Anderson Luis Azevedo da Rocha


HISTÓRIA DIGITAL NO (E DO) AMAPÁ: A EXPERIENCIA DO BLOG “ENSINO E TEMPO”


Vivemos na era digital. Boa parte das atividades humanas são atualmente feitas por meio de dispositivos eletrônicos conectados na Internet. Entramos em contato diariamente com inúmeros conteúdos na web e somos direcionados a diferentes caminhos do ciberespaço de acordo com os nossos interesses (CASTELLS, 1999; LEVY, 2010). Sendo assim, como os cientistas tem se ocupado desse espaço? Como os historiadores estão (ou não) se apropriando dos meios digitais para discutir História e como devemos agir diante do momento histórico em que vivemos?

É pensando nessas questões que este texto apresenta reflexões sobre a presente relação da História com a Internet. Inicialmente, discute-se rapidamente sobre algumas noções de História Digital para falar de blogs e sites de História; e em uma segunda parte, é apresentada a experiência de um blog criado com dois objetivos principais: discutir a História do Amapá e apresentar/divulgar debates feitos por acadêmicos e professores da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

História Digital
Os historiadores estão cada vez mais se apropriando das mídias digitais para discutir, pesquisar e divulgar a História. É cada vez mais raro desempenhar tais atividades sem o uso de dispositivos digitais conectados à Internet. Assim, é necessário refletir sobre as implicações do mundo digital no fazer do historiador. Segundo Serge Noiret:

“Quase todas as problemáticas tradicionais do ofício de historiador, da delimitação de uma hipótese de pesquisa à descoberta, ao acesso e à gestão dos documentos e das fontes, até conseguir os fundamentos narrativos e, sobretudo, até a comunicação da história e dos resultados de pesquisa, e, finalmente, o ensino da história, passam agora em parte ou no todo, pela tela do computador.” (NOIRET, 2015, p. 32-33).

Os dispositivos digitais, portanto, estão presentes em momentos importantes da prática do historiador, seja na pesquisa ou no ensino. Porém, ainda são pouco discutidas nas Universidades brasileiras, sobretudo do norte do Brasil, as perspectivas em torno da relação entre História, dispositivos digitais e a Internet. Entende-se que as instituições de ensino superior são importantes no processo de apreensão dessa realidade por parte dos historiadores, e por isso devem fomentar mais discussões sobre História Digital. De acordo com Nicolás Quiroga:

“Cualquiera de las herramientas, instrumentos o máquinas ... que forman parte de nuestra contemporaneidade deben ser parte del hacer historiador, en tanto los “restos del pasado” están cada vez más mediados por los dominios de esos seres.” (QUIROGA, 2011, p. 64).

Os profissionais da História, enquanto “homens inseridos no seu tempo”, precisam conhecer e questionar os aspectos contemporâneos a seu tempo, formulando os problemas a serem respondidos pelas suas pesquisas (BLOCH, 2001). Portanto, faz-se necessário discutir sobre os espaços que os historiadores ocupam ou não na Internet, visto o grande número de possibilidades que a mesma proporciona.

Sabedores disso, historiadores de diferentes partes do mundo iniciaram há algum tempo as discussões sobre os problemas e desafios do fazer historiográfico no século XXI. Sobre isso, Anita Lucchesi (2012) discorre sobre duas tendências historiográficas que se dedicam a discutir a História Digital, que são: a “Digital History”, que surgiu nos Estados Unidos ainda na década de 1990, e a “Storiografia Digitale”, que surge na Itália no início dos anos 2000.

Assim, são cada vez mais frequentes os esforços para garantir um melhor entendimento sobre o que é a História Digital. Ainda não há consenso sobre a conceituação desse campo de estudo, porém, já é possível visualizar algumas tentativas. Aqui será utilizada a definição de Giancarlo Monina, que descreve a História Digital como:

“todo o complexo universo de produções e trocas sociais tendo por objeto o conhecimento histórico, transferido e/ou diretamente gerado e experimentado em ambientação digital (pesquisa, organização, relações, difusão, uso público e privado, fontes, livros, didática, desempenho e assim por diante)” (MONINA apud NOIRET, 2015, p.33).

