Métodos alternativos para o ensino
Trabalhos relacionados a métodos e
didáticas para o ensino de história, baseados em fontes alternativas, como música,
quadrinhos, filmes, jogos eletrônicos, rede sociais e outros, vêm se tornando
cada vez mais comuns. Certamente, tais pesquisas refletem diretamente nas salas
de aulas, onde os professores podem lecionar de uma forma diferente da
tradicional. Entretanto, segundo Bento (2015), para alcançar o processo de
aprendizagem é necessário que o professor esteja atualizado acerca dessas novas
temáticas, para que seja possível o correto direcionamento do aluno a novas
ideias, pois esse é o sujeito no desenvolvimento de consciência histórica do
aluno.
“Atualmente, vêm-se discutindo
importantes questões acerca do ensino de História no Brasil, seus desafios,
limites e, principalmente, como melhorar seu desenvolvimento prático na sala de
aula. Num contexto onde a educação passa por vários problemas estruturais, suas
práticas precisam ser repensadas e melhor adaptadas.” (PIRES; SOUZA, 2010,
P.1).
Bento (2015), em sua análise de
obras de importantes educadores como, “Ensinar História”, de Maria Auxiliadora
Schmidt e Marlene Cainelle; “Ensino de História: Fundamentos e Métodos” e “O
Saber histórico na sala de aula” de Circe Bittencourt, afirma que o educador deve ir mais além do que
é proposto pelos currículos tradicionais, levando em consideração as vivencias dos
alunos. Nessa lógica, segundo o autor, o ensino de história na atualidade deve
ser abrangente, incluindo as diferentes mentalidades e grupos sociais, a fim de
auxiliar na composição da consciência histórica de grupos e indivíduos.
Nesse sentido, Bento (2015) dialoga,
também, com a obra “Novos temas nas aulas de História”, de Carla Bassanezi Pinsky,
a qual apresenta temas e conteúdos atuais para novas abordagens em sala de
aula, como a questão de gênero, cultura, direitos humanos, tecnologia e outros,
de modo a despertar maior interesse dos alunos e uma melhor contextualização
com a sua vida social. Portanto:
“Nessa obra a autora fala da
necessidade de construção de uma nova roupagem para as aulas de história, que
revelam questões que competem à atualidade e que se não estão inseridas nas
salas de aulas, deveriam estar, revelando uma renovação na proposta de ensino
que deverá partir do intuito de promover mudanças para que os alunos sejam
capazes de no mínimo compreenderem seus cotidianos a partir de uma reflexão
histórica.” (BENTO, 2015, P. 6).
Dessa forma, dentro das novas
possibilidades de ensino, o futebol pode ser uma ferramenta de auxilio para o
aprendizado, uma vez que além de ser o esporte mais popular do país, está presente
no dia a dia de boa parte da população e muitos clubes de futebol têm em sua
origem ligações com o processo histórico do país, mais precisamente durante o
século XX. O fato de existirem diversos trabalhos acadêmicos que usam o esporte
bretão como objeto de pesquisa, torna o desenvolvimento desse método possível.
Sendo assim:
“O futebol é um assunto que geralmente
nos remete a inúmeras indagações sobre os mais diversos aspectos da sociedade
brasileira. A profissionalização do jogador, o racismo, a questão de gênero, a
relação do brasileiro com o corpo, os esportes nas fábricas, a estruturação do
campo esportivo no inicio do século XX são alguns dos temas já abordados por
outros autores.” (SOUZA, 2008, P. 12).
No entanto, para usar o futebol em
sala de aula é importante uma fazer uma breve análise de algumas obras e
trabalhos acadêmicos de autores que usam o esporte como objeto de pesquisa, com
vista em levantar uma base teórica para servir de auxilio para o professor, que
poderá verificar qual a melhor forma de abordar o tema.
O Futebol como temática de pesquisa
Dentre
os autores que usaram o futebol para desenvolver o seu trabalho estão: Hilário
Franco Junior, autor de “A dança dos deuses. Futebol, sociedade, cultura”;
Adriano de Freixo, com a obra “Futebol – o outro lado do jogo”; Denaldo Alchone
de Souza, autor de “O Brasil entra em campo: construções e reconstruções da identidade
nacional (1930 – 1947)”; Marcos Guterman, autor de “O futebol explica o Brasil
– uma história da maior expressão popular do país”.
