João Batista da Silva Junior




O ENSINO DE HISTÓRIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS: QUESTÕES DE MÉTODOS E O ENSINO APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA EM PROTAGONISMO DISCENTE

Esse trabalho tem como problema a discussão de um tema relativamente novo, a utilização das novas tecnologias no ensino de história, mas proporcionalmente relevante, para avançarmos na busca por metodologias que agreguem ao tema do ensino aprendizagem, na perspectiva de proporcionar aos discentes, formas mais condizentes com suas realidades e mais atrativas de aprender e construir conhecimento.

Os veículos de mídia eletrônica são ferramentas essenciais, visto que as novas possibilidades de ensino de historia criadas pela internet e a chamada história digital, sejam no momento as mais relevantes discussões sobre o tema, “Dada à novidade de tudo isso, há aspectos relacionados à internet que ainda não fora devidamente exploradas, mas que são centrais para o desenvolvimento do campo da história pública”. Carvalho (2016, p. 40). Então as discussões sobre o uso dessas tecnologias, principalmente as móveis, para o ensino de história, pode ser importante, pois ainda é um terreno, relativamente pouco explorado.

Tem como objetivo geral Identificar e analisar criticamente os conteúdos, as metodologias e a eficácia de aplicativos que exploram as redes de computadores, disponibilizando conteúdo da disciplina história, para identificar em que medida esses conteúdos e metodologias são inovadoras ou tradicionais, com a perspectiva de construir, com os alunos, um aplicativo de mídia virtual, onde sejam protagonistas na produção de conhecimento.

Os objetivos específicos são observar em que medida esses conhecimentos extra sala fazem ou não parte da consciência histórica desses discentes. Discutir como esses recursos didáticos podem ser propositivos na construção de uma didática da história e Propor, incentivar e orientar a construção pelos alunos, de um aplicativo virtual com conteúdo da disciplina história, que seja uma ferramenta didática de produção de conhecimento.

Para tanto discutiremos como as narrativas históricas podem ser utilizadas pelos professores de história no ensino básico? Como as novas tecnologias podem ser ferramentas de aproximação dos conteúdos históricos e o cotidiano? E como os alunos operam a racionalização do conhecimento histórico, para a constituição da aprendizagem histórica, por intermédio das narrativas, enquanto reconstrução do passado humano com base nas fontes e na historiografia?

Metodologicamente pretendemos trabalhar uma pesquisa histórica pela abordagem da história do tempo presente, norteado pela idéia de que “Se refere a um recorte contemporâneo em relação ao historiador” Barros (2004, p146), entendendo história do tempo presente conforme a definição de Henry Rousso, para o qual a “história do tempo presente é a história de um passado que não está morto, de um passado que ainda se serve da palavra e da experiência de indivíduos vivos”, (ROUSSO, 1998, p.68, Apud DOSSE, 2017, p.28). Visto que pretendemos fazer análise de vários tipos de aplicativos que serão indicadas pelos alunos em entrevistas e questionários. No entanto nos debruçaremos com ênfase em aplicativos de ensino de história.

Podemos notar que as novas tecnologias são importantes e podem ser aliadas dentro de uma proposta educacional, por isso nos propomos a investigar essas novas tecnologias com a pretensão de propor um método diferencial para o ensino de história, porém para não incorrer em erros metodológicos, reconhecemos ser imprescindível uma discussão em torno do conceito de didática da história com o objetivo de esclarecer em que medida esses recursos didáticos são transformadores na direção da construção de um método eficaz e propositivo de uma educação emancipadora que tenha o educando ocupando o lugar de protagonismo do processo ensino aprendizagem.

Entendendo também que para além dos procedimentos, a didática da história é, conforme Cerri (2011, p47), uma “disciplina de investigação do uso social da história”, e segundo Rüsen (2011, p39), “Seu objetivo é investigar o aprendizado histórico”, pretendemos perceber o ensino da história, aliado as novas tecnologias, com a função social de propor ao discente que ele faça a conexão entre os conteúdos da disciplina e a vida , o cotidiana, entendendo como se engendram as teias que entrelaçam passado, presente e futuro, compreendendo os aspectos sociais, econômicos,  políticos e culturais que pressupõe a disciplina história e como esses aspectos refletem em sua vida enquanto ser histórico. entendendo que “Bem diferente é a estrutura temporal da expectativa, que não pode ser adquirida sem a experiência. Expectativas baseadas em experiências não surpreendem quando acontecem”. Koselleck (2006 p.313). Destacamos essa máxima por entender que enquanto historiadores, não podemos prever, mas antever, por intermédio de nossas observações do passado no presente, as manifestações e possibilidades do futuro no mesmo presente, balizando nossas reflexões e ações no presente.

