a luta entre
exploradores e explorados. Os maiores expoentes são Michael Rostovtzev, autor
do livro a História social e econômica do Império Romano, Ste. Croix, em
A luta de classes na Grécia Antiga do período arcaico à conquista árabe,
e Andrea Carandini, em Sociedade romana e produção escravista. Os
primitivistas, ao seu turno, podem ser entendidos como discípulos de Moses
Finley, que defendia o estudo do mundo antigo a partir das suas próprias categorias,
as quais foram estudadas em obras prestigiadas, como A economia antiga, Democracia
antiga e moderna e Escravidão antiga e ideologia moderna, sempre
procurando separar o antigo do moderno.
Com a queda do muro de Berlim na década de
1980, o Ocidente entrou em crise. As colônias deixavam a sua antiga condição
subalterna e as identidades antes consideradas superiores foram questionadas. Nesse
contexto, Martin Bernal escreveu A Atena negra: as raízes afro-asiáticas da
civilização clássica e Johathan Hall compôs A identidade étnica na
Antiguidade Grega, provando que a Hélade era um conjunto de diversas
cidades, com identidades distintas. E o mesmo vale para o império romano, ele
deixou de ser percebido como uma unidade genética de caucasianos e começou a
ser visto pelo prisma da diversidade. É o que notamos na seguinte representação
do imperador Septímio Severo, acompanhado de sua mulher e filho, na qual não
esconde a sua origem africana:
Fig. 9
Ao mesmo tempo, as modernas tecnologias de análise
permitiram observar que, para além da “branquitude” racial, a edílica também era
uma invenção dos homens posteriores. As análises dos pigmentos em Pompeia e na
estatuária revelou uma cidade muito mais diversa e colorida, tal como podemos observar
nesta releitura do Augusto de Prima Porta:
Fig. 10
Nos anos 2000, a História Antiga foi
influenciada pela era da internet. Por causa dela, conceitos como conectividade,
identidade e mundialização fundamentaram pesquisas que olhavam para o
mediterrâneo como um mundo conectado. Os três principais autores dessa guinada
são Peregrine Horden e Nicholas Purcell, com o livro O mar corruptor, e
o arqueólogo Ian Morris, o qual cunhou o termo Mediterranização para
descrever as sociedades antigas. Como exemplo, trazemos uma imagem de um sarcófago
egípcio feito para um romano:
Fig. 11
Veremos, agora, como o
cinema se apropriou de uma imagem idealizada de Roma e de Grécia durante muito
tempo, fundamentando, assim, “preconceitos históricos” muito importantes de
serem apontados pelos pesquisadores: a supremacia do “branco” nessas sociedades.
Avaliando
a História Antiga Pública
É fato que convivemos com as mais diversas versões
de eventos importantes. E o mesmo vale para a antiguidade greco-romana. Ela,
por muito tempo, foi tida da mesma maneira que os intelectuais do século XIX a
representaram: sob os signos da civilização e da branquitude.
Fig. 12
Como nosso espaço é limitado, a nossa análise contemplará
quatro produções cinematográficas contemporâneas: Gladiador (2000), Troia
(2004), Roma (2005) e Troia (2018). O motivo? Elas, além de serem mais
acessíveis ao público geral, são as que os professores geralmente escolhem para
comentar em suas aulas. E, como vimos, se essas versões públicas não forem
colocadas à crítica, podem servir como sustentáculos de “preconceitos
históricos” ou como um bom material para trabalhar com os alunos outras visões
sobre o passado. Cabe dizer também que nos resguardaremos a comentar os filmes
de maneira direta, justamente por causa do espeço concedido para este artigo,
deixando ao leitor a responsabilidade de se informar sobre os fatos mais triviais
sobre tais produções. Para tanto, dividiremos a sequência desta exposição em
dois momentos, cada um contemplando dois filmes. Os dois primeiros filmes,
contemplados no primeiro bloco, são os que consideramos como portadores do “preconceito
histórico” da branquitude, já, os dois últimos, são justamente as produções que
atacam tal preconceito.