Em relação à obra de Hilário Franco
Junior, Santos (2008) entende que o futebol não só é um dos espelhos da
sociedade, como também um dos maiores fenômenos contemporâneos e que o mundo moderno
pode ser melhor compreendido através do mesmo. Dessa forma “o autor vai
demonstrar como o futebol reflete aspectos sociológico, antropológico,
religioso, psicológico e linguístico” (SANTOS, 2008, P. 238).
Analisando a obra de Adriano de
Freixo, Rodrigues (2014) verifica que o historiador apresenta argumentos de
como e porque o futebol pode ser usado para compreender questões politicas como
nacionalismo, regimes autoritários, diplomacia e guerra, entre outros. Sendo
assim, “o livro de Freixo, no entanto, além de qualquer efeméride, leva a sério
a articulação entre futebol e política: politiza o futebol e “futeboliza” a
política [...]” (RODRIGUES, 2014, P.5)
No tocante à obra de Denaldo Achone
de Souza, “O Brasil entram em campo: construções e reconstruções da identidade
nacional (1930 – 1940)”, o autor aborda a questão do futebol brasileiro no
período que compreende o Estado Novo, analisando o esporte como uso politico de
Vargas, a ligação de dirigentes de clubes e federações com homens do governo,
bem como a identidade nacional que se buscava construir. A exemplo:
“Para o governo, mais importante que
as vitórias dos jogadores na Europa era o entusiasmo que atingia todos os
cidadãos, fossem eles ricos ou pobres, negros ou brancos. Mais do que uma
representação positiva da harmonia social, o entusiasmo pelo futebol combinava
o nacionalismo e o orgulho cívico, tão defendidos pelo Estado Novo. Era preciso
incentivar e controlar essa forma de manifestação social.” (SOUZA, P. 70)
Já na obra de Marcos Guterman,
segundo Ferreira (2010) é analisado o período entre 1894 até a Copa do Mundo de
2002, incluindo a chegada do futebol no Brasil, a popularização do esporte, os
primeiros clubes, a questão do negro e o envolvimento politico em todos esses
anos. No período militar, mais especificamente no contexto da Copa do Mundo de
1970:
“Guterman empreende boa seleção e
hierarquização de informações, contrastando fontes e colocando indagações
importantes que fazem parte do métier d’ histórien. É o que acontece, por
exemplo, quando o autor aborda o envolvimento entre o governo Emílio Garrastazu
Médici (1969-1974), a Seleção Brasileira e a Confederação Brasileira de
Desporto (CBD), o Serviço Nacional de Informações (SNI) e a Assessoria Especial
de Relações Públicas (Aerp), por conta da tentativa de transformar o Brasil na
“pátria de chuteiras”, capaz de ajudar o Estado naquilo que era uma das suas
maiores ambições: afirmar o valor do brasileiro para o mundo e para si mesmo,
através da seleção de futebol.” (FERREIRA, 2010, P. 406).
Para uma
compreensão do nacionalismo, seus símbolos e suas representações, vale citar a
obra “Invenção das tradições”, do historiador Eric Hobsbawm, a qual contribui não
só para um maior entendimento sobre tais questões, mas também a forma como o
futebol se relaciona ou se torna uma consequência dessas situações. Tomando como
exemplo a Inglaterra:
“O termo “tradição inventada” é
utilizado num sentido amplo, mas nunca indefinido. Inclui tanto as “tradições” realmente
inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que
surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e
determinado de tempo - às vezes coisa de poucos anos apenas - e se
estabeleceram com enorme rapidez. A transmissão radiofônica real realizada no
Natal na Grã-Bretanha (instituída em 1932) é um exemplo do primeiro caso; como
exemplo do segundo, podemos citar o aparecimento e evolução das práticas
associadas à final do campeonato britânico de futebol. É óbvio que nem todas
essas tradições perduram; nosso objetivo primordial, porém, não é estudar suas
chances de sobrevivência, mas sim o modo como elas surgiram e se
estabeleceram.” (HOBSBAWN, 1997, P. 9).
Esses são apenas alguns exemplos de
autores e obras do campo da história, que usam a temática do futebol como
objeto de estudo. Há pesquisadores de outras áreas que também usaram a mesma
temática para desenvolver seus trabalhos, como o antropólogo Roberto daMatta,
autor de “Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira”. Portanto, fica evidente
a vasta produção no campo acadêmico, fato que auxilia na abordagem da temática
em sala de aula. O futebol, assim como a música, cinema e artes, por exemplo,
se relaciona e sofre consequências do contexto de cada época, sendo possível
seu uso no ensino de história.