Tem-se, então, uma miríade de possibilidades em torno do que se produz visando a construção do conhecimento histórico na Internet. Logo, um trabalho de História Digital deve delimitar bem o tipo de atividade que pretende exercitar na Internet. Atualmente, existem diversos exemplos de sites e perfis em redes sociais que disponibilizam divulgação científica, materiais didáticos, acervos documentais, ensaios, vídeos, podcasts, colunas, notícias, etc.

Estas opções dão uma dimensão do que pode ser feito e de como essas mídias tornam a difusão do conhecimento histórico muito mais interativa. Os historiadores presentes nos meios digitais têm a possibilidade de discutir com seus leitores/seguidores, receber mensagens, opiniões, além de poder perceber que tipo de tema ou abordagem gera mais visualizações e interesse do público.

Blogs e sites de História
Dentro das inúmeras possibilidades em torno da difusão do conhecimento histórico nos meios digitais, os blogs e sites se apresentam como uma fácil alternativa para criação de um diário voltado para a História. Assim, não é difícil encontrar endereços que disponibilizam materiais didáticos e textos sobre diversos temas da História na Internet.

Diante dos múltiplos exemplos, a qualidade dos materiais publicados varia bastante (OLIVEIRA, 2014). Ainda é comum encontrar sites que apresentam fatos históricos abordados de maneira meramente narrativa, sem aprofundamento e sem propor nenhuma reflexão/discussão. Entende-se que na Internet os conteúdos devam ser mais curtos e de fácil leitura, porém, isso não pode negligenciar aspectos básicos da reflexão histórica.

É fato que a linguagem da Internet é diferente da linguagem acadêmica e/ou escolar, e por isso os sites devem apresentar uma linguagem específica. Segundo Malerba (2017), “Blogs e redes sociais, por exemplo, não aceitam o ‘textão’. A informação e a análise devem se veicular em gotas. A capacidade e a disponibilidade de leitura hoje contam-se em dígitos”. O conteúdo deve ser, então, mais acessível ao grande público, mas isso não significa que deva ser apresentado de maneira superficial. O ideal é conseguir se apropriar de uma linguagem mais simples sem perder a profundidade necessária às discussões sobre História.

Entre os sites que seguem esses ideais, dois chamam a atenção, além de serem as inspirações para o blog Ensino e Tempo. O primeiro é o Café História (www.cafehistoria.com.br), site que desde 2008 apresenta textos que, mesmo curtos e simples, não perdem a profundidade da reflexão histórica necessária; e o segundo é o HH Magazine (hhmagazine.com.br), site mais recente e vinculado ao periódico acadêmico História da Historiografia, que também se adequa bem a linguagem da Internet. Esses dois sites apresentam uma relação mais estreita com a história acadêmica, porém, utilizam diferentes formatos para atingir não somente historiadores, mas também o grande público.

Assim, tem-se nesses formatos as bases de funcionamento e publicação do Blog Ensino e Tempo, que serão mais aprofundados no próximo tópico. Por se tratar da experiência própria do autor com um colega, a partir de agora o texto será apresentado na primeira pessoa do plural.

A experiência do blog Ensino e Tempo
O Blog Ensino e Tempo surgiu em 2017, quando foi proposta a avaliação final do componente curricular História Contemporânea II. A avaliação era “trabalhar com mídias digitais”, sendo de escolha livre dos acadêmicos o formato a ser utilizado. Foi então que eu, Anderson Rocha, e o acadêmico Danilo Mendes tivemos a ideia de criar um blog e publicar sobre trabalhos feitos por nós e outros colegas nos semestres passados. A justificativa se deu pelo fato de tais trabalhos ficarem restritos apenas ao ambiente das aulas, e por isso resolvemos divulgar as atividades através de um blog. Fizemos isso e depois de finalizado o componente curricular, com a aprovação, resolvemos desativar o blog por conta do pouco tempo disponível para atualizá-lo.

