CINEMA E ENSINO DE HISTÓRIA: O
DOCUMENTÁRIO EM SALA DE AULA ATRAVÉS DOS FILMES O TRIUNFO DA VONTADE (1935) E O DIA DA BANDEIRA (1937)
O cinema surgido no final do século
XIX criou nos homens novas formas de ver, interpretar e representar a
sociedade. Inicialmente como um modo de entretenimento e registro do “real”,
logo se tornaria um grande veículo de comunicação, educação e política. As
práticas sociais e culturais que se constituíram ao redor da cinematografia
ganharam uma atenção especial das ciências humanas e não passaram despercebidas
pelos historiadores. A sétima arte mostrou-se um produto complexo em relação à
história, trazendo novos caminhos de abordagens e aparecendo tanto na pesquisa
historiográfica quanto no ensino.
Segundo Marc Ferro (2010, p. 33), o
cinema permite o conhecimento de regiões nunca antes exploradas, abrindo
caminhos a novos olhares. Com o seu desenvolvimento a sétima arte também
assumiu uma função política-pedagógica, utilizando-a como peça doutrinária e
propagandística de vários regimes políticos. Estados Unidos, Alemanha, França,
União Soviética, dentre tantas outras nações – inclusive o Brasil – estiveram atentos
ao papel político do cinema. Essa intervenção aconteceu por métodos que
tornaram os filmes eficazes aos projetos políticos, operacionalizadas com as
devidas particularidades da sociedade que a produzia, sendo assim, experiências
únicas em cada local.
Hoje há inúmeros pesquisadores
utilizando os materiais audiovisuais que nos tem sido legado ao longo do tempo
como fonte e objeto para suas pesquisas acadêmicas. Para além disto, há diversos
professores, especialmente de História, que difundem cada vez mais o emprego de
ferramentas audiovisuais, como os filmes históricos e os documentários
comerciais, enquanto materiais didáticos.
Porém, podemos ir além dos materiais
comumente utilizados. Por exemplo, analisando o próprio conteúdo produzido
pelos regimes autoritários surgidos durante a década de 1930. Estes filmes nos
permitem a imersão na discussão sobre o uso do cinema como ferramenta
doutrinária-pedagógica e propagandística, trabalhando conceitos como a
massificação da sociedade e a legitimação política desses regimes. Como toda
utilização fílmica em sala de aula deve ser: “(...) incentivando o aluno a se
tornar um espectador mais exigente e crítico, propondo relações de
conteúdo/linguagem do filme com o conteúdo escolar. Este é o desafio”
(NAPOLITANO, 2013, p. 14).
É importante pensar que se por um
lado o acesso e incentivo ao consumo de filmes históricos e documentários
comerciais é restrito (relacionamos aqui essa categoria aos filmes do History Channel, National Geographic, BBC,
entre outros), sua possibilidade ainda se encontra garantida por meios digitais,
internet e na TV por assinatura. Todavia, o acesso às fontes históricas
audiovisuais de época nos parece ainda mais limitado, cabendo ao professor-historiador
o levantamento, apresentação, contextualização e problematização.
Para o sociólogo francês Pierre
Bourdieu (2007) a experiência dos indivíduos com o cinema é constituída pelo o
que ele denominou como “competência para ver”, uma disposição, valorizada
socialmente para analisar, compreender e apreciar a linguagem cinematográfica. Entretanto,
essa competência é gestada pela atmosfera cultural em que cada um está inserido,
isso incluindo também a escola (in: DUARTE, 2009). Em outras palavras, isso
significa pensar que nossas experiências culturais e sociais desenvolvem nossas
maneiras de ver o mundo e os filmes. Cabe a escola também a ampliação das
possibilidades e recursos para novas relações com o cinema e com as mídias em
geral. O tipo de materiais que aqui nos propomos a levar a sala de aula é ainda
produto restrito aos historiadores e/ou um público específico, apesar de se
constituir ricas narrativas que podem ser levadas também às salas de aula.
Na Alemanha dos anos 30 e 40 os
nazistas utilizaram do cinema como ferramenta política. Adolf Hitler financiou
diversas produções de documentários que exaltavam o nazismo. Solicitado pelo Führer, a diretora alemã Leni Riefenstahl
produziria “O Triunfo da Vontade” (1935),
que traz em sua narrativa discursos e imagens ressaltando a força e influência
do Partido Nazista perante as massas. As imagens representam ricas fontes para
o estudo da propaganda do Terceiro Reich. Utilizar esses filmes em sala de
aula, por exemplo, nos permite uma abordagem sobre o papel da cultura na
Alemanha nazista, através das práticas e representações que instituíram o
Nazismo como o discurso hegemônico.
O “Triunfo da Vontade” retratou o VI Congresso do Partido Nazista ocorrido entre os dias 4 e 10
de setembro de 1934 na cidade de Nuremberg. Segundo Ana Elisabeth Rodrigues
Faro: “O congresso foi planejado para ser o maior e o mais suntuoso do país,
devendo demonstrar o poder e a união do Partido sob a liderança de Hitler”
(FARO, 2008, p. 1). De fato, os congressos do partido eram grandiosos eventos,
em que os nazistas espalhavam a magnitude de seus projetos, através de
discursos que eram recebidos pela população com entusiasmo. Tendo uma atenção
especial para os congressos, o Führer enxergou
nesses eventos, um forte meio de propaganda e autoafirmação do poder nazista
perante as massas. De acordo o historiador canadense Modris Eksteins: “Enquanto
os anos passavam dava-se atenção cada vez maior a encenação das comemorações do
partido, particularmente aos comícios-monstros anuais de setembro em Nuremberg”
(EKSTEINS, 1991, p. 408).
Leni Riefenstahl revolucionou o cinema do período por
trazer inovações à estética documental e também marcou a história por ficar
conhecida como a “cineasta de Hitler”. Ela
foi peça fundamental de um grande maquinário de propaganda política do nazismo,
que exaltava os trabalhadores alemães, os discursos dos líderes do partido e
também toda a esfera de entusiasmo dos alemães para com o Führer. Segundo Eksteins
(1991, p. 406): “(...) a cineasta (...) evocou a ‘beleza’ do nazismo, provinha
de uma fascinação conjunta pela ‘arte’ do controle social”.
A propaganda foi um forte aliado para o fortalecimento
do discurso nazista na sociedade alemã. O próprio Hitler fez várias
considerações sob o tema em “Mein Kampf”.