Práticas em sala de aula
Tendo
como base o referencial curricular da rede estadual de ensino de Mato Grosso do
Sul, foram selecionados temas, oriundos dos conteúdos programáticos do terceiro
ano do ensino médio, com o objetivo de relaciona-los com a temática do futebol.
Nessa lógica, do primeiro bimestre selecionou-se o conteúdo “Estados
Totalitários”; do segundo bimestre
usou-se a “Era Vargas”, “Ditadura Militar” e “Redemocratização no Brasil”; do
terceiro bimestre o tema “Conflitos Mundiais”.
Em relação à matéria do primeiro
bimestre, “Estados Totalitários”, poderá ser realizada uma contextualização da
mesma com o futebol, uma vez que os governos totalitários usaram alguns clubes
para se promoverem e alavancar o nacionalismo. São exemplos: o regime fascista
italiano com o clube da Lazio, cuja torcida organizada é adepta, nos dias
atuais, de ideologias fascistas; o governo nazista e sua perseguição ao Bayern
de Munique, que foi um dos únicos clubes alemães que resistiu ao regime;
Francisco Franco com o uso do Real Madrid para fazer uma propaganda de seu
governo na Espanha. Sobre esse último, sugere-se a apresentação do documentário
de Carles Torras chamado “O Madrid Real – A lenda negra da glória branca”, que
evidencia como Franco influenciou na contratação de jogadores e de jogos, de forma
a fortalecer a equipe e fazer propaganda de seu regime.
Já para os conteúdos do segundo
semestre, a “Era Vargas” se relaciona com o futebol por meio de uma propaganda
do país, na tentativa de criar uma identidade nacional, onde cada vitória da
seleção brasileira representava uma vitória do povo, um novo Brasil que é
apresentado para o mundo, como aponta Souza (2008). Na questão da Ditadura,
pode ser explorada a relação do governo com a seleção brasileira durante os preparativos
para a Copa de 1970, pois, como verifica Chaim (2014) a vitória da seleção
brasileira no mundial era fundamental, uma vez que o país estava no auge dos
anos o chumbo, período do Ato Inconstitucional número 5, e uma derrota da
seleção poderia aumentar a impopularidade do governo. Tanto na Era Vargas
quanto na Ditadura Militar, a questão da propaganda também pode ser explorada,
pois:
“A propaganda seria a sua função ao
poder do Estado - como se pode ver no Brasil nos anos de domínio autoritário do
Estado Novo e posteriormente do Regime Militar - que se destacaram pelo
compromisso com a difusão do esporte, com formas o fomento da
profissionalização, na construção de grandes praças desportivas, no subsídio
aos ingressos populares, na capitulação política dos grandes atletas e na
intervenção políticas das entidades, por exemplo.” (SANTOS, P. 7)
Na questão da redemocratização, ao estudar
as Diretas Já, é possível analisar a Democracia Conrinthiana, movimento criado
pelos jogadores do clube que visavam à luta pela democracia, tanto no
Corinthians como no próprio Brasil:
“Geralmente se elenca os jogadores
Sócrates, Casagrande, Zenon, Juninho, Wladimir e Biro-Biro como protagonistas
da abertura, mas não obstante todo espírito coletivo, não é possível negar o
papel destacado de Sócrates. Em 1983/84, ele se engajou ativamente na campanha
pela eleição direta do presidente (Diretas Já!) que mobilizava o Brasil e
exigia democracia. Na realização de suas ideias, os jogadores contaram também
com a ajuda do jovem publicitário Washington Olivetto. Ele ficou sabendo dos
eventos no Corinthians e criou o nome Democracia Corinthiana, uma “marca”
perfeita. Também o lema “Ser campeão é detalhe”, atribuído a Sócrates,
comprova-se até hoje como uma síntese genial do espírito daquele tempo.”
(FATHEUER, 2014, P.70).
No terceiro semestre, em relação a
conflitos mundiais, podem ser utilizadas algumas partidas com alto nível de
rivalidade para contextualização, sendo elas: Barcelona contra Real Madrid, que
representa a independência catalã contra a coroa espanhola; a extrema
rivalidade e violência que ocorre em partidas entre países que formaram a Iugoslávia,
como Sérvia contra Albânia, ou em disputa com a Croácia, devido à guerra dos
Balcãs nos anos 90 e à dissolução da Iugoslávia. Vale destacar a questão de
Israel, que mesmo estando localizado no continente asiático, disputa
campeonatos europeus, seja de seleção ou de clubes, por conta dos conflitos com
os países vizinhos. Não raro aparecem referências sobre os conflitos de tais países
dentro de campo, seja na comemoração de algum jogador após marcar gol ou nas
manifestações da torcida.