Agora formados em 2019, reativamos o blog em fevereiro com seus objetivos ampliados. Continuamos com a proposta de publicar atividades feitas na graduação, porém, procuramos também produzir conteúdo exclusivo envolvendo ensino, pesquisa e divulgação científica. Os focos principais são a História do Amapá e atividades desenvolvidas por acadêmicos ou professores do Amapá, com o objetivo ocupar um espaço pouco utilizado pelos profissionais da área no estado. Isso não significa, porém, que o nosso público alvo se resuma ao local e que falaremos apenas sobre História do Amapá.

Tentamos, emprestando um termo utilizado por Noiret (2015, p. 42), ser um ambiente “glocal”, em que apresenta para o mundo inteiro questões levantadas a nível local. Como a Internet está disponível em todos os cantos do mundo, é impossível escrever apenas para um público específico. Então tentamos tratar de assuntos da História do Amapá e outros temas, buscando integrá-la a contextos mais amplos.

Considerando o perfil da Internet, buscamos dar ao blog uma identidade, criando um nome e um slogan. Escolhemos o nome “Ensino e Tempo”, ainda em 2017, por se adequar aos nosso objetivo de discutir sobre História e ensino. Como já existiam vários sites que usavam variações do nome “História e Ensino”, optamos por “Ensino e Tempo”, por tratar também de dois aspectos globais da existência humana, que são: a noção de tempo e a prática do ensino.


Fig. 1: Logotipo do blog

Com o retorno em 2019, demos maior atenção a identidade do blog, criando um logotipo e um slogan. Nos dois casos optamos também por aspectos gerais e globais, como no caso do slogan “História presente nas redes”, e do logotipo, que é a imagem de um laptop com uma ampulheta e uma rede de informações na sua tela. Com isso, o site apresenta-se atualmente assim: “Ensino e Tempo: História presente nas redes” com o logotipo estampado no lado direito do site e uma breve descrição.

Tais preocupações surgiram de leituras sobre o gerenciamento de sites na Internet. Em especial, nos chamou atenção a entrevista do historiador e administrador do Café História, Bruno Leal, para a Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (BENCHIMOL et al, 2015), onde destaca a importância de três aspectos para sites na Internet, que são: qualidade do conteúdo, atualização e identidade visual. Dessa forma, buscamos seguir tais recomendações, criando uma identidade visual para o blog e definindo a periodicidade de uma postagem por semana.

Feito isso, focamos nas publicações, entendendo que um conteúdo frágil pode fazer determinado site perder a credibilidade dos internautas. Pensando nesses aspectos, optamos por publicar textos em diferentes formatos. Já existem publicações sobre Trabalho de Conclusão de Curso de acadêmicos da UNIFAP, entrevistas com pesquisadores, ensaios sobre temas abertos escritos por acadêmicos, propostas de intervenção para aulas de História por meio de filmes, divulgação de documentos online, etc.

Fazemos isso para dar dinamicidade ao blog, pois entendemos que publicar apenas em um formato limita muito as possibilidades que a Internet nos possibilita. Assim, o Blog Ensino e Tempo tem funcionado como um laboratório onde são experimentadas diferentes formas de discutir História na Internet. É um blog ainda novo, com poucas publicações e poucas visualizações. Por isso, buscamos variar bem as nossas abordagens para entender como é recebida cada publicação.