O papel social da propaganda política como legitimadora do poder deu novos
significados a uma Alemanha que havia sido derrotada durante a Primeira Guerra.
O cinema como propaganda foi uma novidade do século XX.
Enquanto que para muitos empresários era encarado como um grande negócio,
bastante lucrativo às desesperanças econômicas da época; para o Estado, o
cinema foi visto como um forte veículo de propaganda. Segundo Marc Ferro (2010,
p. 16): “(...) desde que os dirigentes de uma sociedade compreenderam a função
que o cinema poderia desempenhar, tentaram apropriar-se dele e pô-lo a seu
serviço (...)”. Não só os alemães se utilizaram da sétima arte enquanto
ferramenta política: durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos
produziram vários filmes de caráter patriota e antinazistas que serviram de
propaganda de guerra. Alguns filmes como Horas
de Tormenta (Watch on the Rhine,
de 1943), Os Filhos de Hitler (Hitler’s Children, de 1943) e A Sétima Cruz (The Seventh Cross, de 1944) são exemplos da propaganda antinazista
produzida por Hollywood. Mesmo antes da
entrada dos EUA no conflito, a indústria americana já havia produzido diversos
filmes com esse teor.
Em março de 1933, foi criado na Alemanha Nazista o
Ministério de Informação e Propaganda Alemã, que possuía um departamento
específico destinado ao cinema. Departamento destinado especificamente ao
cinema, que inspiraria a política cultural e propagandística de outros governos
como é o caso do Estado Novo brasileiro (ALMEIDA, 1999, p. 123). O próprio
Joseph Goebbels, ministro da Propaganda durante o Nazismo, possuía uma
admiração especial ao cinema, reconhecendo o papel doutrinário que o mesmo
poderia operar na sociedade. Goebbels acompanhava de perto a produção cinematográfica
alemã do período. O nazismo buscou um aparelho de controle social através de um
artefato cultural.
No Brasil, o Estado Novo (1937-1945) marcou a
emergência de um nacionalismo patrocinado pelo governo. A questão nacional fez
parte do projeto político voltado à cultura, educação e propaganda. Todavia, tais
propostas têm raízes no período que vai de 1930 a 1937, durante uma primeira
fase do Governo Vargas iniciada pelo Golpe de 1930, junto aos intelectuais e
políticos que promoveram medidas centralizadoras e de controle social que se
tornaria base do novo regime. O Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC),
fundado em 1934 e o Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE) de 1936,
assumiriam neste período o papel de formadores da nação, sobretudo no que diz
respeito à produção cinematográfica.
O cinema passa assim a ser visto em
seu valor político e foi diretamente ligado ao Estado. Tornou-se uma questão de
moral pública e política, era a escola viva para as massas, uma “influência aos
cérebros em formação”, como destacou Roberto D’Assunção Araújo. Em função
disso, era preciso extirpar da sociedade o mau cinema, aquele que infiltra “más
ideias” nas pessoas dispostas a aprender tudo, de bom ou de mal. O cinema
tratava-se de uma questão de ordem.
Enquanto que o DPDC era vinculado ao
Ministério da Justiça, o INCE, criado em 1936, fazia parte do Ministério de
Educação e Saúde. O projeto do INCE, iniciado em 1935, contou com um longo
estudo sobre a situação do cinema educativo no Brasil e no mundo. Mostrando a
necessidade de criar um órgão que pensasse e sistematizasse o cinema educativo
aplicáveis ao ensino e à educação do povo, o projeto faz duras críticas ao
rádio “que em nada tem contribuído” para a formação nacional, exaltando a
importância do cinema na vida moderna e o seu desenvolvimento nos países
europeus (GCg 35.00.00/2. Centro de Pesquisa e Documentação Contemporânea/CPDOC
– Fundação Getúlio Vargas/FGV).
Para a formação do INCE, alguns
exemplos europeus foram observados. Em julho de 1936, Roberto Assumpção de
Araújo, jovem nadador brasileiro participante das Olimpíadas de Berlim, aceitou
o pedido do Ministério da Educação para que em sua viagem relatasse a situação
do cinema educativo na Alemanha, Bélgica, França e Itália. Posteriormente Araújo
viria a trabalhar para o INCE. Em 1939, ele defenderia a tese “O cinema
sonoro e a educação”, em que afirma a importância do cinema como
instrumento pedagógico e como a sonorização veio qualificar esse aparelho.
Seu relatório sobre a experiência
europeia cita o caso dos alemães que em 1934 fundaram um departamento do
governo para o controle, produção e distribuição de filmes educativos de nível
secundário e superior, o Reischtelle fur den Unterrischtsfilm. Com uma
boa estrutura, salas equipadas, laboratórios modernos e com uma das cinematecas
mais ricas do mundo, Roberto Assumpção exalta o órgão alemão. Também era de sua
responsabilidade a produção da revista Film und Bild que contava com um
relatório mensal de suas atividades e catálogo permanente dos últimos filmes.
Até o momento de sua visita, ele descreve que já haviam sido realizados pelo
órgão 322 filmes. Contribuíam para a realização desses filmes as universidades,
escolas técnicas e institutos científicos, prática que será adotada também pelo
INCE.
Sobre o cinema educativo francês,
Roberto Assumpção elogia o trabalho da Musée pédagogique de l'Etat, do
Ministério da Educação Nacional, que trabalhava com filmes escolares; o Institut
de Cinema Scientifique e Association pour la Documentation
Cinématographique dans les Sciences, destinados aos filmes científicos e
documentários, destacando a parceria entre governo com as associações não
oficiais e iniciativa privada. Roquette-Pinto, que posteriormente também fez
suas considerações sobre o trabalho do cinema educativo nesses países chamou
atenção para a preocupação pedagógica e o uso científico do cinema.
Referenciando novamente a Marc Ferro (1983, p. 11), é importante relevar que a
construção de um passado, ou nesse caso específico, da ciência, muitas vezes
associado aos livros didáticos, também passa pelos diversos veículos de
comunicação existentes, como os quadrinhos, o rádio e o próprio cinema, não se
limitando aos livros científicos.
O cinema respondia (e ainda responde)
às preocupações políticas de cada lugar.
Na Itália de Mussolini, buscando a regeneração pós-guerra, o próprio
general exaltava que “o cinema é a arma mais forte” (SCHVARZMAN, 2000, p.
