CINECLUBE COM A HISTÓRIA E O ENSINO À DISTÂNCIA EM: PEDACINHOS DA HISTÓRIA DO CEARÁ
Na era da comunicação digital se é “convidado” a caminhar na passada da
tecnologia e a aprender “a falar” a sua linguagem. Com o avanço da tecnologia
muda o perfil do professor e muda o perfil do aluno, esses: “nativos digitais”.
O docente dentro dessa nova perspectiva tem a tarefa de inovar as suas aulas
dentro do que hoje se entende por “currículo cultural” e assim, tentar responder
ao complexo cenário cultural em que se vive, como também, aprender a trabalhar
com todos os recursos que estiver à sua disposição e fazer deles verdadeiros
objetos de aprendizagem, esses podem ser: músicas, poesias, cordéis, histórias
em quadrinhos, revistas, cinema, entre outros. Os mesmos são fontes de reflexão
e conhecimento; o aluno envolvido no seu próprio processo de
ensino-aprendizagem participará com interesse e as aulas serão bem mais
produtivas, pois, professores e alunos estarão falando a mesma linguagem, uma
linguagem que não vai e não quer substituir o livro didático, mas,
complementá-lo com os elementos que fazem parte do cotidiano dos discentes.
Faz-se necessário que na universidade, o futuro professor, aprenda a ter
familiaridade com esses novos objetos de aprendizagem, pois, é importante que
os professores, mediadores do processo de ensino-aprendizagem, inovem as suas
aulas com os inúmeros recursos didáticos.
Nessa ótica, a experiência que passamos a relatar foi realizada através
do Projeto de Extensão “Cineclube com a História o Ensino à Distância”
(PROEX/UECE), proposto pela professora Ivaneide Barbosa Ulisses e desenvolvido
através do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) no ano passado, pelos
discentes dos polos de Camocim, Campos Sales, Iguatu, Jaguaribe e Pedra Branca
do curso de História da EAD da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos -
FAFIDAM/UECE. Como cita a coordenadora das atividades, a professora Ulisses
(2018, p.3) no documento de submissão do projeto:
“A universidade brasileira tem a responsabilidade nesse momento
conjuntural de dificuldades econômicas e acirramentos ideológicos com
procedimentos comuns de violência de fomentar debates que melhorem os diálogos
entre os grupos sociais”.
Assim, o Cineclube tem como pretensão debater temas ligados à história,
temas transversais, temas atuais, que ajudam através da visão de filmes, a
abrir os horizontes das perspectivas individuais dos alunos, tanto em relação
aos temas em si como de uma construção da experiência de se aprender por meio
da linguagem da arte, no caso, através dos filmes. A hipótese do projeto é que
os filmes tornam abertos, também, ao diálogo e ao ponto de vista do outro,
desenvolvendo uma visão clara da realidade que rodeia o futuro historiador e, posteriormente,
do seu campo de atuação. O projeto que se apresenta teve início concretamente
em março de 2018. O Cineclube, como o próprio nome dá a sugestão, é um grupo
que se forma e se reúne para debater e refletir sobre cinema, no caso, os
clubistas utilizam o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), no espaço da
secretaria do curso de História para realizar suas atividades (fóruns e chats)
esses, organizados e mediados pela professora Ivaneide Ulisses e pelos
discentes/ bolsistas Michel Prudêncio do polo de Iguatu- CE e Celiana Maria do
polo de Campos Sales- CE.
Os fóruns e chats foram propostos quinzenalmente, na prática, abriam na
sexta-feira e o debate ficava aberto até a quarta-feira seguinte, concluindo-se
com um chat de avaliação. O presente Cineclube trabalha com cinema nacional e
através dessa escolha quer chamar a atenção do clubista para a riqueza e
valorização do mesmo.
Nos fóruns propostos no primeiro semestre, os clubistas, segundo o que eles
mesmos relataram em um fórum de avaliação, aprenderam a fazer leituras de
filmes e a estarem atentos a detalhes e mensagens que nunca tinham percebido
antes da experiência do Cineclube. Debatemos, por exemplo, um curta intitulado
“Vida Maria” (Curta-metragem em 3D, 2006) aprendemos o quanto é importante não
deixarmos “o ciclo da vida se repetir”. Vimos uma série de “Curtíssimos”
(Mostra Melhores Minutos 2017) e constatamos o quanto é precioso e o quanto
podemos fazer em um minuto, repensando o uso do tempo. Refletimos sobre “A
invenção da infância” (Documentário de Liliana Sulzbach, 2000), fizemos memória
da nossa infância e percebemos também que “ser criança nem sempre significa ter
infância” e por fim, debatemos um documentário/denúncia intitulado: “Olhos
pasmados” (Documentário de Jurandir Muller e Kiko Goifman, 2000) e uma das
lições que nos deixou foi: “Semeemos o bem hoje na esperança de amanhã
colhermos o bem”. O que bem representa o positivo impacto que a experiência do
Cineclube possibilitou e possibilita aos que a ele aderem.