Até o momento, percebemos que o número de cliques depende de como e onde os links são divulgados no ciberespaço. Assim, pelo alto alcance, o Facebook tem sido o veículo onde disponibilizamos os links das nossas postagens, seja nos nossos perfis pessoais, seja na página criada para o blog (atualmente com 114 seguidores). Feito esse trabalho, percebemos que o principal atrativo para mais cliques é o tema ou proposta abordada. Entre as 5 postagens de 2017, a publicação que mais recebeu cliques (187) foi uma proposta de paródia da música Igarapé das Mulheres, do artista Osmar Júnior, adaptada para a segunda guerra mundial, oriunda de um trabalho feito no componente curricular Seminário de Prática de Ensino II. Notamos que a música local e a relação feita com o tema da Segunda Guerra Mundial foi um grande atrativo para o público.

Nas postagens de 2019, a publicação com mais cliques (143) e alcance no Facebook (737 pessoas) foi sobre um TCC que aborda o Projeto ICOMI e o seu programa de saúde no Amapá. O tema “ICOMI” tem a grande atenção dos amapaenses, tanto na academia quanto fora dela, além disso, disponibilizar um TCC sobre o tema pode ter sido um grande atrativo para os internautas, pois é um trabalho que apresenta uma nova perspectiva para o assunto. Assim, um TCC disponibilizado (algo que pouco acontece no Amapá) sobre um tema bastante “popular” da História do Amapá (o projeto ICOMI) rendeu um grande número de cliques ao blog (entendemos que foi grande baseado no pouco alcance que o blog tem e pelo pouco tempo em que foi reativado).

As outras publicações de outros temas seguem um número de cliques padrão (entre 50 e 100), estando de acordo com o interesse pessoal de cada um. Isso acontece porque o principal espaço de divulgação utilizado por nós é o Facebook, rede social bastante popular e utilizada por diferentes públicos. Uma vez que os links são colocados no Facebook, as pessoas passam a compartilhá-los de acordo com seus interesses diante do tema abordado. Assim, os que mais compartilham os posts são colegas historiadores, seguidos de pessoas que se interessam pelo conteúdo, que variam de acordo com a popularidade do tema tratado.

Dessa forma se apresentam dois desafios. O primeiro é ganhar mais acessos, e para garantir isso, percebemos que precisamos publicar mais sobre temas tradicionais da historiografia, pois são os que mais despertam interesse do público comum (não historiadores). O segundo é apresentar ao público discussões novas sobre a História e novas perspectivas, porém, esse tipo de conteúdo não é tão compartilhado pelo público comum. Portanto, lidar com esses dados tem sido a maior dificuldade do nosso blog, pois nosso objetivo é justamente fazer com que as novas discussões alcancem um público maior. Por conta disso, estamos nos inserindo nas discussões sobre tecnologia, Internet e História, pois entendemos que assim podemos crescer enquanto historiadores digitais e melhorar os aspectos do nosso blog.

Conclusão
A História Digital é uma realidade e não podemos fugir dela. Por isso, propomos a discussão do tema e a aplicação de atividades que se adequam a relação entre a História e a Internet.

O blog Ensino e Tempo busca propor, por meio dessas discussões, uma abordagem sobre o que vem sendo produzido e pensado por historiadores do Amapá, visando alcançar um público de, principalmente, não historiadores. Tal proposta surge da falta de historiadores do Amapá produzindo conteúdo sobre História na Internet. Assim, nos propomos a realizar tal tarefa, alcançado públicos variados e obtendo retorno de pessoas que tem compartilhado nossos links, principalmente via Facebook.

Com pouco mais de um mês desde o retorno do blog, entendemos que o contato do público tem sido satisfatório e esperamos que cresça no futuro. Além disso, buscamos nos inserir nas discussões sobre Internet, mídias digitais e História para ter uma base fundamentada para nossas atividades e, claro, divulgar o que vem sendo feito por nós no blog Ensino e Tempo. A inexperiência tem marcado a tônica das nossas atividades, fazendo com que sempre estejamos aprendendo algo novo no dia a dia de publicações.

Pretendemos continuar a discutir mais sobre História Digital e a inserção da História nos meios digitais. No mundo atual, de difusão cada vez maior de informações, estamos tentando nos apropriar das mídias digitais e ocupar espaços da Internet para discutir, divulgar e ensinar História. Dito isso, acessem ensinoetempo.blogspot.com.