222-223). As experiências italianas, francesas e alemãs sobre o cinema formaram
uma grande influência para a política cultural do Estado Novo. Os órgãos
brasileiros apesar de influenciados por esses múltiplos olhares sobre o cinema
viriam atender as particularidades do Estado Novo e dos próprios realizadores locais,
não resultando assim numa cópia dos órgãos europeus, mas uma apropriação do
caráter emergencial que o cinema trazia para a vida política, adaptado as suas
necessidades.
Durante a década de 1930, duas
vertentes permearam a atenção do Estado sobre o cinema: a questão educativa,
nessa busca pela formação do homem brasileiro através da educação formal; e a
propaganda de massas, vinculada a difusão dos valores propostos pelo regime ao
povo brasileiro. Ambas se completariam pela censura, controlando posições
contrárias ao discurso dominante. Com a instauração do Estado Novo em 1937, o
governo brasileiro precisou fortalecer ainda mais a questão da propaganda
política e a formação nacional.
O uso de símbolos e imagens foi
fortemente explorado pela política cultural e propagandística do Estado Novo.
“A bandeira brasileira e a figura de Vargas foram os símbolos mais explorados
nas representações visuais do Estado Novo” (CAPELATO, 2009, p. 52). As
festividades serviriam como palco da consagração política. Na Capital Federal,
o jornal Correio da Manhã noticiava a expectativa de milhares de pessoas na
Praça Paris onde seria armado o Altar da Pátria, para a realização da cerimônia
cívica e religiosa. O presidente e as autoridades ficaram num palanque especial
nos pés do Altar da Pátria. Tudo estava envolto não apenas da cerimônia, mas do
próprio sentido dado ao “recém-inaugurado” Estado Novo. As realizações daquele
dia foram amplamente propagandeadas pelos jornais e por outros meios de
comunicação. O cinegrafista Alberto Botelho, dono da A Botelho Films, também acompanhou a cerimônia, registrando os
principais pontos do evento.
O filme “Bandeira do Brasil”, realizado em 35 mm, preto e branco, foi um dos
primeiros registros do Estado Novo. Curta-metragem sonoro, o documentário foi
feito sob os padrões discursivos do regime: exaltação da figura do presidente e
principais autoridades, e obviamente, a bandeira nacional como unidade e objeto
de devoção.
A primeira parte do filme é destinada
à realização da Missa Campal no Altar da Pátria que conta com uma bandeira de
mais de dez metros por trás da parte superior do púlpito. Celebrada por Dom
Sebastião Leme, a cerimônia taxada pelos jornais como cívico-religiosa, contou
com um coro orfeônico, que entoou os cantos da missa regidos pelo maestro
Heitor Villa-Lobos, outra personalidade que manteve uma relação direta com o
novo regime. Durante o filme de Alberto Botelho, as massas aparecem uniformes,
formando uma harmonia não só sonora, como corporal. Esses corpos coletivos
fazem contrastes com as figuras individuais das personalidades políticas que
aparecem durante os cantos. Ao falar sobre o cinema de Leni Rienfenstahl, Susan
Sontag explica como a estética da cineasta alemã transforma pessoas em massa,
sem individualidade, “agrupamento de pessoas ao redor de uma força toda
poderosa e hipnótica ou de uma figura-líder” (SONTAG, 1986, p. 72).
Terminada a missa campal, o
hasteamento da bandeira nacional foi feito por Vargas, que no discurso afirma
estar também erguendo toda a nação. Sendo hasteados ao mesmo tempo vemos outros
vinte e dois mastros com iguais bandeiras do Brasil, simbolizando os estados.
Tudo é unidade, o Brasil é um só. Vê-se então uma multidão balançando pequenas
bandeiras em suas mãos. A coesão nacional possuiu uma trilha: o Hino da
Bandeira. “Recebe o afeto que se encerra em nosso peito juvenil / Querido
símbolo da terra, da amada terra do Brasil!”. É feito então a cremação das
bandeiras estaduais, que desapareceram com a Constituição de 1937, motivo
destacado pelo narrador: para serem
substituídas por uma só bandeira, a nacional.
O discurso de Francisco de Campos,
segunda e última parte do filme, é emblemático. O peso desse personagem na
película pode ser justificado pelo fato de ser ele o autor da constituição de
1937. Seu discurso é enfático na questão da bandeira como símbolo de unidade
nacional, explorando o aspecto sentimental e o direcionamento para que seu
público seja parte constitutiva desse novo regime:
“[...] Bandeira do Brasil és hoje a
única, hasteada esta hora em todo território nacional única e só. Não há lugar
no coração dos brasileiros para outras flâmulas, outras bandeiras, outros símbolos.
Tu és a única porque só há um Brasil. Em torno de ti se refaz de novo a unidade
do Brasil. A unidade de pensamento e de ação. A unidade que se conquista pela
vontade e pelo coração. A unidade que somente pode reinar quando se instaura
pelas decisões históricas, por entre as discórdias e as inimizades públicas,
uma só ordem moral e política, a ordem soberana feita de força e ideal, a ordem
de um único pensamento e de uma só autoridade: o pensamento e a autoridade do
Brasil. Trabalhar por ele e defendê-lo dedicando ao Brasil o vosso pensamento e
o vosso coração. Antes de tudo, soldados do Brasil. A vocação da juventude em
horas como esta deve ser a vocação dos soldados seja qual for o seu nascimento,
a sua fortuna, a sua inclinação, o seu trabalho. Que cada um na sua escola, no
seu oficio, na sua profissão, seja um soldado.”
Durante sua fala, as imagens exibem
diversas marchas, os grupos presentes empunham a bandeira nacional. Jovens,
homens, mulheres e crianças aparecem em vários grupos desfilando e empunhando a
bandeira nacional. No final, um desfile militar aparece, carregando ao invés da
bandeira, armas. As forças do Estado Novo eram assim traçadas pela
representação fílmica: autoridades políticas, militares e religiosas em
consonância com a população, davam forma ao corpo imagético da nação. Dessa
maneira, dava-se corpo ao regime sob uma impressão de realidade a que se
propunha o documentário.
A construção da realidade através das imagens, ou a sua
impressão de realidade é um tema bastante presente nos estudos da relação entre
Cinema e História. Ainda mais quando sobre o documentário. Gênero comumente
denominado como “não ficcional”, traz em si alguns problemas conceituais que
expõe a compreensão sobre o que é cinema, sua função e seu objeto.