Outro debate importante será da compreensão do conceito de consciência histórica, também importante para elucidar algumas questões que provavelmente se farão presentes nesse trabalho.
Por consciência histórica entendemos a representação social que uma sociedade constrói, por intermédio de sua trajetória no tempo e no espaço, é o aprendizado histórico, visto que conforme Rüsen (2011, p39) “O aprendizado histórico é uma das dimensões e manifestações da consciência histórica”, sem a qual os seres humanos não conseguiriam compreender a complexidade de sua própria história. Vários pensadores escreveram a respeito de consciência histórica e com isso o conceito ganhou em complexidade. Mas afinal, o que é consciência histórica?

Raymond Aron, por exemplo, acredita que o homem tem um passado e que ele tem consciência disso, pois só essa consciência dá a possibilidade do diálogo e da escolha (ARON, 1984). Já para Hans- Georg Gadamer, a consciência histórica pode ser entendida como um privilégio do homem moderno, por ter plena consciência da historicidade (GADAMER, 1998). Kazumi Munakata tece sua crítica aos autores que seguem a linha analítica da consciência histórica demonstrando que esses seguem um comportamento de seita, como missionários repetem as mesmas formulações como um mantra, com um estilo dogmático, “Um aspecto que me desagrada muito é que as pessoas que seguem essa linha analítica assumem um comportamento de seita”, Munakata (2015, p. 55). Já Luis Cerri, afasta-se do pensamento de Gadamer, por entender que ele não leva em consideração a heterogeneidade cultural presente no debate, nesse sentido Cerri aproxima-se de Agnes Heller para a qual consciência histórica é uma das condições para a existência do pensamento, e não está restrita a um período, região ou classes sociais, (CERRI, 2011).
 
Por entendermos que essa visão de heterogeneidade se orna mais apropriada ao nosso debate, visto que como Rüsen entendemos que a consciência histórica é algo universalmente humano, nos pautaremos nessa possibilidade para discutir em que momento de nosso trabalho esse fenômeno se manifestará. De acordo com Rüsen na interpretação de Cerri (2011, p28), “o homem só pode agir no mundo se o interpreta e interpreta a si mesmo de acordo com as intenções de sua ação e de suas paixões”. Nesse sentido cabe nesse trabalho procurar compreender como os alunos entendem seu papel na história, e se as novas tecnologias se inserem como uma consciência histórica, à medida que eles se reconhecem, ou não, fazendo parte, do que vem sendo chamada de geração “nativa digital”, termo criado por Marc Prensky, que designa aquele que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais fazendo parte de sua vivência.

Poderá ser bastante revelador da consciência histórica, as atitudes tomadas pelos educandos antes e depois de operacionalizarmos a proposta, entendendo que a sua participação desenvolvendo atividades em grupo poderá ser mais instigante e significativa, entendendo segundo (HELLER,1993 apud CERRI, 2011) que “a consciência histórica pode ser entendida como uma característica constante dos grupos humanos”, Cerri, (2011, p28), por isso pressupõe o indivíduo existindo em grupo, então as atividades desenvolvidas em grupo, permitindo uma ação coletiva poderá ter como resultado o estabelecimento de interação que permita a coesão em torno de um objetivo comum, por isso será de imprescindível importância registrarmos cada um dos passos dessa empreitada, com o objetivo de perceber individualmente e no coletivo as fases do desenvolvimento do método hora proposto e os avanços e ou mesmo resistências, individuais e coletivas, no decorrer do processo.

O trabalho contará com uma apresentação sobre o pesquisador sua trajetória na educação e as motivações que levaram a escolha do tema de sua dissertação, qual seja: “O uso das novas tecnologias no ensino de história”. Também apresenta o problema, os objetivos e os capítulos que compõem o corpo do texto dissertativo.