Referências
Anderson Rocha é graduado em História pela Universidade Federal do Amapá e administrador do Blog Ensino e Tempo. Email: Andersonrch95@gmail.com

BENCHIMOL, Jaime et al. Divulgação científica, redes sociais e historiadores engendrando novas histórias: entrevista com Bruno Leal. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.22, n.3, jul.-set. 2015, p.1067-1079.

BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v.1. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2010.

LUCCHESI, Anita. Digital History e Storiografia Digitale: estudo comparado sobre a Escrita da História no Tempo Presente (2001-2011). Dissertação (Mestrado em História Comparada) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

MALERBA, Jurandir. Os historiadores e seus públicos: desafios ao conhecimento histórico na era digital. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 37, nº 74, 2017.

NOIRET, Serge. História Pública Digital. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.11, n.1, maio 2015, p. 28-51.

OLIVEIRA, Nucia Alexandra Silva de. História e internet: conexões possíveis. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 6, n.12, p. 23 53, mai./ago. 2014.

QUIROGA, Nicolás. Blogs de historia: usos y posilibidades. Historia Critica, Bogotá, n. 43, enero-abril 2011, p. 62-80.

10 comentários:

  1. Bom dia caro Anderson

    Parabéns pela comunicação.

    Vendo a sua discussão sobre uso da História digital via suporte Blog no Ensino de História,eu fiquei pensando como podemos superar as dificuldades infraestruturais e sociais do espaço escolar e da comunidade escolar para a efetiva utilização desse instrumento?

    Cordialmente,
    Danilo Sorato.

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    1. Boa tarde, caro Danilo. Obrigado pelo questionamento.

      A dificuldades sociais e infraestruturais são extremamente complexas e muitas vezes limitam as possobilidades de trabalho com ferramentas digitais, principalmente em regiões consideradas periféricas.

      Entendo que a forma mais prática de superar tais problemas é por meio de políticas públicas. Para ficar mais fácil, vou dividir a minha resposta em duas partes, primeiro falando de infraestrutura e depois dos problemas sociais.

      A questão da infraestrutura pode ser resolvida por meio de maiores incentivos e investimentos por parte do Estado. Entendo que a escola deva proporcionar as possibilidades de trabalho com ferramentas digitais por meio de laboratórios e outros aportes. Porém, isso está longe de ser uma realidade no Brasil e, consequentemente, no Amapá. Portanto, precisamos na maioria das vezes apelar para a criatividade e investir dinheiro próprio para utilizar tais recursos em sala de aula. Não existe um modelo pronto e penso que o uso de tais aportes pode ser feito de forma esporádica em sala de aula de acordo com os objetivos do/a professor/a.

      Sobre a questão social, ainda é fácil notar que nem todo mundo tem condições de acessar a internet, ter um notebook, ou até mesmo um smartphone. Porém, se compararmos com 20 anos atrás, vamos perceber que as distâncias diminuíram, que essas ferramentas básicas estão cada vez mais acessíveis. Vejo que ainda há um caminho longo a percorrer, mas consigo vislumbrar um futuro onde toda e qualquer pessoa terá a oportunidade de ter acesso a internet e a ferramentas digitais, sendo otimista.

      Com este panorama, vejo que é uma questão que não cabe somente aos professores. Infraestrutura e desigualdade social são problemas que envolvem diversas esferas que precisam agir em consonância para melhorar a qualidade da educação no país.

      Esclarecidos esses pontos, é bom lembrar que tais ferramentas não substituem o papel do/a professor/a e os sites não substituem a escola e as salas de aula. Dito isso, o uso de blogs é amplo e com diversas possibilidades (mesmo que existam as limitações causadas pelos problemas socias e estruturais). É possivel criar blogs para permitir a interação entre conteúdo e aluno, para passar questões, ensinar determinado tema, e até mesmo realizar um evento acadêmico, como é o caso deste simpósio.