Para além das discussões sobre ficção e documentário,
ressaltamos que todo filme documenta algo. É testemunha de uma época. Um
presente registrado e, muitas vezes, um passado representado. Temas, textos,
cores, sons, movimentos de câmera, tempos, etc. Inclusive, aquilo que está fora
da imagem. Todo filme é um filme-documento. Utilizar esses filmes seja na
pesquisa historiográfica ou em sala de aula é instigar a investigação do
passado através de novos caminhos. Um caminho aberto à inquietação e constantes
descobertas.
Referências
Arthur Gustavo Lira do Nascimento é Doutorando e
Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) onde
desenvolve pesquisa na área da História Cultural do Cinema sob financiamento da
CAPES/DS.
Flávio Weinstein Teixeira é professor adjunto da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e orientador de mestrado e doutorado
do Programa de Pós-Graduação em História. Tem experiência na área de História,
com ênfase em História Cultural/Intelectual.
ALMEIDA, Cláudio Aguiar. Cinema como agitador de
almas: Argila, uma cena do Estado Novo. São Paulo: Ed. Annablume, 1999.
ARAÚJO, Roberto Assunção. O cinema sonoro e a
educação. Tese. 1939.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do
julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena:
propaganda política no varguismo e no peronismo. São Paulo: Editora UNESP,
2009.
DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
EKSTEINS, Modris. A sagração da primavera: a grande
guerra e o nascimento da era moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
FARO, Ana Elisabeth Rodrigues. O triunfo da vontade: o
cinema a serviço da ideologia. Revista: O Olho da História, n.11, dezembro,
2008.
FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos
meios de comunicação. São Paulo: IBRASA, 1983.
FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2010.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de
aula. São Paulo: Contexto, 2013.
SCHVARZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as Imagens do
Brasil. Tese de Doutorado. Departamento de História da UNICAMP, Mimeo 2000.
SONTAG, Susan. Sob o signo de Saturno. Porto Alegre:
L&PM Ed., 1986.
Arthur, o ponto de tratamento do seu artigo, pelo que pude ler, diz respeito aquilo a que o Marc Ferro chama de leitura historiográfica do cinema. De todo modo, eu gostaria de compreender melhor quais seriam os meios de exposição na aplicação desse método. Qual é a maneira mais palatável de apresentar estes conteúdos para um aluno de História e em que direção orientar a sua reflexão (do aluno) em cima deles (os conteúdos)?
ResponderExcluirFelipe Monteiro Pereira de Araújo
Olá Felipe Monteiro, nossa proposta é justamente levar essa leitura historiográfica do cinema às salas de aula. No diálogo entre o historiador/pesquisador e o historiador/professor. Nosso ponto de partida é pensar no que Bourdieu fala sobre o cinema, em especial em explorar novas leituras (também, talvez, a formação de um "capital cultural"); nos propomos a levar esses filmes para serem discutidos em sala como fontes históricas e materiais didáticos. Seu uso é pensado para o Ensino Médio. Eles são usados após aulas que discutem totalitarismo e regimes autoritários ao longo da primeira metade do séc. XX, a propaganda na Alemanha Nazista e no Estado Novo brasileiro, o conceito de "massas", entre outros aspectos. Tudo isso abarcando conteúdos tanto de história quanto de filosofia/sociologia. Na experiência que tive com esse trabalho, claro, o tempo de sala de aula foi suficiente. Como complemento nos dois anos que fiz esse trabalho, realizei um oficina sobre o nazismo, onde pudemos aprofundar o assunto. Desenvolvendo os conceitos, a apresentação do material fílmico serviu para que os alunos explorassem de maneira crítica a construção da própria imagem do regime (como o filme é montado, os discursos, quem discursa, a presença do povo alemão/das massas). Dessa maneira, dialogamos também com as propostas metodológicas de Marcos Napolitano em seu livro "Como Usar o Cinema na Sala de Aula" (2003), tanto na questão do preparo e uso dos filmes, como também já citada, na questão de levar um material diferenciado para os alunos (para além dos Blockbusters, que também podem ser ótimas ferramentas). No final o saldo foi positivo, os alunos e alunas tinham muita curiosidade de ver como eram os discursos desse personagens (Hitler e Vargas), problematizando e explorando a criticidade sobre aspectos históricos e de montagem fílmica, se torna um material muito estimulante. Forte abraço!
ExcluirTexto muito interessante que propicia uma oportunidade bastante rica para a reflexão do leitor acerca de um tema importante e atual. De fato, a utilização de filmes como ferramenta pedagógica parece vantajosa, desde que o professor se atente à necessidade de cuidar para que os alunos não tenham o filme como representação da verdade.
ResponderExcluirUm ponto intrigante contido no texto é a utilização de filmes produzidos na própria época que se deseja estudar, como o são os documentários citados no texto.
Mas, ao contrário das produções comerciais, esse tipo de material não tem acesso tão facilitado. Nesse sentido, os autores não consideram que essa dificuldade de acesso inviabilizaria (ou dificultaria em muito) o uso desse tipo de produção fílmica nas aulas de história em turma do ensino médio, por exemplo?
Obrigado.
Guilherme Cyrino Carvalho
Olá Guilherme! De fato, sob a perspectiva de Bill Nichols e Robert Rosenstone, que utilizamos bastante, todo filme é uma representação. Seja ele documentário ou ficcional, e precisamos problematizar seus discursos e não tomá-los por verdade. O trabalho com o cinema, inclusive, exige o mínimo de conhecimento sobre a linguagem, aspectos de montagem, questões sobre representação... uma discussão prévia sobre isso estimula muito os alunos a ver/assistir os filmes de maneira mais crítica. Especialmente os documentários que muitas vezes nos traem ao caminho da "verdade" (é tudo verdade!), quando todo filme é uma montagem. Sobre o acesso aos filmes, trabalhei muito os filmes alemães em projetos nas escolas, com oficinas temáticas, exibições e afins, os filmes alemães que eu citei não são de difícil acesso: O Triunfo da Vontade e Olímpia (filme que eu queria ter explorado mais nesse artigo, mas utilizei pouco) são dois clássicos do documentário e de L. Riefenstahl, você encontra eles facilmente para download e em plataformas como o Youtube, as vezes trechos, as vezes completos (especialmente o primeiro). Os filmes do Estado Novo são mais difíceis, há uma filmografia de fácil acesso sobre ficcionais do período, especialmente de Humberto Mauro e do INCE, como O Descobrimento do Brasil (tem um livro excelente do Eduardo Morettin sobre o tema). Os documentários do estado novo brasileiro são raríssimos de ser encontramos, há como consegui-los apenas na Cinemateca Brasileira (SP). Como eu trabalhei com o período no meu mestrado tive acesso e sempre os levo a sala de aula. É muito interessante essa sua reflexão, pois inclusive esbarra na questão da nossa preservação audiovisual, como alguns materiais (especialmente os materiais dos governos estaduais) se perderam ou estão se perdendo com a falta de tratamento. E como essa não preservação dificulta que a gente possa levá-los a sala de aula. Obrigado pelas considerações, qualquer coisa, estamos a disposição! Abraços.