No segundo semestre os clubistas foram desafiados a fazerem um
documentário sobre “um retalho” da história da cidade à qual pertencem. Eles
foram divididos em grupos (por polo) e durante o semestre tiveram dicas de como
fazer um roteiro e do que era necessário para se ter um bom áudio e um bom
vídeo, a sugestão era que eles fizessem as gravações com os próprios celulares.
Foram propostos filmes para que os clubistas pudessem percebê-los como uma
sugestão na produção de seus próprios filmes. Na primeira semana de novembro,
os clubistas entregaram o trabalho realizado e a equipe organizadora reuniu
cada vídeo em um único filme, intitulado: “Pedacinhos da História do Ceará”,
disponível no Youtube: <https://www.youtube.com/watch?v=qbOW1VrIaPs>. Do polo de Camocim, o documentário aborda a questão da Ponte
Metálica do Rio Coreaú localizado na cidade de Granja, procurando apresentar a
importância desse ponto turístico para a cidade, o que representou e representa
para o município, buscando compreender como se deu sua formação, a relevância
na época de sua construção, abordando o ano, de onde veio sua estrutura
metálica, quais os custos, os materiais utilizados, comprimento, qual a empresa
responsável por sua elaboração, às razões para dar início a essa produção e
qual sua importância atualmente. A cidade de Campos Sales apresentou dois
vídeos. O primeiro destaca a construção do Santuário de São Pedro no alto do
Morro Vermelho no distrito de Quixariú e aqui foi mostrada a força da fé do Dr.
Amadeus de Araújo Arrais. O segundo mostra o parque arqueológico do Boqueirão
dos Vianas bem como os traços religiosos e mitos que fazem os visitantes se
apaixonarem pela natureza e magia que o espaço propõe. Da cidade de Iguatu foi
destacada a “Fé de Parede”, o documentário aborda uma forma de representação da
fé das pessoas e sua cultura de pendurar quadros religiosos nas paredes das
casas, montar e manter altares dos mesmos, narrado por pessoas de dois
municípios: Iguatu e Icó. Uma representação do
sincretismo religioso das pessoas e sua cultura, sua importância/simbologia
dentro da sociedade. De Jaguaribe foi enfatizada a importância do curso de
História na modalidade EAD para os jovens do município, impossibilitados de
manterem, por diversas razões, uma faculdade fora da cidade. De Pedra Branca
foi abordada a luta do vaqueiro ao transportar o gado em meio a caatinga e a
seca, e como os mesmos a partir desses encontros em volta de uma pedra conseguiram
mudar o nome do município. Através de vídeos com depoimentos de vaqueiros da
região os mesmos relatam como acontecem esses encontros, o porquê dos mesmos se
encontrarem no mesmo local, como era o nome do município antes de ser batizado
pelos vaqueiros. Nesse sentido “caem bem” as palavras de Ferro (1992, p.77):
“Na verdade, não acredito na existência de fronteiras entre os diversos tipos
de filmes, pelo menos do ponto de vista do olhar de um historiador, para quem o
imaginário é tanto história, quanto História”.
No primeiro semestre o Cineclube enviou aos participantes certificados
de 20 horas e no final do ano enviou dada à atividade proposta, dois
certificados, um de 30 horas pela participação nos fóruns e chats e outro
atestando a participação na produção do filme, favorecendo assim, as horas
extracurriculares que os discentes devem conseguir ao longo do curso.
Ao final das atividades do segundo semestre, constatamos, por
experiência, que filme é um suporte didático-pedagógico dinâmico e atrativo e
que podem influenciar positivamente no desenvolvimento de uma metodologia do
ensino de História mais consistente.