      No caso do blog Ensino e Tempo, trata-se também de ocupar um espaço pouco ocupado pelos profissionais da área, como já expliquei na comunicação. Entendo que devemos dar uma atenção maior as plataformas digitais disponíveis e usá-las a nosso favor, pois são com elas que disputamos a atenção de nossos alunos. E é por isso que estou me propondo a abordar a História e o Ensino nessas plataformas, considerando as suas potencialidades e limitações.

      Abraço,
      Anderson Luis Azevedo da Rocha.
      Andersonrch95@gmail.com

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  3. Giovani Marcos Bernini9 de abril de 2019 às 16:02

    Anderson, sem dúvidas a História Digital apresenta-se como um imperativo ao nosso tempo. Assim como já afirmava Bloch, a construção da história passa necessariamente pelas tecnologias de cada geração. Presenciamos um "boom" digital, que multiplicou exponencialmente a quantidade de espaços digitais para o debate a e divulgação de conhecimentos históricos, variando em alcance e qualidade.
    Em sua percepção, e de acordo com as análise de acesso e interação dos leitores do blog, acredita que a História Digital possa ser o caminho mais produtivo para a ampliação da História Pública, em um contexto global? As interações por meio dos blogs seriam capazes de construir coletivamente novas demonstrar outras memórias e novas narrativas históricas?


    Giovani Marcos Bernini

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    1. Bom dia Giovani. Obrigado pelo questionamento.

      Sem dúvidas que a História Digital é um dos caminhos para ampliar a História Pública em contextos globais, difícil dizer se pode ser o mais produtivo, pois existem diversos caminhos para efetivar tais demandas. Sobre esse diálogo (História Pública Digital), vejo que avanços já vem sendo feitos nesse exato momento por meio de ambientes virtuais voltados para divulgação científica, acervos digitais e blogs. Porém, visualizando esse contexto de forma mais crítica, penso que ainda há um longo caminho de discussões metodológicas em torno da expansão da História Pública via meios digitais. Por mais que tenhamos um acesso mais facilitado e amplo atualmente, ainda avançamos pouco no tratamento desse conteúdo, de como podemos fazer ele se popularizar e de que cuidados devemos ter para não transformar esse trabalho em algo sem a profundidade necessária para o trabalho em História.

      Sobre as interações em blogs, acredito sim que são capazes de construir novas formas de demonstrar novas memórias e narrativas. Mas, como já falei anteriormente, isso não pode acontecer de forma automática, é preciso existir uma ligação forte entre a prática e a discussão metodológica para não tornar tudo isso algo infrutífero e vazio para a construção do conhecimento científico. Nesse aspecto o Brasil está caminhando a passos lentos, tanto a História Digital quanto a História Pública surgiram como novidades apenas nos últimos anos, ou seja, estamos muito atrás em comparação a outros países.

      Abraços,
      Anderson Luis Azevedo da Rocha
      Andersonrch95@gmail.com

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  4. Boa noite! Gostei muito da sua comunicação. Você relata que no Amapá faltam historiadores produzindo conteúdo sobre história e internet, então, na sua opinião, qual seria o motivo dessa situação? Lhe pergunto porque sou do Rio Grande do Sul e também convivo com essa situação e acredito que aqui seja por falta de incentivo e de conhecimento das tecnologias no campo historiográfico. Abraço, Denise Frigo

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    1. Bom dia Denise. Obrigado pela pergunta.

      Basicamente, o motivo de poucos historiadores estarem produzindo sobre história e internet é por conta da própria formação. Completei minha graduação no final de 2018 e apenas em uma disciplina constava na ementa um texto envolvendo a discussão entre história e internet, que por sinal foi a disciplina em que surgiu o blog Ensino e Tempo (aqui uso a minha experiência própria para tratar da questão do currículo que tive contato na graduação em História. Porém, esse parece ser o panorama na maioria das universidades brasileiras).