Existem outros vários conteúdos que
podem ser explicados pelo ponto de vista do futebol, no entanto os temas
apresentados deixam essa relação mais evidente. Na prática podem surgir alguns
problemas para a aplicação dessa ferramenta no ensino de história, em sala de
aula, pois nem todos os alunos se interessam pelo esporte e alguns podem sentir
certa dificuldade em acompanhar. Contudo, a proposta é apresentar uma nova
ferramenta para o ensino de história, que contextualize temas do passado que
estão ligados mesmo que indiretamente com o dia a dia dos alunos, através do futebol,
com o objetivo de não só facilitar o aprendizado, mas também despertar o
interesse pela disciplina.
Referências
Guilherme
Henrique da Luz Oliveira é graduado em história pela Universidade Católica Dom
Bosco
BENTO, L. C. O saber histórico e o ensino de história:
uma reflexão sobre as possibilidades do ensino escolar da história. Fato
& Versões-Revista de História, v. 5, n. 10, 2015. Disponivel em <http://www.trilhasdahistoria.ufms.br/index.php/fatver/article/view/1301>
. Acesso em: Fevereiro de 2019.
CHAIM, A. R. M. A bola e o chumbo: futebol e política nos anos de chumbo da
Ditadura Militar Brasileira. 2014. 163 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento
de Ciências Políticas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
DAMATTA, R. Universo do futebol:
esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2008.
FATHEUER, T. 1968 – 1984: da militarização do futebol até a Democracia
Corinthiana. In: Dilger, G. Resistencias
no pais do futebol: a copa em contexto. São Paulo. Fundação Rosa
Luxemburgo. 2014. Disponivel em: <https://rosaluxspba.org/wp-content/uploads/2015/05/FRL_Fussball-ebook.pdf>
Acesso em: Fevereiro de 2019.
FRANCO J.H. A Dança dos deuses: futebol, sociedade, cultura. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007. 433p. Resenha de: DOS SANTOS, F. X. Estudos de
Sociologia - ISSN: 2317-5427, [S.l.], v. 2, n. 14, p. 237-239, mar. 2014. ISSN
2317-5427. Disponível em: <https://periodicos.ufpe.br/revistas/revsocio/article/view/235348/28343>.
Acesso em: fevereiro de 2019.
FREIXO, A. Futebol: o outro lado do jogo. São Paulo: Desatino, 2014, 121 p.
Resenha de: Rodrigues, T. Revista contemporânea – Dossiê História e Esporte –
ISSN: 2236-4846, v. 2, n. 4, 2014. Disponível em: < <http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/9._resenha_futebol-arte_futebol-forca.pdf>.
Acesso em: fevereiro de 2019.
GUTERMAN, M. O futebol explica o Brasil – Uma história da maior expressão
popular do pais. São Paulo: Contexto, 2009. v,1, 270 p. Resenha de: Ferreira,
J. F. Revista de História, São Paulo, n. 163, p. 403-408, jul./dez. 2010.
Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/64883/67498>.
Acesso em: fevereiro de 2019.
HOBSBAWN, E; RANGER, T. A Invenção das tradições. 5.ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1997.
SANTOS, I. S. O Futuro da torcida: midiatização, mercantilização do futebol e
resistência torcedora. IN: XXXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIENCIAS DA
COMUNICAÇÃO – INTERCOM, 2015, Rio de Janeiro, Anais... Rio de Janeiro, 2015.
SOUZA, D. A. O Brasil entra em campo – Construções e reconstruções da identidade
nacional (1930 – 19470). 1. ed. São Paulo: ANNABLUME EDITORA, 2008.
SOUZA, R. J. de; PIRES, J. R. F. Os desafios do ensino de História no Brasil. Professores
em Formação: ISEC/ISED, n. 1, 2010.
TORRAS, C. O Madrid real. A lenda negra da glória branca [Filme-Vídeo]
Duração: 51 min. Produção: TV3, s/d.
.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeus cumprimentos pelo texto.
ResponderExcluirUma pergunta: Os conceitos que o historiador possui sobre determinado periodo examinado não influenciam a análise do aspecto esportivo desse mesmo período, a fim de justificar uma tese preestabelecida?
Obrigado.
Att,
Rodrigo Jacomo Teixeira
Boa noite, Rodrigo. Agradeço pela leitura e pela pergunta.