A primeira parte do trabalho será dividida em dois tópicos onde desenvolveremos uma discussão teórica sobre a formação dos professores de história e o uso das novas tecnologias no ensino de história, além de discutir também as narrativas históricas como ferramenta metodológica para o ensino de história haja vista que a dissertação tratará sobre ensino de história e novas tecnologias utilizando como metodologia as narrativas discentes.

O primeiro tópico intitulado “A formação dos professores de História e as novas tecnologias” tem por finalidade discutir a formação dos professores de história e o uso das novas tecnologias no ensino de História. Trazendo algumas reflexões, norteadas pelo trabalho de autores reconhecidos na área, buscando compreender em que medida o profissional de história está apto a se utilizar dessas novas ferramentas pedagógicas e que papel as mesmas podem exercer no processo ensino aprendizagem. Observando também em que medida a utilização dessas novas tecnologias possibilita a transformação, na perspectiva de tornar o processo ensino aprendizagem mais relevante à vida dos discentes. Para isso faremos uma análise sobre a formação dos professores em uma perspectiva de compreender as lacunas existentes nessa formação no que diz respeito às novas tecnologias. Em seguida analisaremos as novas tecnologias e concluiremos propondo algumas experiências possíveis.

No segundo tópico denominado “As narrativas históricas e seus usos para o ensino de história”. Pretendemos destacar algumas questões, que nos são colocadas e que observamos em nossa longa experiência em sala de aula no ensino básico, principalmente a dificuldade que os alunos têm de entender os regimes de historicidades, ou seja, o entrelaçamento das instâncias temporais, passado, presente e futuro e as relações de dominância de uma sobre as outras dependendo do contexto.  Com o desafio de tentar discutir e compreender como as narrativas históricas podem ser utilizadas pelos professores de história no ensino básico? Como as novas tecnologias podem ser ferramentas de aproximação dos conteúdos históricos e o cotidiano? E como os alunos operam a racionalização do conhecimento histórico, para a constituição da aprendizagem histórica, por intermédio das narrativas, enquanto reconstrução do passado humano com base nas fontes e na historiografia?

Na segunda parte do trabalho faremos analise de aplicativos de ensino de história que serão utilizados metodologicamente pelos alunos objetos dessa pesquisa que são os alunos do ensino médio, mais especificamente do terceiro ano, que estão se preparando, entre outros objetivos, para o Exame Nacional do Ensino Médio-ENEM, da Escola Estadual de ensino fundamental e médio do Outeiro, escola esta, que se encontra na periferia da área metropolitana de Belém- Pa, na ilha de Caratateua- Outeiro.

Utilizaremos vários aplicativos que estão disponíveis gratuitamente na internet e junto aos alunos analisaremos a eficácia dos mesmos como coadjuvante no processo de aprendizagem, verificando alguns aspectos como as dificuldades e facilidades que esses aplicativos proporcionarão a compreensão dos conteúdos, por exemplo.

Construiremos essas analises a partir das narrativas produzidas pelos alunos que serão incentivados a escrever sobre os conteúdos estudados e a opinarem sobre os aplicativos, por intermédio de questionários e textos.

Na ultima parte dessa dissertação trataremos da pesquisa em sala de aula Propondo, incentivando e coordenando ações metodológicas que possibilitem a construção de um aplicativo de história que esteja relacionado à história local (Distrito de Outeiro) e que relacione esse conhecimento produzido pelos alunos à História regional, nacional e geral, na perspectiva de proporcionar aos discentes o protagonismo na construção de conhecimento histórico, partindo de sua realidade.

Nessa fase do trabalho partiremos da observação do desenrolar das atividades para também discutirmos temas como, didática da história, com o objetivo de esclarecer em que medida esses recursos didáticos são transformadores na direção da construção de um método eficaz e propositivo de uma educação emancipadora que tenha o educando ocupando o lugar de protagonismo do processo ensino aprendizagem. E consciência histórica, procurando compreender como os alunos entendem seu papel na história, e se as novas tecnologias se inserem como parte de sua consciência histórica, à medida que eles se reconhecem, ou não, fazendo parte, do que vem sendo chamado de geração “nativa digital”.