O avanço da tecnologia, como dito acima, mudou bastante o perfil do
aluno e, consequentemente, mudou o perfil do professor. Os estudantes nos dias
atuais são imagéticos e são “bombardeados” com imagens oferecida-lhes através
das redes sociais. Nas salas de aula sente-se a “urgência” de propostas
inovadoras para o ensino-aprendizagem e por consequência, de educadores
envolvidos nessas novas linguagens do ensino. Nesse sentido, o professor
Napolitano (2010) em uma palestra intitulada: “Análise de filme em sala de
aula”, diz que: “Vale registrar que o filme como “ilustração”, incremento e
reforço de um conteúdo curricular, com exceção do ensino de línguas
estrangeiras, não é a forma mais adequada”. O professor é desafiado
constantemente a inovar as suas aulas, lançando mãos dos mais variados recursos
a fim de envolver os alunos de maneira concreta nos conteúdos propostos e
assim, motivados, eles vão desenvolvendo um “sentimento de pertença”, bem como,
o professor estará também ajudando na formação crítica dos alunos.
A experiência do Cineclube é, sem dúvidas, de grande riqueza para todos
os participantes, pois, permite aos graduandos de História dos polos da UECE,
estarem reunidos em um único espaço (fóruns e chats) para debaterem e trocarem
ideias sobre os diversos temas propostos. É, sem dúvidas, uma oportunidade para
alargar mais os horizontes de aprendizagem de cada participante. De acordo com
Souza (2012, p.80): “Nesse processo de didatização do conhecimento, o filme
também aparece de forma muito recorrente como um fator motivador, uma inovação
que superaria o marasmo e a falta de interesse dos alunos”.
O presente projeto de extensão foi uma experiência fascinante em todos
os sentidos, uma vez que teve por base o respeito e o conhecimento mútuo.
Acreditamos que quando há interação entre a linguagem do cinema e a transmissão
do conhecimento, alargamos mais ainda os horizontes em prol de um
ensino-aprendizado eficiente e eficaz, e, consequentemente, colaboramos na
construção de uma sociedade e de um mundo melhor. Os filmes podem ser muito bem
aplicados em aulas não somente de história, mas também nas de geografia,
matemática, português, nesta última, pode ser utilizado, por exemplo, para se
trabalhar intertextualidade, analisar um discurso, justamente porque trazem um
recorte da realidade, seja de forma direta, implícita ou metafórica. A arte,
nesse sentido, de representação, prende a atenção dos alunos com a sua
linguagem semiótica e os insere em um determinado contexto de forma mais
profunda.
Referências
Ivaneide Barbosa Ulisses. Profa. Dra.
do curso de História/UECE/FAFIDAM; Coordenadora do Projeto de Extensão
CineClube com a História e o Ensino a Distância.
Celiana Maria da Silva. Graduanda do
curso de História/UECE/FAFIDAM; Bolsista do Projeto de Extensão CineClube com a
História e o Ensino a Distância.
ULISSES, Ivaneide Barbosa. Projeto de Extensão Cineclube com a
história e o ensino à distância. Aprovado para o período 2018.
PROEX- UECE.
________, Ivaneide Barbosa. OLIVEIRA, Michel Prudêncio de. SILVA,
Celiana Maria da. O audiovisual como linguagem de ensino-aprendizagem em
extensão. I Simpósio Eletrônico de
História do Ceará, 2018.
FERRO, Marc. Tradução Flávia Nascimento. Cinema e história. Rio
de Janeiro: Paz e terra, 1992.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura é currículo. Análise de filme em sala
de Aula. São Paulo, 06 de maio de 2010. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=n1UTnjFnBws>.
Acesso em Janeiro de 2019.
SOUZA, Éder Cristiano de. O uso do cinema no ensino de história:
Propostas recorrentes, dimensões teóricas e perspectivas da educação histórica.
ESCRITAS,
v.4, 2012, ISSN 2238-7188, p. 70-93.
Boa tarde! Gostaria de parabenizar pelo trabalho feito através do Cineclube. No texto foi muito falado da experiência que tiveram no Cineclube, e da importância da tecnologia em sala de aula. A partir disso, minhas indagações são a respeito do filme em sala de aula, quais ferramentas metodológicas devemos utilizar em sala de aula para trabalhar esses filmes? Além disso, percebo que possuem uma leitura sobre cineclubes, assim para realizar esse trabalho, quais os conceitos teóricos-metodológicos se embasaram para falar de filme enquanto narrativa histórica e para realizarem a produção de uma fonte audiovisual?