ExcluirEm resposta a sua pergunta, pode sim haver influência. O futebol como meio de análise da história ainda é recente, portanto não existe uma grande abrangência de pesquisas que envolvam um mesmo evento e sua relação com o período em questão, impossibilitando um debate de ideias. Para exemplificar: as pesquisas que abordam a questão de Francisco Franco e o Real Madrid, em geral, não apresentam informações completamente distintas. Mas o que os defensores do regime ou torcedores do clube expressam a respeito? Provavelmente uma pesquisa que aborde esses pontos de vistas apresentará uma conclusão distinta.
Obrigado!
Att,
Guilherme Henrique da Luz Oliveira
Boa noite Guilherme, parabéns pelo texto. Gostaria de saber como você compreende a utilização do futebol no Brasil dos dias atuais tendo como base os exemplos oriundos do século passado onde fica clara a ação do aparato estatal visando se beneficiar do esporte para a propagação de seus ideais e valores pelo país?
ResponderExcluirLucas Yashinischi Batista
Bom dia, Lucas. Obrigado pela leitura e pergunta.
ResponderExcluirNa atualidade, principalmente no pós-copa de 2014, o futebol é usado por forças politicas de uma forma distinta das do passado. O Estado compreende a capacidade de mobilização a favor de seu projeto como também de oposição. Nesse sentido, questões como elitizações dos estádios, perseguição e proibições das torcidas organizadas e a difusão da ideia que politica em futebol não se misturam, fazem parte dessa nova forma de usar o esporte. Pode parecer contraditório, mas é uma forma de conter possíveis oposições ou manifestações contrarias a algum projeto. Claro que governos e federações de futebol anunciam tais medidas como uma forma de oferecer conforto e segurança ao torcedor, porem, uma analise dos torcedores presentes nas novas arenas, percebe-se uma brusca mudança de perfil, um perfil de “torcedor-consumidor/cliente”. Essa é uma pratica recente no Brasil, mas já ocorre desde os anos 90 na Europa, sendo a Inglaterra o percursor.
Obrigado.
Att,
Guilherme Henrique da Luz Oliveira.
Ótimo texto, Guilherme! Como bom vascaíno sempre faço questão de falar aos meus colegas e alunos a importância social que o clube teve na década de 20, com a inclusão de negros e operários. Admirador também do futebol argentino sempre tive muita curiosidade de entender a relação do futebol e da ditadura por lá, já que no período da ditadura aconteceu também a copa do mundo na Argentina. E o pensamento de promover a propaganda assim como para os militares no Brasil, como você colocou no texto, também foi utilizado na Argentina. Alguns dias atrás ocorreu uma manifestação de todos os clubes argentinos o "Nunca Más". O meu questionamento parte desse ponto. Em vários países o futebol está sempre relacionado as questões sociais e políticas, já aqui no Brasil nos dias atuais normalmente só em alguns casos relacionam com a questão da violência, portanto, como você interpreta a omissão de diversos elementos do futebol (times, jogadores, por exemplo) em acontecimentos sociais e políticos importantes no país? Na sua visão, ao que se deve essa adormecida capacidade de manifestação no futebol por aqui? Creio que se houvesse alguma ação, refletiria na forma de pensar politicamente da sociedade que consome. Existe algum clube que foi duramente perseguido na ditadura militar no Brasil como existem casos de atletas de outros esportes e artistas?
ResponderExcluirGrato!
Italo Raionny Teixeira Silva
raionnyteixeira@hotmail.com
Boa noite, Ítalo. Obrigado pelas suas palavras. O Vasco realmente possui uma grande história na questão social, bem como o Bangu. Em resposta a sua pergunta, acredito que seja pela ideia difundida de que o futebol não é lugar para política e apena um entretenimento. Clubes tem o receio de perder "clientes" (novos torcedores de arena). Oi Entretanto, o futebol é um reflexo da sociedade. Dos poucos posicionamentos políticos, quase todos foram em apoio ao candidato que agora é presidente do país, como no caso do Felipe Melo e o Atlético Paranaense. Em relação a ditadura, no geral, os clubes mantiveram boa relação com o governo, e não é impossível pensar que seus atuais dirigentes sejam apoiadores do regime. Onde a arena vai mal, mais um time no nacional, frase que ficou famosa no período. Não conheço algum clube que sofreu perseguição, é uma ideia de pesquisa interessante para ser realizada. Mas arrisco dizer que certamente algum clube menor tenha sofrido, mas que infelizmente não foi difundida. Porém alguns jogadores sofreram perseguição, como no caso do irmão do Zico e o técnico João Saldanha, demitido da seleção por conta da sua oposição ao regime.
ResponderExcluirObrigado!
Guilherme Henrique Luz Oliveira