ExcluirBoa tarde! Gostaria de saber como poderíamos trabalhar o cinema nas sala de aula, levando os alunos/as a compreender os filmes como fonte histórica?
ResponderExcluirDavid Silva Dias
Olá David, trabalhamos esses filmes como uma construção. Uma representação dos regimes sobre os próprios regimes. Para a efetivação de um bom trabalho em sala de aula é extremamente importante que alguns conceitos sejam discutidos antes: totalitarismo/autoritarismo, uso da propaganda, a legitimação política, a participação e o próprio conceito de "massas". Em nosso caso, a utilização em sala de aula foi feita com uma oficina prévia que discutia esses aspectos em relação ao Nazismo. No final, os filmes despertaram a curiosidade para que os alunos vissem "como era a Alemanha naquele período", "como eram os discursos de Hitler", após a problematização, eles puderam perceber que até mesmo o documentário é uma narrativa construída e não se trata da realidade "tal como ela é", mas uma construção narrativa que atende a interesses específicos. Para saber mais sobre os métodos de como utilizar os filmes e o diálogo dessa relação entre a pesquisa/fonte histórica/sala de aula, recomendamos a leitura do livro do Prof. Marcos Napolitano, "Como Usar o Cinema na Sala de Aula" (2003), ele traz muitas propostas interessantes e provocadoras, para além da ideia do filme apenas como "ilustração". Forte abraço!
ExcluirBoa tarde.
ResponderExcluirO trabalho nos direciona para a compreensão de que o recurso audiovisual pode ser utilizado e o foi, por vários projetos políticos como forma de dominação e divulgação de projetos de poder. Utiliza exemplos para ilustrar isso.
Como fonte histórica o cinema tem se mostrado muito promissor existem muitos trabalhos nessa linha. No entanto como material pedagógico o uso do cinema e audiovisual ainda nos parece na prática mais uma ferramenta de ilustração do que um recurso de aprendizagem.
Pergunto então. Como o recurso audiovisual poderia, para além de uma forma de ilustrar o conteúdo, ser utilizado como uma fonte histórica em sala?
Obrigado pela atenção.
João Batista da Silva Junior.
Olá João Batista, usamos como referência metodológica para o uso do cinema na aula de história o livro do Prof. Marcos Napolitano "Como usar o cinema em sala de aula" (2003). Neste livro há diversas sugestões de modos de trabalhar o cinema sem cair nos "velhos erros". Entre um dos aspectos... Para esse trabalho, pensamos, tal como Naplotina que o filme não deva ser visto como uma mera ilustração, mas que integre parte de um trabalho muito mais amplo que vai além do próprio filme. Como relatei em outras resposta, a utilização do filme O Triunfo da Vontade em meu caso fez parte de uma Oficina realizada sobre o Nazismo, onde pudemos discutir a construção da imagem de Hitler, do próprio nazismo, a questão das massas (integrando a conteúdos de sociologia) e a propaganda política. O trabalho com o filme sai do campo da ilustração quando nos propomos a discuti-lo, a decompo-lo, fazendo uma analise estética de sua montagem e de sua construção discursiva. O documentário, tal como o ficcional, é uma construção. Articulado por interesses específicos. Forte abraço!
ExcluirObrigado pelos esclarecimentos e pela indicação de leitura. Concordo plenamente com você. Abraço.
ExcluirBoa noite. Excelente texto, Arthur e Flávio. Sou historiador e minha área de pesquisa é o estudo da Segunda Guerra. Então, considerando que o Estado Novo possuía um aparato desenvolvido em prol da censura, tanto jornalística, quanto nos meios de comunicações e até postal, gostaria de saber de que forma o cinema brasileiro foi afetado durante o Estado Novo em relação às suas produções e se isso hoje, provoca reflexos no estudo da história para o período em questão?
ResponderExcluirObrigado.
Marcos Antonio Tavares da Costa.
Olá Marcos! Existem inúmeras relações do cinema brasileiro com o Estado Novo: da questão da censura ao fomento de realização de filmes educativos e cinejornais; muitas coisas mesmo. Existem alguns trabalhos que posso pontuar alguns desses aspectos: Cláudio Aguiar Almeida em "O cinema como agitador de almas" fala da relação do filme Argila com o Estado Novo; O Eduardo Morettin em "Humberto Mauro, cinema, história", faz uma análise da trajetória e obra desse importante nome para o cinema no estado novo que foi Humberto Mauro, diretor do INCE (Instituto Nacional de cinema Educativo). Há vários trabalhos sobre a relação do INCE na promoção de um cinema Educativo do estado novo e sobre os cinejornais produzidos pelo Departamento de Imprensa e Propaganda. Também posso recomendar minha dissertação "O Estado sob as lentes: a cinematografia em Pernambuco durante o Estado Novo (1937-1945)", onde apesar de especificamente trabalhar sobre o cinema em Pernambuco nesse período, busco fazer um apanhado do cenário nacional. Aqui em Pernambuco, a Meridional filmes, empresa cinematográfica local, foi contratada diversas vezes pelo interventor e ministro de Vargas, Agamenon Magalhães, para fazer curtas sobre as ações do estado novo em Pernambuco. O contato com essas esferas políticas permitem a sobrevivência de um cinema na região e os primeiros experimentos com cinema sonoro. Essa dissertação está disponível no site do Repositório UFPE. Espero que goste! Cinema e Estado Novo é um tema que dá pra trabalhar sobre várias perspectivas e inúmeros objetos. Abração!