      Refletindo mais profundamente sobre a questão, outras explicações podem surgir. Se fizermos um esforço para pensar nas inovações que surgiram na historiografia, iremos perceber que quase sempre o Brasil apresentou inovações teorico-metodológicas anos depois delas terem surgido em outros países. Dessa forma, é possível entender o porquê das discussões envolvendo Internet e meios digitais ainda não terem ganhado tantos adeptos historiadores.

      Outro aspecto pode ser a própria resistência. Muitas tendências surgiram na historiografia como modismos, e por conta disso há uma preocupação grande por parte dos historiadores em aderir determinada tendência por pensarem se tratar de uma simples "moda". No caso da História Digital, as discussões começaram a surgir há pelo menos duas décadas (de forma mais densa), porém, no Brasil ainda é uma novidade, e talvez seja vista por alguns historiadores como um simples modismo.

      Corroborando com as questões anteriores, o próprio fato da História Digital depender dos avanços em tecnologia coloca o Brasil um pouco atrás em relação a outros países. Os problemas sociais e estruturais presentes na realidade dos brasileiros e das próprias universidades criam uma distância grande entre a possibilidade dos historiadores terem um maior contato com inovações digitais. Isso dificulta o processo de criação de mecanismos voltados para a discussão sobre a relação entre internet e História.

      Todos esses são possíveis motivos para que ainda exista pouca produção sobre história e internet. Porém, acredito que a principal questão seja mesmo a formação. Penso que as universidades devem fomentar mais discussões em torno das demandas digitais (que por sinal, são urgentes). As redes sociais estão recheadas de perfis que discutem história e conceitos históricos de forma equivocada, evidenciando um problema que não pode ser ignorado (não é um problema que surgiu com a internet, mas está presente nela). Portanto, estamos alguns passos atrás nesse processo e precisamos ocupar tais espaços para evitar que o desconhecimento seja ainda mais propagado. E para isso acontecer, é necessário repensar a nossa formação.

      Abraços,
      Anderson Luis Azevedo da Rocha
      Andersonrch95@gmail.com

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  5. Primeiramente, parabéns pelo texto.

    Realmente alguns sites e blogs trazem bastante conhecimento não só para os estudantes mas também para os professores. Estou em dúvida se crio uma página no Facebook, ou um Blog para trabalhar textos complementares, e conteúdos diversificados com os estudantes. Diante da sua experiência, qual seria a sua indicação?

    Abraços, Edivaldo Rafael de Souza.

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    1. Boa noite Edivaldo. Obrigado pela pergunta.

      Antes de mais nada, é necessário entender que a utilização de um blog ou de uma pagina de Facebook exige um conhecimento básico sobre ferramentas digitais para a sua utilização. Obviamente que blogs e o facebook são plataformas de fácil manuseio, mas ainda assim exigem bastante da gente.

      Dito isso, a escolha da plataforma vai de acordo com os seus objetivos. se quiser algo mais interativo, apresentar textos mais curtos, imagens, e outros conteúdos mais diretos, opte pelo Facebook. Se quiser algo mais elaborado, mais completo e com conteúdo um pouco mais extenso, use um blog. A administração de um blog, com certeza, exigirá mais de você, tanto na personalização da aparência do site, quanto na criação de conteúdo, mas resultará em algo mais completo.

      No mais, dou total apoio a sua ideia de propagar conhecimento pelas vias digitais. Infelizmente essa atividade não é incentivada e muitos professores não ganham nada para fazer esse tipo de trabalho na internet. Além disso, sugiro que consuma a discussão em torno da História Digital e das potencialidades da relação entre a História e a Internet. A própria bibliografia utilizada na minha comunicação vai te ajudar muito e te dar uma base bem fundamentada sobre a atividade científica e docente na internet.

      Abraços,
      Anderson Luis Azevedo da Rocha
      Andersonrch95@gmail.com

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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