ResponderExcluirAss: Ana Cristina Rodrigues Furtado
Olá Ana Cristina obrigada pela leitura e pergunta. No cineclube iniciamos pela sensibilização, ou seja os clubistas não tinham hábito nem do filme curta, nem de documentário e poucos o costume de verem produções nacionais. Então, esse tipo de sensibilização foi uma primeira etapa. Depois a questão de leitura para além do primeiro plano, pois vc deve saber q o filme como ilustração é o q predomina ainda no espaço educacional. Temos tratando o filme como um "texto", como narrativas com diferentes linguagens (som, luz, enquadramentos, fotografias... etc), filme como "produto" de vários sujeitos, profissionais. Particularmente Paul Ricoeur e sua discussão sobre narrativa me oferece uma boa perspectiva para trabalhar filmes. Porém, nesse momento estamos no segundo ano do clube com clubistas novos e antigos. Tentando equilibrar. Espero ter respondido suas indagações. Abraço
ExcluirBoa tarde Ivaneide e Celiana, excelente texto e iniciativa! Há professores que gostariam de inserir as novas tecnologias em suas aulas, mas muitas vezes ficam perdidos em como conectá-las ao conteúdos das aulas e filmes acabam por cair na armadilha da ilustração.É de extrema importância, portanto, que os licenciandos tenham esse contato desde a graduação. Meu questionamento é, como vocês aconselhariam os professores que já estão há um tempo na profissão e não tiveram essas discussões em seu processo de formação? Como esses profissionais podem começar a inserir essa metodologia de uma forma mais problematizada? Os materiais produzidos por vocês estão publicados online?
ResponderExcluirDesde já, obrigada.
Maria Jocilene de Lima
Olá, Jocilene!
ExcluirUma das estratégias pode ser a formação continuada e a qualificação profissional do professor. Os docentes devem está sempre se aperfeiçoando e procurando inovar as suas práticas na sala de aula e assim, as aulas serão proveitosas e dinâmicas para despertar a criticidade e um novo olhar sobre os fatos. Um professor motivado, naturalmente, motiva seus alunos e cria um ambiente saudável e rico de troca de experiências.
Obrigada pela participação.
Abraço,
Celiana Maria da Silva
Olá Jocilene, obrigada pela pergunta. penso q a primeira coisa é o professor habitua-se a ver, apreciar os filmes e outras linguagens artísticas. A ideia de frequentação mesmo... não é estranho q para utilizar bem na sala as linguagens da arte se goste, se frequente espaços de arte. Sabemos q no Brasil temos enquanto cidadãos, no caso professores, realizarmos um esforço imenso para termos o mínimo de arte e cultura. Porém, o esforço parece valer a pena. Então o professor tem q se aproximar das linguagens q pretende utilizar em aulas. Quanto ao material, felizmente vez por outra temos (professora e bolsistas escritos textos e produzidos material visual q apresentamos em eventos como esse. Abraço
ResponderExcluirBoa noite.
ResponderExcluirPrimeiramente, gostaria de parabenizar o projeto e o incentivo à utilização de novas tecnologia para aproximação de turmas como as do EAD, que naturalmente, pela característica dos cursos a distância, não tem realmente muita interação entre os participantes.
Dito isto, gostaria de saber se tem sido abordado além do conteúdo dos filmes em si, como estes futuros profissionais podem abordar esta mídia em suas próprias salas de aula, principalmente para aspectos como a seleção apropriada dos filmes levando em consideração a faixa etária das turmas e para recorte de filmes extensos, haja vista as aulas de História terem um horário bastante reduzido na Educação Básica.
Um experiência que tem sido muito bacana no EAD da UFRN são as palestras com transmissão ao vivo, nas quais os alunos são estimulados a fazer perguntas online para os palestrantes. É outra alternativa para interação com os alunos do EAD.
Ristephany Kelly da Silva Leite
Mestranda (História e Espaços-UFRN)
Olá, Ristephany!
ResponderExcluirObrigada pela partilha da tua experiência e pela tua participação.
Além da leitura do filme em si, procuramos sempre descobrir qual lição podemos tirar do mesmo e refletir se ele mexeu com o nosso “sentimento de pertença”. Muitos dos nossos clubistas já atuam em sala de aula e nos fóruns e chats sempre trocamos ideias com relação à seleção de filmes para determinado assunto. O debate que produzimos é sempre muito rico e, na maioria das vezes, os clubistas que já são professores, levam as nossas propostas para as suas salas de aula e aquelas que são mães, levam para os seus filhos. A experiência no Cineclube favorece essa troca de conhecimento e de olhares. Todos aprendem: professora, bolsistas, clubistas.
Abraço,
Celiana Maria da Silva