ExcluirBoa Noite!
ResponderExcluirAo que pude compreender seu trabalho evidencia o uso do cinema como propaganda política para fortalecimento/difusão de poder. Sendo assim, tais produções estão repletas de pensamentos e ideais da época em que foram produzidas. Como levar o aluno a desenvolver a "competência para ver" citada por Pierre Bourdieu, ou seja, a análise crítica e contextualizada destes vídeos?
Obrigada
Marcela Adriana Grandi
Olá Marcela. Trabalhamos com esse material e outros similares de duas maneiras: primeiro, um prévia introdução aos conteúdos que competem, no nossa caso... Totalitarismo/autoritarismo, uso da propaganda, censura, controle dos meios de comunicação, relação do Estado com os artistas, o conceito de massas. Tudo isso inserido no conteúdo programático (neste caso, aulas de ensino médio). Num segundo momento, conforme sugere Marcos Napolitano em seu livro "Como usar o cinema em sala de aula" (2003) ensinamos um pouco de análise fílmica: questões de montagem, enquadramento, estética. Pra debater cinema é necessário conhecer ainda que minimamente os elementos desse campo, se não, nós mesmos antes dos alunos, estaremos apenas ilustrando. Essa minha proposta é para que o aluno compreenda numa relação entre análise fílmica x conteúdo programático. É importante ressaltar que todo filme é uma construção, atende aos inertes do tempo em que foi gestado. Se houver um trabalho bem elaborado previamente, podemos quebrar essa prática do cinema como ilustração. Os alunos se veem instigados a analisar. É importante estimular, pois, muitos desses alunos não possuem essa "competência pra ver o documentário", muito menos um de época. Se as turmas forem grandes uma possibilidade é trabalhar com trechos e debate-los. Por exemplo, em O Triunfo da Vontade a chega de Hitler vindo de avião ao congresso foi interpreta por um aluno como um messias que desse dos céus. Nisso, já tínhamos discutido dentro da análise sobre regimes totalitários como há a personificação do líder. A partir desse prévio trabalho, os alunos conseguem perceber vários elementos dessa construção da imagem de Hitler no filme. É um trabalho mais árduo do que a "ilustração".
ExcluirMuito interessante sua abordagem a respeito dos usos do cinema no ensino de história. Quais seriam as propostas didáticas de abordagem destes filmes?
ResponderExcluirOlá Cleverton! Todo trabalho de métodos para aplicar o filme na aula é baseado no livro "Como usar o cinema em sala de aula" (2003) do Prof. Marcos Napolitano. Dentre as várias propostas de abordagem, pensamos na realização de uma Oficina que trabalha previamente alguns conteúdos ligados ao estudo desses regimes: o controle do Estado, a censura, os meios de comunicação, as massas, os intelectuais e artistas que produziam para esses regimes e afins, não necessariamente específico sobre o cinema. Mas abordando temas que inclusive estão no conteúdo programático do ensino médio. Também propomos ensinar um pouco de análise fílmica aos alunos (proposta do Napolitano), pois, criar nos alunos essa competência para analisar os filmes pode buscar fazer com que a utilização do filme não seja apenas uma ilustração. Eles passam a investigar o próprio filme, seus discursos, seus planos, como as imagens se centralizam nos personagens. Nossa principal perspectiva é essa, para se falar sobre cinema é preciso conhecer o cinema. Compreendendo o mínimo sobre esses aspectos, os alunos conseguem fazer uma leitura mais apurada sobre os filmes, com criticidade. Abraços!
ExcluirOlá. Gostei bastante do texto. Rico em informações e bastante inspirador, no entanto a dificuldade pra mim é de acesso do aluno ao material fílmico de qualidade. Então, vem uma primeira pergunta: sugestões de sites, arquivos online que teríamos como consultar e selecionar para aulas no ensino básico? Outra questão q me chama atenção no seu texto é o uso do filme como fonte em sala (coisa complicada) , pois a dificuldade é grande, filme ainda é visto como ilustração... pode escrever mais sobre suas próprias experiências e como lidam com a questão? Obrigada e parabéns pelo trabalho
ResponderExcluirOlá Ivaneide. Como afirmei em outras respostas, para utilizar o cinema como fonte é preciso um trabalho prévio, desenvolver alguns conceitos como totalitarismo, censura, uso da propaganda como ferramenta política, a própria compreensão do conceito sociólogo de "massas". Um trabalho dialogando com esses elementos vai fazer os alunos se instigaram a ver os elementos dessas ações nos filmes. Explorei muito o uso desse material por esse caminho. Um site bom para encontrar ótimos materiais e raros é o Making Off. Os filmes alemães por incrível que pareça são mais fáceis de conseguir, os do Estado Novo estão restritos a acervos e com difícil acesso. Como sou pesquisador da área consegui alguns materiais com muita luta. Mas enfim, é isso.. Levar a nossa pesquisa para as salas de aula! Forte abraço.
ExcluirConvalidando com a ideia de um comentário anterior, infelizmente a exibição fílmica foi consolidada nas escolas brasileiras como ilustração. Já tive algumas experiências ao participar de CineClubes, onde se assistiria o filme como "atividade" e o debate ocorreria em sala de aula, tanto sobre questões históricas, estéticas, e específicas da própria indústria; haveria alguma outra forma de se abordar a utilização desta mídia?
ResponderExcluirObrigado!
Bruno de Oliveira da Silva
Oi Bruno. Os alunos adolescentes costumam ser bem curioso, gostam do tema da Segunda Guerra e tem um imaginário mítico para o Hitler, por tudo que ele representa para a história. No caso desses filmes (isso também vale pro Vargas) foi um caminho "mais fácil" estimular a garota a querer ver esses discursos, pois, eles tiveram contato pela primeira vez com representações em movimento desses personagens. Puderam ver e ouvir.E dialogando com conteúdos de sala de aula preparamos eles a observar como esses filmes são construções estratégicas para enaltecer o regime e a figura do governante. Claro, com outros filmes é mais difícil estimular a garotada, mas eu apostaria na curiosidade. Trazer histórias e matérias nunca antes usados em sala. Por isso gosto de trabalhar com fontes históricas. Abração!