Referências
João Batista da Silva Junior é Professor de História efetivo da Secretaria de Educação do Estado do Pará, graduado Bacharel licenciado pleno em História- UFPA. Especialista em Educação- UNAMA e Mestrando em Ensino de História- Profhistória- UFPA.

Orientador. Prof. Dr. Francivaldo Alves Nunes. UFPA

Coorientadora. Profª. Dra. Edilza Joana de Oliveira Fontes. UFPA

ARON, Raymond. Dimensões de La consciência histórica. México, DD: Fundo de cultura ecomômica, 1984.

BARROS, José D’assunção. O campo da História: especialidades e abordagens- Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. Pp 132- 179.

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. História Pública e redes sociais na internet: Elementos iniciais para um debate contemporâneo. Revista Transverso, “Dossiê: História Pública: Escritas contemporâneas de História. Rio de Janeiro, vol.07, nº 07, PP. 35-53. Ano 03. Set. 2016. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/índex.php/transverso>.  ISSN 21797528.  DOI: 10.12957/ transverso.201625602.

CERRI, Luis. O que é a consciência histórica. In Ensino de história e consciência histórica: Implicações didáticas de uma discussão contemporânea- Rio de janeiro, Editora FGV, 2011. Pp 19- 55.

DOSSE, François. História do tempo presente e Historiografia. In: Dialogos do tempo presente: Historiografia e História. [recurso eletrônico] / Rafael Saraiva Lapuente; Rafael Ganster; Tiago Arcanjo Orbem (orgs)- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017. in: http://www.editorafi.org

GADAMER, Hans-Georg. Problemas epistemológicos das ciências humanas. In FRU- CHON, Pierre (org) O Problema da consciência histórica. Rio de Janeiro. Editora da fundação Getúlio Vargas, 1998.

KOSSELECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição a semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto/Editora PUC Rio, 2006.


RÜSEN, Jönr. Historicidade e a consciência histórica. In SCHMIDT, Maria Auxiliadora, BARCA, Isabel e RESENDE, Estevão. Jönr Rüsen e o ensino de história. Martins- Curitiba Ed UFPR, 2011. Pp 7- 40.



2 comentários:

  1. Joelma da Costa Aranha Hortêncio10 de abril de 2019 às 17:14

    Em primeiro lugar parabéns pelo trabalho.
    Vivemos em uma sociedade em constante transformação, nesse contexto é importante que o professor seja criativo e utilize práticas didáticas inovadoras, que contribuam para despertar o interesse dos alunos e consequentemente, mediar a aprendizagem. Nesse sentido, qual o papel das novas tecnologias no processo de consolidação do conhecimento histórico?

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    1. Boa noite Joelma. Obrigado pela pergunta.
      Irene Melo de Carvalho em 1987 em seu livro O processo didático, já salientava, “É
      necessário considerar que o emprego de computadores e de maquinas cibernéticas deverá alterar
      profundamente a vida escolar, os conceitos de ensino e até talvez, o problema dos fins do ensino”,
      Carvalho (1987, p.337, apud Rocha, 2015, p. 111,112). Quase uma profecia, Carvalho sintetizou o
      que vem acontecendo atualmente. Porem é preciso, e nesse trabalho estamos nos propondo, sem
      perspectiva de esgotar a discussão, muito ao contrário, ciente dos limites, discutir em que medida os
      professores de História podem utilizar essas tecnologias na proposição de que sejam
      coadjuvantes no protagonismo dos alunos na construção de conhecimento histórico. Portanto entendemos que o uso das tecnologias pode ser um meio de alcançarmos o objetivo principal que é, para além da transposição didática de conteúdos, a construção de conhecimento, principalmente partindo da história local, do cotidiano do educando e por intermédio de suas próprias narrativas chegar a um conhecimento histórico que faça sentido na vida do aluno.
      Nesse sentido pretendemos as novas tecnologias como os aplicativos, como facilitador no processo ensino aprendizagem. Entendendo os aplicativos que se propõem a ensinar história na rede, para que possamos criar nosso próprio aplicativo voltado para nossa história local ( Ilha de Outeiro- Belém PA).
      Estamos trabalhando nisso.
      Obrigado mais uma vez. Espero ter respondido.

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