Começaremos com o filme Gladiador. O que nos chama a
atenção neste filme, no que tange o preconceito da branquitude, é que, apesar
dos milhões de dólares investidos em cenários e na reconstrução digital de Roma,
os monumentos do Fórum e o Coliseu são tidos como desprovidos de cor,
acentuando-se, assim, a mesma visão de Roma, tal como defendida pelos teóricos do
século XIX. Vejamos o Coliseu:
Fig. 13
Hoje, a moderna arqueologia nos revela que tanto as
paredes do Anfiteatro Flaviano estavam cobertas de vermelho, com blocos
vermelhos e brancos de travertino e trechos de azurita em gesso. Ademais, a
construção era acompanhada de um velarium,
um tipo de telhado retrátil, que também era colorido, para proteger os
expectadores do tempo:
Fig. 14
O filme Tróia, por sua vez, padece desse mesmo
preconceito. Além da escolha de personagens tipicamente caucasianos, como Brad
Pitt e Diane Heidkrüger,
para interpretarem personagens do mesmo mundo estudado por Bernal, e localizado
ainda por cima na Ásia menor, a película também representa uma Troia, digamos “clássica”,
com seus monumentos sem cor, tal como se fossem a Roma do século XIX:
Fig. 15
O contraponto é a série de TV mais recente, lançada
em 2018, pela Netflix, que leva o mesmo nome, Troia. Nela, sim, percebemos o
mundo antigo de Bernal colocado em prática, no que tange a preocupação demonstrar
as raízes afro-asiáticas da cultura grega. Podemos considerar esta série, portanto,
um ótimo instrumento para combater o “preconceito histórico” da “branquitude”,
principalmente se atentarmos para a escolha do ator para interpretar o Aquiles:
David Gyasi.
Fig. 16
E não fica nisso. Zeus também é representado por um
ator negro, Hakeem Kae-Kazim, jogando por terra as inúmeras representações
pictóricas do velhinho de barbas, roupas e pele claras, soltando raios:
Fig. 17
Esta série pode ser considerada muito mais próxima
daquilo que é defendido pelas pesquisas acadêmicas mais recentes acerca do
mundo antigo, tal como estudamos no tópico anterior. Todavia, voltando ao papel
da História pública, podemos perceber que a imagem de uma Antiguidade totalmente
“branca” ainda é considerada como a “verdadeira” pelo público em geral, haja
vista as polêmicas colecionadas pela divulgação desta produção, os gregos não
podem ser vistos de outra maneira:
A respeito dessa polêmica,
“Em ‘Racismo na Grécia e em Roma’, Beard explica
que ambas as sociedades desconfiavam dos estrangeiros, e eventualmente os
desprezavam. ‘Mas não se preocupavam muito com a cor da pele’, diz”. (In: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/27/internacional/1501148623_366673.html).
Na verdade, o fato de suprematistas brancos atualmente
se preocuparem em refutar toda e qualquer ideia de diversidade étnica das
sociedades clássicas, para Beard, diz mais sobre o mundo de hoje do que a
respeito de como os antigos lidavam com isso.
Por último, a série Roma da HBO. Essa produção é
importante para este texto porque nos oferece uma visão da cidade de Roma bem
diferente daquela encontrada nas representações do século XIX e em produções,
como Gladiador. Na trama, temos uma cidade com cores muito vivas, com lixo nas
ruas, uma representação muito distante de uma Roma harmônica, linear e,
sobretudo, branca.
Fig. 19
Considerações
finais
A História
Pública da Antiguidade opera dentro de uma lógica racial e sobre a política do
embranquecimento. O modo pelo qual observamos o mundo é reeditado, recriado e
produz subjetividades. A construção da lógica racial nas representações imagéticas
e fílmicas de Roma faz-nos compreender o engendramento entre a política do
branqueamento e os modos de incidência do racismo na subjetividade negra e
branca na contemporaneidade. O Brasil é um país que vive o racismo estrutural
sustentado na hegemonia da brancura, uma brancura que, como vimos, pode ser
justificada “historicamente” dentro das civilizações mais importantes para a
formação do mundo ocidental, a saber Grécia e Roma. Isso marca privilégios por
parte da população branca e inviabiliza o acesso da população negra, em amplo
aspecto, à sua justa parcela de povos e etnias que sempre estiveram presentes
na construção das sociedades antigas.
Referências
bibliográficas
Ana Lucia
Santos Coelho é Doutoranda pela Universidade Federal de Ouro Preto.
Ygor
Klain Belchior é Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e Professor
da Universidade Estadual de Feira de Santana.