ExcluirBoa noite Arthur, parabens por nos possibilitar esse texto e saindo um pouco do seu corte (peco desculpas) por isso. Gostaria de saber se ja pensou no uso dos filmes atuais como da Marvel para fazer um paralelo aos citados. Claro que sao olhares diferentes, mas tambem tem suas intencoes - ao menos quando iniciou suas producoes - propagandisticas. Como seria pensar esse tempo historico - Segunda Guerra Mundial a partir do mundo Marvel ou Dc? Seria possivel?
ResponderExcluirNovamente parabens
Aline Cristina Pereira de Araújo Ramos
Sim Aline, acredito que muitos filmes podem ser usados. Incluindo esses novos, tanto pra pensar questões contemporâneas, quantos ligadas a outros contextos históricos. Um filme ele pode se ligar ao mesmo tempo ao passado e presente, atendendo não só a reflexões sobre o nazismo é o séc. XX como um todo, como.a questões atuais, como a questão de gênero. Dá muito pano pra manga pra se trabalhar! Eu já usei em sala o quadrinho do Capitão América (lá quando iniciou) e o filme contemporâneo do herói. Dá pra desenvolver muita coisa bacana.
ExcluirO cinema foi um grande agente doutrinal dos ideais nazistas, numa Alemanha cujo orgulho nacional tinha sido arrasado pela Primeira Guerra Mundial, na sua opinião o cinema sem ser usado de forma sabia pode causar outra catástrofe como a que ocorreu na segunda guerra mundial? LEIDE DAYANA MAGALHÃES SOARES
ResponderExcluirOlá Leide! Eu acredito que qualquer material ou discurso feito em sala tem que se me feito com cuidado. Não seria diferente com o filme. Mas discordamos dessa influência a ponto de acontecer "o que aconteceu". Na verdade, não temos como prever nada. Porém, no caso dos filmes é sempre bom usá-Los problematizando, especialmente para tentar evitar que os alunos se envolvam com os discursos "cativantes". Mas veja discursos tão ruim quantos estão em vários outros filmes, estão em nossos políticos, estão até mesmo em nossa família. Sempre bom ficar atento ou atenta!
Excluir2º) Quais foram as grandes contribuições ao processo educacional das escolas com a presença do cinema em sala de aula?
ResponderExcluirLEIDE DAYANA MAGALHÃES SOARES
Ao meu ver, uma linguagem que se conecte com a realidade dos alunos. Todos nós consumimos filmes, consumimos imagens em movimento ou não. Essa nova leitura sobre os filmes, não apenas ilustrativa permite que os alunos desenvolvam um senso crítico e analítico.
ExcluirQuem foi o patrono das pesquisas acadêmicas ao utilizar os materiais audiovisuais em suas pesquisas?
ResponderExcluirLEIDE DAYANA MAGALHÃES SOARES
Na relação história e cinema, Marc Ferro. Na relação em usar o cinema em sala de aula, Marcos Napolitano.
ExcluirO uso da propaganda durante o governo de Vargas em 1930 em seu governo Provisório foi o causador de sua ampla popularidade neste período?
ResponderExcluirLEIDE DAYANA MAGALHÃES SOARES
A propaganda se efetivou mais com o INCE, em 1936 e com o DIP em 1939. Mas de 1930 a 1937 temos a aprovação de algumas leis protecionistas ao cinema nacional que torna Vargas bem quisto pelos cineastas. Na minha dissertação "O Estado sob as Lentes: a cinematografia em Pernambuco durante do Estado Novo (1937-1945)" desenvolvo mais esse assunto. Se tiver interesse, dá uma lida. Espero que goste! Abs.
ExcluirOlá e parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirTrabalhar no ensino de história com mídias ou outras ferramentas é essencial, até para desvincularmos de um ensino tradicional e repetitivo. Na sua opinião, quais os cuidados os professores devem adotar para o trabalho com documentários em sala de aula?
Acredito que o maior cuidado é não tornar ele a verdade absoluta. O documentário é uma construção narrativa e deve ser descontruido para ser problematizado. Por isso, não podemos e não devemos nunca usa-lo como mera ilustração. Por isso é sempre importante preparar os alunos para o que eles vão ver, em cima dos debates que o docente pode querer propor.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa Noite.. Parabéns pelo Trabalho!!
ResponderExcluirNa minha concepções uma das fundamentais importância e vantagens da utilização do cinema em sala de aula na disciplina de História, seria que através dele os alunos conseguem de certa maneira compreender e identificar aspectos da História pelo o que é retratado em determinada filmografia, estimulando dessa forma o aprendizado dos discentes. A retratação do filme O Triunfo da Vontade, contendo o viés da época, simboliza um dos muitos filmes produzido pelo partido nazista para manipular as massas, ou simplesmente disseminar sua ideologia e conquistar a população alemã. Com esse aspectos, como filme O Triunfo da Vontade poderia estimular a aprendizagem dos alunos?
Brena Sirelle Lira de Paula
Na minha experiência em primeiro lugar provoquei eles a perceber que esse filme é uma construção, e todos esses elementos que vc citou podem ser "lidos" e percebidos no filme. Com isso eles percebem o cinema como ferramenta política da época e não como entretenimento apenas. Por outro lado, o filme contém discursos importantes, gravados (e diga-se de passagem, encenado) de autoridades, como Hitler e outros líderes nazistas. Essas falam exprimem as hierarquias e construções do período. Se o conteúdo já foi trabalhado em sala , é uma ótima maneira de estimular o debate é fortalecer o aprendizado.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelíssimo texto e exposição de método para o uso do cinema nas aulas e pesquisas historiográficas. Visto que os filmes muitas vezes sao "um passado representado"e outras vezes é apenas como propaganda e marketing do que interessa aos que o produz. A minha pergunta é em relação a esse aspecto. Como identificar que o filme,que irá ser transmitido, se aproxima com a verdade que é exposta?
ResponderExcluirSarah Ritchelle Cristóvão de Sá
Aí vai muito da interpretação do professor, que elementos ele pode trabalhar e o quão ele domina esse conteúdo enquanto disciplina de história e enquanto cinematografia. Esse elo com a realidade experimentada e o conteúdo programático é professor que vai propor.
ExcluirDe acordo com sua experiência, Além da amplitude da visão crítica do aluno, quais outras relevâncias do cinema a vida estudantil e acadêmica?
ResponderExcluirSarah Ritchelle Cristovão de Sá
Fortalece o aprendizado: os alunos dificilmente quando se veem envolvidos vai esquecer os conceitos de massas, de totalitarismo. Além disso, eles podem aprender que todo filme também é uma "escola", a gente pode além de ser críticos, aprender a aprender com os filmes. Minha paixão enquanto docente pelos filmes é que ele estamá sempre em nosso dia a dia, mas o usamos muito pouco como ferramenta de aprendizado.
ExcluirOlá, Arthur Gustavo Lira e Flávio Weinstein , muito interessante o trabalho de vocês. Gostaria de saber como se dá a relação do conhecimento histórico e suas relações com o cinema, tomando como base a problematização historiográfica.
ResponderExcluirNome : Gilmara Rodrigues Rocha
Oi Gilmara, segundo Ferro, o cinema permite explorar a história através de um novo olhar. Faz parte do momento em que os annales nos trouxeram a ideia de novas fontes e métodos a história. Aconselho você se quiser se aprofundar no tema a ler a referência de todo professor que se interessa pelo tema, o livro "Cinema e História" de Marc Ferro.
ExcluirO livro é fantástico. Ele traz vários exemplos e ideias de abordagem. Não sobre ensino de História, mas sobre pesquisa.
ExcluirBoa tarde.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Acredito na importação do uso do cinema em sala de aula. Com o tempo de aula curto, e uma geração cada vez mais , digamos, difícil de se concentrar, focar a atenção, é de grande relevância que o professor tenha domindo da ferramenta utilizada, ata para saber como apresentar o conteúdo, os cortes, as divisões por aula... Em sua concepção qual a melhor metodologia a ser adotada?
Bruna Dantas da Silva
Bruna, com o tempo escasso recomendaria ou fazer uma atividade extra como oficinas e afins; ou discutir os filmes utilizando apenas trechos. Ambos os modos eu já utilizei e deu certo. O mais importante é como vamos medir esse debate e a construção sobre o conhecimento histórico. Como você mesma disse, o professor precisa ter muito domínio, tanto do conteúdo histórico quanto do fílmico. E quanto menos tempo ele tiver, mais domínio ele precisa ter. Se não não vai conseguir concluir positivamente o que se propôs a fazer ou no pior, vai tornar o filme apenas ilustração.
ExcluirParabéns pelo trabalho desenvolvido, ele nos instiga a aceitar o desafio de apresentar esses filmes em sala de aula como recurso pedagógico.
ResponderExcluirPergunta:
Ao afirmar:
" A construção da realidade através das imagens, ou a sua impressão de realidade é um tema bastante presente nos estudos da relação entre Cinema e História. Ainda mais quando sobre o documentário. Gênero comumente denominado como “não ficcional”, traz em si alguns problemas conceituais que expõe a compreensão sobre o que é cinema, sua função e seu objeto."
Quais as estratégias metodológicas que o professor de história pode adotar para usar esses filmes em sala de aula sem reforçar o sentido dado pelo diretor/produtor dessas obras? Não seria importante trabalhar com o conceito de arte e cinema antes de discutir o conteúdo narrativo dessas obras?
Agradeço,
Vanessa Maria Rodrigues Viacava
Oi Vanessa. Sim, discutir o que é arte e o que é cinema é fundamental. Os problemas conceituais do uso do cinema documental é justamente tornarmos aquilo "verdade", "foi isso que aconteceu tal como nos foi mostrado". Pq o conceito de arte é importante? Pq ele faz o aluno perceber que a obra é uma "criação", como toda criação invenção de um autor ou de um grupo que a forja. Que esta localizada historicamente e geograficamente, atendendo os interesses dessa relação tempo e espaço, seja contra ou a favor. Como não reforçar os discursos dos filmes? Da mesma forma que fazemos com os "documentos oficiais", operacionalizando a crítica ao documento, desconstruindo, vendo os interesses de sua construção, do período e afins. Isso sempre nos leva a um debate massa. O filme nesse sentido, até mesmo o documental, não é muito diferente de qualquer outra fonte histórica: é preciso questiona-la. Forte abraço!
ExcluirEm relação a metodologia, como não deixar que uma produção fílmica não seja vista apenas como ilustração de determinada temática?
ResponderExcluirAlan de Farias Lima
Olá Alan, debatendo, criticando, desconstruindo o filme. Fazendo uma análise, não usando ele apenas como preenchimento de aula, mas como parte de uma atividade muito maior. Conforme comentei em outras postagens, recomendo para se aprofundar nisso a leitura do livro de Marcos Napolitano: "Como usar o cinema em sala de aula". Forte abraço!
ExcluirAcho tão complexo trabalhar com filmes na escola. Principalmente em turmas de ensino fundamental. São tantos cuidados, tem que trabalhar a história do filme, a construção do mesmo, a disputa pela memória e história desses atores. E é difícil conseguir passar todas essas abordagens que eu acredito serem necessárias para a disciplina de história. Na academia as pessoas estão ali buscando essas informações e conhecimentos, diferente do ambiente que encontramos nas escolas. Na experiência de vocês, é possível ir além da história mostrada no filme em uma turma de ensino fundamental?
ResponderExcluirAna Carolina Cavalcante Pinto.
Olá Ana, concordo com você. Em uma das pergunta que foi feita, citamos que esse tipo de relação que nos propomos é mais para ensino médio. Temos que analisar vários aspectos: maturidade, capacidade de abarcar o conteúdo, faixa etária / censura. O trabalho na escolha é sempre complicado, seja pra médio ou fundamental, mas até pela faixa etária e conteúdo, o ensino fundamental não podemos trabalhar alguns filmes. Eu particularmente explorados algo mais lúdico, ou ate mesmo como citaram aqui algo mais POP para o fundamental: tem desenhos do pato Donald anti nazismo (da época), que da pra ser usado; os próprios filmes da Marvel como Cap. América. Abs!
ExcluirPerguntas*
ExcluirOlá. Gostei bastante do seu textos. Como poderíamos fazer os alunos não apenas aprender sobre aquele conteudo histórico, mas também ter um ideal mais críticos? Já que sabemos que os filmes são grandes formadores de opiniões
ResponderExcluirObrigada desde já.
Laís Ingrid Santos Oliveira
Parabéns pelo texto desenvolvido, muito produtivo para nós leitores. A pergunta que deixo é como podemos utilizar a mídia do cinema para que os alunos se reconheçam como sujeitos históricos pertencentes ao seu cenário?
ResponderExcluirArisa Diniz Sakamoto