BERNAL, Martin. Black
Athena: The Afroasiatics Roots of Classical Civilization, New Brunswick, Rutger
University Press, vol.1, 1987.
CARANDINI, Andrea.
Introduzione. In: CARANDINI, Andrea & SETTIS, S. (org.). Schiavi e padroni
nell’Etruria romana. La villa di Settefinestre dallo scavo a la mostra. Bari: De
Donato, 1979, p. 13-30.
CERRI, Luis Fernando. Usos
públicos da história no Brasil contemporâneo: demandas sociais e políticas de
Estado Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades,
vol. 8, núm. 15, primer semestre, p. 3-19, 2006.
DUBY, G. Un
nominaliste bien tempéré, Dialogues, Paris, Flammarion, p. 37-66, 1980.
FINLEY, Moses I.
Ancient economy. Berkeley: University of California, 1999.
FINLEY, Moses I. Democracia
antiga e moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FINLEY, Moses I.
Politics in the Ancient World. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
FUSTEL DE COULANGES, Numa Denys. A Cidade Antiga. Frederico Ozanam
Pessoa de Barros EDAMERIS: São Paulo, 1961
GIBBON, Edward.
Declínio e queda do Império Romano. Edição abreviada. São Paulo: Companhia da
Letras: Círculo do Livro, 1989.
GROTE, G. History of Greece. v. 2. New York:
Harper & Brothers Publishers, 1853.
GROTE, G. History of Greece. v. 3. New York:
Harper & Brothers Publishers, 1867.
GUARINELLO, N. Uma
morfologia da História: as formas da História Antiga. Politeia: História e Sociedade,
Bahia, v. 3, n. 1, p. 41-67, 2003.
HALL, Jonathan. Ethnic
identity in greek antiquity. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
HAVERFIELD, F. The Romanization of Roman Britain, Oxford: Oxford
University Press, 1912.
HORDEN, P.; PURCELL, N. The Corrupting Sea: A Study of Mediterranean
History. London: Blackwell Publishers, 2000.
JULLIAN, Camille. Histoire de la Gaule. Volume II. La
Gaule Indépendante, Paris: Hachette et Cie. 1908.
MOMMSEN, Theodor.
A History of Rome under the
Emperors. Londres-New York: Routledge, 1996.
MORRIS, I.
Mediterraneanization. In: MALKIN, I. Meriterranean Paradigms and Classical Antiquity.
New York: Routledge, 2005.
ROSTOVTZEFF, Mikhail.
The social & economic history of the Roman Empire. Nova York: Biblo & Tannen
Publishers, 1926.
STE. CROIX, G. E. M
de. The class struggle in the ancient Greek world. Ithaca: Cornell University,
1998.
WEBER, Max. La Citta.
Trad. O.Padova, Milano, Ed. Valentino Bompiani, 1950.
Bom dia! Texto muito pertinente no momento. A história antiga, quase fora dos currículos da educação básica geralmente chega às crianças e jovens por meio da História pública.
ResponderExcluirA história pública é uma possibilidade não apenas de conservação e divulgação da his¬tória, mas de construção de um conhecimento pluridisciplinar atento aos processos sociais, às suas mudanças e tensões. Num esforço colaborativo, ela pode valorizar o passado para além da academia; pode democratizar a história sem perder a seriedade ou o poder de análise. Nesse sentido, a história pública pode ser definida como um ato de “abrir portas e não de construir muros”, nas palavras de Benjamin Filene. [...] Não se trata da eliminação da ciência histórica para a emergência da história pública, e sim das reflexões sobre a atuação do profissional capaz de estimular a consciência histórica para um público amplo, não acadêmico (ALMEIDA, ROVAI, 2011, p. 7).
Com tantas “leituras erradas”, “propagadoras de preconceitos”, quais perspectivas vislumbram para a história antiga com pouco espaço nas salas de aula?
Prezados Ana e Ygor, seu texto é, de fato, instigante, em especial porque trabalho com esses usos do passado que o cinema faz. Mas antes queria fazer uma pergunta: é correto colocarmos a Wikipédia no (mesmo) rol das histórias públicas, junto com o Youtube? Porque não apenas há (excelentes) referência na Wikipédia, em especial na sua versão em inglês, como já existem profissionais de história brasileiros trabalhando na tradução e elaboração dos verbetes em português. Acho que seria necessário uma distinção.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir